Joana D Arc Vaz e Almir Sandro Rodrigues


A EDUCAÇÃO BRASILEIRA NA ATUALIDADE: UM OLHAR NA PERSPECTIVA DA PEDAGOGIA DO OPRIMIDO DE PAULO FREIRE


Introdução

“Não há amanhã sem projeto, sem sonho, sem utopia, sem esperança, sem o trabalho de criação e desenvolvimento de possibilidades que viabilizem a sua concretização. [...] O meu discurso em favor do sonho, da utopia, da liberdade, da democracia é o discurso de quem recusa a acomodação e não deixa morrer em si o gosto de ser gente, que o fatalismo deteriora” (FREIRE, 2018, p. 77-78).

Este texto é uma breve síntese de estudos dos autores sobre as obras de Paulo Freire. Nesta ocasião, os 50 anos da Pedagogia do Oprimido. O grande educador brasileiro Paulo Freire possibilita pensarmos a Educação na atualidade, buscando compreender os caminhos por onde ela constrói seus projetos de mundo. Nosso intuito é debater o pensamento de Freire buscando analisar os problemas educacionais de nosso tempo atual, percebendo a politicidade, a educabilidade do processo político brasileiro.

Antes de tudo, para atualizar o pensamento de Paulo Freire, faz-se necessário despir de preconceitos e equívocos construídos ao longo da história, sobretudo o reducionismo de sua teoria a um simples método de ensino. O fato de reduzi-lo a apenas um educador que desenvolveu um método para trabalhar com a educação de adultos nos anos de 1960, reside ai uma estratégia política das classes dominantes de obscurecimento de sua principal proposta e, arriscamos afirmar, que seu maior objetivo foi o de munir os trabalhadores e oprimidos de conhecimentos que proporcionasse a libertação das classes trabalhadoras de seus opressores.

Para Freire, o ato de alfabetizar é muito mais que tão-somente codificar e decodificar letras e sons, pois alfabetizar é um ato criador. As palavras deveriam ser criadas, inventadas e não doadas. Nesse processo, existem dois sujeitos históricos denominados de professor-educando que, enquanto sujeitos, não só transferem ou recebem conhecimentos, mas que são capazes de transformá-los e reinventá-los, consequentemente transformando ou buscando formas para transformar as relações sociais alicerçadas no escravismo, na dominação e alienação. Nesse sentido que propusemos discutir suas contribuições para a construção de estratégias na luta por uma educação que possibilita o pensamento crítico, a liberdade, a dialogicidade e não à lei da mordaça como reivindica o projeto lei  867/2015 que refere-se ao projeto “Escola sem partido” que está em andamento no Brasil.

Contribuições de Paulo Freire para a Educação brasileira do século XXI: por uma educação que promova a criticidade e a dialogicidade

As contribuições de Paulo Freire para pensarmos a educação brasileira atual são extremamente importantes para olharmos o processo da conjuntura nacional e internacional e compreendê-las na perspectiva de intensas lutas de classes.

Leher (2018) salienta que no plano do discurso ideológico dominante as lutas de classe são questões que ficaram num passado remoto e que hoje não mais abarcam o conjunto das classes trabalhadoras, reafirmando ser estas lutas, fragmentadas e identitárias, ou melhor, focalizadas; e, no campo educacional a burguesia disputa ativamente para a implementação de seus projetos amortecendo as lutas de educadores e estudantes que propõe uma escola ou uma universidade que seja pública, universal, gratuita e de qualidade.

Acerca das políticas educacionais, da Educação de modo geral, tem propiciado a compreensão de que ela vem desempenhando uma função importante, como estratégia de formação das classes trabalhadoras brasileiras. Dessa maneira, tecemos análises que evidenciam o quanto que a Educação está sendo posta no âmbito da formação de capital humano (SCHULTZ, 1969), da empregabilidade, de formação para o empreendedorismo e de “indivíduos livres” disponíveis para o mercado.

A apreensão da própria dinâmica do capital-imperialismo que, no Brasil e nos países subalternos, se utiliza estrategicamente do próprio Estado, que depende da ajuda e dos empréstimos externos, assim como a burguesia brasileira, que se alia às burguesias internacionais, para expropriar brutalmente as populações e para a implementação dos projetos de expansão das relações sociais capitalistas.

A política educacional nessa sociedade é pautada na agenda do capital para a educação e vem cumprindo a função ideológica no processo de expansão das relações sociais capital-imperialistas. Podemos nos atentar para a operacionalização das classes dominantes no campo educacional traduzidas pelas reformas e projetos aprovados ou em aprovação. Como observa-se nesse cenário, projetos que estão sendo aprovados pelo governo nos últimos anos e, sobretudo, no governo de Michel Temer e de Jair Bolsonaro, que atacam severamente a autonomia das instituições educacionais públicas (Educação Básica e Ensino Superior), a criminalização de educadores e funcionários públicos, o projeto lei “Escola sem Partido”, militarização das escolas públicas, a tentativa de extinção dos cursos ligados à área das ciências humanas e sociais, a reforma da previdência em curso fortemente marcada pelo ataque ao funcionalismo público e às classes trabalhadoras de maneira geral. Destaca-se como afronta à Educação brasileira pública a ameaça constante de retirada do educador Paulo Freire como patrono da Educação.

A conjuntura atual da educação (e outros campos da sociedade brasileira) apontam para não somente o resgate de uma “educação bancária”, mas sua ressignificação com novas fórmulas de sucateamento e obscurecimento da classe trabalhadora e dos profissionais nas áreas da educação. As análises freireanas realizadas na época (50 anos atrás) sobre a educação denominada bancária se tornam muito atuais no que percebemos nos discursos da “Escola sem Partido” e dos projetos de educação. De fato, nessa concepção, o conhecimento é algo que por ser imposto, passa a ser absorvido passivamente, aonde Freire (1975, p. 67) comenta que: 

“Na visão bancária da educação, o ‘saber’ é uma doação dos que se julgam Sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão – a absolutização da ignorância, que constitui o que chamamos de alienação da ignorância, segundo a qual esta se encontra sempre no outro”.

Freire reforça que na perspectiva da “educação bancária” os sujeitos envolvidos na educação apresentam um papel muito bem determinado, que podemos dizer como sendo  seres a-históricos. Comenta que:

“Na concepção ‘bancária’ que estamos criticando, para a qual a educação é o ato de depositar, de transferir, de transmitir valores e conhecimentos, não se verifica nem pode verificar-se esta superação. Pelo contrário, refletindo a sociedade opressora, sendo dimensão da ‘cultura do silêncio’, a ‘educação bancária’ mantém e estimula a contradição” (FREIRE, 1975, p. 67).

Nesse sentido, o processo de resgatar e repensar as contribuições freireanas para a construção de estratégias na luta por uma educação que além de possibilitar o pensamento crítico, a politicidade, a liberdade, a dialogicidade, deve refletir sobre a questão de como a educação e seus sujeitos constroem a autonomia, a capacidade de transformação de seu locus e das estruturas em que vivem e convivem. Freire (2002, p. 145-146), em sua obra Pedagogia da Autonomia, explicita esse desafio, pois:

“Nenhuma teoria da transformação político-social do mundo me comove, sequer, se não parte de uma compreensão do homem e da mulher enquanto seres fazedores da história e por ela feitos, seres da decisão, da ruptura, da opção. (...) Tenho afirmado e reafirmado o quanto realmente me alegra saber-me um ser condicionado, mas capaz de ultrapassar o próprio condicionamento. A grande força sobre que alicerçar-se a nova rebeldia é a ética universal do ser humano e não a do mercado, insensível a todo reclamo das gentes (...). É a ética da solidariedade humana”.

A solidariedade pode ser explicada de diversas formas, onde sua base é a ideia de relação e interdependência, assistência recíproca, o companheirismo, o estar com o outro e pensar no outro, construir com o outro, decidir com o outro em função do conjunto e sem deixar de lado as individualidades, mas contrapondo-se a uma visão individualista fundamentada em valores de competitividade característicos do mundo do capital.

Pode ser identificada nessa dinâmica da solidariedade, forte influência dos movimentos sociais vinculados em vários campos de luta e resistência, assim como da educação popular expressa na pedagogia de Paulo Freire. Nessa perspectiva, é importante perceber que as relações sociais necessariamente devem ser transformadas e as dinâmicas de trabalho devem ser repensadas quando se busca a solidariedade como característica fundamental nas alternativas estratégicas de reprodução social. As estruturas de sociedade e as relações sociais deixam de ser pensadas apenas do ponto de vista puramente econômico (produtividade ou consumo material) e uma ampliação dos olhares passa a ser fundamental.

O estudo das dinâmicas e dimensões da educação passa pela compreensão das relações sociais que nela se dão e que dela se estabelecem com o meio que a cerca e a integra. Dimensões de cunho socioeconômico, bem como o reconhecimento das culturas locais e dos saberes historicamente construídos, passam a ser elementos estruturantes de uma proposta político-pedagógica libertadora, para além de suas dimensões puramente técnicas ou metodológicas.

A construção das proposições de luta e resistência passam pelo reconhecimento de alternatividades no campo da educação – os saberes das classes trabalhadoras se impõem ao saber externo, dos “especialistas” (quer de empresas, quer do governo ou de instituições técnicas nacionais ou internacionais), e no âmbito das classes trabalhadoras pode se gestar uma nova forma de reciprocidade e solidariedade, através do papel de uma educação libertadora imbricada pela dialogicidade.

“A importância do ponto de vista de uma educação libertadora, e não ‘bancária’, é que, em qualquer dos casos, os homens se sintam sujeitos de seu pensar, discutindo o seu pensar, sua própria visão do mundo, manifestada implícita ou explicitamente, nas suas sugestões e na de seus companheiros. Porque esta visão da educação parte da convicção de que não pode sequer presentear o seu programa, mas tem de buscá-lo dialogicamente com o povo, e que se inscreve como uma introdução à Pedagogia do Oprimido, de cuja elaboração deve ele participar” (FREIRE, 1975, p. 141).

As estratégias político-pedagógicas que incorporam o processo libertador e emancipador de cada sujeito e suas relações com os grupos e com a sociedade, está diretamente correlacionado com não somente o domínio da linguagem escrita, mas de todo o processo de se autoreconhecer como autor e coautor de sua história. Na obra “A importância do ato de ler”, Freire (1989, p. 13) destaca essa construção da alfabetização nos seus aspectos de criticidade e dialogicidade, não mais na perspectiva do “opressor” – o ato criador é expressão da liberdade:

“[...] seria impossível engajar-me num trabalho de memorização mecânica dos ba-be-bi-bo-bu, dos la-le-li-lo-lu. Daí que também não pudesse reduzir a alfabetização ao ensino puro da palavra, das sílabas ou das letras. Ensino em cujo processo o alfabetizador fosse ‘enchendo’ com suas palavras as cabeças supostamente ‘vazias’ dos alfabetizados. Pelo contrário, enquanto ato de conhecimento e ato criador, o processo da alfabetização tem, no alfabetizando, o seu sujeito. O fato de ele necessitar da ajuda do educador, como ocorre em qualquer relação pedagógica, não significa dever a ajuda do educador anular a sua criatividade e a sua responsabilidade na construção de sua linguagem escrita e na leitura desta linguagem. Na verdade, tanto o alfabetizador quanto o alfabetizando, ao pegarem, por exemplo, um objeto, como laço agora com o que tenho entre os dedos, sentem o objeto, percebem o objeto sentido e são capazes de expressar verbalmente o objeto sentido e percebido. [...] A alfabetização é a criação ou a montagem da expressão escrita da expressão oral. Esta montagem não pode ser feita pelo educador para ou sobre o alfabetizando. Aí tem ele um momento de sua tarefa criadora”.

Para Freire o processo de alfabetização, compreendido no campo da totalidade, abarca para além da leitura e da escrita, pois estes atos são expressões da própria realidade histórica e social dos sujeitos. O autor destaca que o modelo em que as escolas trabalham com o currículo centrado em disciplinas acadêmicas pressupondo a separação dos sujeitos de seus objetos de estudo, gerando uma prática na qual os conteúdos trabalhados se apresentam descontextualizados e, por vezes, alienantes, dissociando o processo de construção do conhecimento da aprendizagem e dos contextos em que são produzidos:

“Conhecer, na dimensão humana, [...] não é o ato através do qual um sujeito, transformado em objeto, recebe, dócil e passivamente, os conteúdos que outro lhe dá ou impõe. [...] O conhecimento, pelo contrário, exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo. Requer sua ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca constante. Implica em invenção e em reinvenção. Reclama a reflexão crítica de cada um sobre o ato mesmo de conhecer, pelo qual se reconhece conhecendo e, ao reconhecer-se assim, percebe o ‘como’ de seu conhecer e os condicionamentos a que está submetido seu ato. [...] Conhecer é tarefa de sujeitos, não de objetos. E é como sujeito, e somente enquanto sujeito, que o homem pode realmente conhecer” (FREIRE, 1992, p. 27).

Essa prática hegemônica burguesa funda-se na ética educacional efetivamente implementada no modelo eurocêntrico moderno, balizadora da pedagogia que concebe o “não-europeu” como o “não-ser”, ou, em outras palavras, um “não eu” que necessita de “adestramento” pedagógico, visando à formação de um adulto adestrado, adaptado à sociedade. Contudo, a Educação vivenciada por Freire assume a promoção dos processos de emancipação humana, nutrindo os sujeitos de conhecimentos e saberes que ultrapassam a realidade social já posta pelo modelo de produção capitalista vigente. Desse modo, Freire (1975) afirma que a educação rompe com a domesticação pelo ato de aprender e ensinar numa relação dialética desde que tenham agentes ativos [educador educando] que disponham perante a realidade que os cerca construindo um saber envolvido com a multiplicidade popular.


tecendo considerações

Freire propõe aos educadores um projeto de educação fundamentado em círculos formativos que objetiva a promoção de práticas com princípios pedagógicos como a dialogicidade, a liberdade, a construção coletiva e a efetiva participação dos sujeitos, contrapondo a educação implementada e em curso no Brasil. Em “A Educação como prática da Liberdade” Freire (1986, p. 142) desenvolve uma reflexão epistemológica e político-pedagógica sobre o papel de democratização da Educação, esclarecendo que:

“Esta situação apresenta um Círculo de Cultura funcionando. Ao vê-la, facilmente se identificam na representação. Debate-se a cultura como aquisição sistemática de conhecimentos e também a democratização da cultura dentro do quadro geral da ‘democratização fundamental’. [...] ‘A democratização da cultura’, disse certa vez um desses anônimos mestres analfabetos, ‘tem de partir do que somos e do que fazemos como povo. Não do que pensem e queiram alguns para nós’. Além desses debates a propósito da cultura e de sua democratização, analisava-se o funcionamento de um Círculo de Cultura, seu sentido dinâmico, a força criadora do diálogo, o aclaramento das consciências”.

O formato da sociedade brasileira atual é marcado por um desenvolvimento econômico desigual onde prevalece a superexploração do trabalho e profundas expropriações primárias e secundárias. Temos os setores da burguesia brasileira alinhados aos interesses das burguesias internacionais e de seus organismos multilaterais como o Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), dentre outros.

Desse modo, consolidam projetos de educação, visando a difusão de suas ideologias, sobretudo a formação de capital humano com ampliação do exército de reserva, que expressam o aprofundamento de novas relações de dominação burguesa no campo do trabalho, da cultura e da sociabilidade.
A proposta de discutir em grupo as contribuições de Paulo Freire para pensarmos a educação e seus projetos na atualidade possibilita vislumbrarmos a construção de estratégias na e para a luta por uma educação que permite o pensamento crítico, a politicidade, a liberdade, a dialogicidade. Por sua vez, o desafio que temos é de apropriarmos em coletivos nas escolas, universidades, movimentos sociais, do campo e da cidade, na busca de refletir e vivenciar as práticas e saberes de uma educação que ultrapasse os muros da própria educação.

Que os 50 anos da Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire nos impulsione para o processo contínuo de reflexão e reconstrução das estratégias de luta e resistência, pois a educação é um dos elementos fundamentais dessa luta por liberdade. As formas e relações de opressão, após 50 anos, podem apresentar atualmente outros instrumentos de “não liberdade”, que muitas vezes obscurecem suas mordaças ou algemas. Porém, retomando o texto “Primeiras Palavras” (escrito em Santiago, Chile, no Outono de 1968), enquanto uma introdução à “Pedagogia do Oprimido” Freire nos diz: “Não são raras as vezes em que participantes destes cursos, numa atitude em que se manifestam o seu ‘medo da liberdade’, se referem ao que chamam de ‘perigo da conscientização’. A consciência crítica (... dizem) é anárquica”. E continua: “ao que outros acrescentam: ‘Não poderá a consciência crítica conduzir à desordem?’ Há, contudo, os que também dizem: ‘Por que negar? Eu temia a liberdade. Já não a temo!’.” (in: FREIRE, 1975, p. 19).

REFERÊNCIAS

JOANA D ARC VAZ, Doutora em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Professora da Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR, campus de União da Vitória. E.mail: darcvaz.13@gmail.com

ALMIR SANDRO RODRIGUES, Doutor em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Paraná – UFPR. Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas Sobre o Ensino de Filosofia (NESEF/UFPR). E.mail: filorodrigues@yahoo.com.br

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 3ª. ed., Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1975.

_______. Educação como prática da Liberdade. 17ª. ed., Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1986.   

_______. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989.

_______. Extensão ou comunicação? 10ª. ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

_______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 23ª. ed., São Paulo: Editora Paz e Terra, 2002.

_______. Pedagogia dos Sonhos Possíveis. 2ª. ed., Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 2018.

LEHER, Roberto. Universidade e heteronomia cultural no capitalismo dependente: um estudo a partir de Florestan Fernandes. Rio de Janeiro: Consequência, 2018.

SCHULTZ, Theodore W. Investindo no povo. Tradução Elcio Gomes de Cerqueira. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1987.


62 comentários:

  1. Caro colegas,
    Sabemos que o ensino por meio de técnicas transformadoras é essencial para tornar o sujeito pensante e crítico na sociedade, porém, a realidade nas escolas brasileiras são outras, principalmente no subúrbio e para aqueles que muitas das vezes vão à escola para fazer a refeição que é servida ou talvez a única do dia. Como podemos mudar essa realidade se a maioria dos educandos das escolas públicas brasileiras não sabem quem é Paulo Freire? Qual caminho a ser trilhado para que os professores comecem a inserir desde cedo autores como o referido e outros em suas práticas pedagógicas? Qual sentido de termos contatos com os pensantes clássicos e contemporâneos apenas no mundo acadêmico e não no ensino básico? Jailton Santos Silva

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    1. Olá Jailton... concordamos com suas observações sobre a precarização das escolas públicas em diversos dos territórios no Brasil (sem generalizações para tal), aonde também devemos estender nossos olhares para escolas em comunidades indígenas, comunidades rurais, quilombolas, ribeirinhos dentre outras. A escola é um dos espaços por onde não somente passam sujeitos da sociedade, mas deve ser um espaço de construção de “sujeitos pensantes e críticos” como você mesmo afirma. Existe sim um grande desafio em propiciar não só o acesso às obras de Paulo Freire e outros autores do campo da teoria crítica e libertadora, mas superar o mero difusionismo de suas ideias. Para tanto, é estratégico elaborar com os sujeitos das comunidades escolares grupos de análise e reflexão – como os círculos de cultura propostos por Freire, e essas experiências podem permitir a interação entre os diferentes sujeitos na escola, na comunidade, da Universidade. As práticas são justamente um dos principais elementos a serem pensados e repensados nesses círculos de cultura para organizar e planejar as ações de caráter transformador.

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    2. Estamos a disposição para novas questões e para o debate!!! Abraços

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  2. Eu, Almir Sandro Rodrigues (Filó), e Joana D Arc Vaz - autores desse trabalho - agradecemos à Comissão Organizadora do 5o Simpósio Eletrônico de Ensino de História, pela oportunidade em participar desse espaço de debate e reflexão. Como explicitam: "construir um evento em rede, em tempo presente, acerca dos problemas e questões fundamentais no vasto campo do Ensino e Aprendizagem Histórica" - esse é um objetivo do evento e nos dispomos a contribuir no campo da história e no campo da educação, fundamentais para a análise de nossos desafios de educadores e educadoras em seus diversos territórios!

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    1. Gratos pelos comentários! E estamos à disposição para novas questões e para o debate!!! Abraços

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  3. Segundo a realidade nas escolas publicas, levar em conta os esforço e a competência dos educadores que avaliam as suas práticas pedagógicas no intuito de reduzir a distância entre a teoria e a prática, partindo do reconhecimento de que “ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para sua produção ou construção”, são possibilidades bem aceitas para melhoria na educação? E quais poderiam ser as melhores estrategias de ensino no momento em que vivemos?
    Luciana Folk

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    1. Olá Luciana... esse esforço citado por você é grande e deve ser contínuo – as estratégias devem abordar os processos de ensino e de aprendizagem, mas também podem buscar incorporar os diversos sujeitos envolvidos nos espaços da escola e da comunidade. A prática pedagógica é objeto de estudo e, também, podemos desenvolver de forma interdisciplinar a busca de alternativas ao modelo de “pura reprodução do conhecimento” – esse é um dos principais desafios que temos como educadores e educadoras tanto no meio acadêmico quanto nos espaços escolares. A troca de saberes como as experiências dos movimentos sociais e organizações da classe trabalhadora são enriquecedoras para a superação de uma educação bancária e reprodutivista. Fundamental pensar a escola e a educação como espaço de luta e resistência, por sua vez, isso não necessariamente deve ser feito de forma isolada, muito pelo contrário, a própria dialogicidade da educação nos atenta para as inter-relações com as diversas lutas levantadas pela sociedade.

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    2. Estamos a disposição para novas questões e para o debate!!! Abraços

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  4. JULIANNA RODRIGUES DOS SANTOS8 de abril de 2019 às 16:52

    Não é de extrema importância que o ambiente de ensino esteja inserido na realidade do aluno? Isso não traz uma certa facilidade para que o aluno possa absorver o que está sendo ensinado?


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    1. Olá Juliana... Sobre sua primeira pergunta podemos responder que sim – um ambiente de ensino que parte da realidade do aluno e de sua comunidade/sociedade possibilita ao aluno uma possível maior clareza sobre os processos de aprendizagem. Contudo, não se pode garantir que esse processo é mais fácil ou não – os elementos que estão presentes na construção do conhecimento por parte dos alunos e dos educadores devem estar em continua análise e reflexão, pois a dinamicidade e complexidade dos territórios em suas características sociais, políticos, econômicos, culturais, dentre outras, devem ser não somente compreendidos, mas na perspectiva freireana ser uma estratégia de libertação e transformação daqueles na situação de oprimidos.

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    2. Estamos a disposição para novas questões e para o debate!!! Abraços

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  5. Resgatar e repensar as contribuições freireanas para a construção de estratégias na luta por uma educação que possibilite no aluno um pensamento crítico, liberdade é de fundamental importância no ensino aprendizado. Qual o papel do professor de história na atualidade, que está desanimado com a profissão, onde o governo desvaloriza o profissional, que ganha pouco e ainda é taxado de doutrinador que tem que medir as palavras pra falar com seus alunos? Como implantar um sistema que visa a criticidade, com todos esses desafios pelo qual o professor está passando?
    Danilo Jobson Dantas Freire

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    1. Olá Danilo... Em seu comentário pensamos que você já aponta vários aspectos da atual conjuntura político-educacional no Brasil (em suas mais variadas instâncias) – o discursos hegemônico e dominante busca categorizar qualquer tipo de abordagem crítica como doutrinadora. Importante justamente nessas situações que através das organizações e movimentos sociais construir as estratégias político-pedagógicas que incorporam o processo libertador e emancipador de cada sujeito e suas relações com os grupos e com a sociedade. Essas estratégias passam diretamente correlacionadas com não somente o domínio da linguagem escrita, mas de todo o processo de se autoreconhecer como autor e co-autor de sua história. Na obra “A importância do ato de ler”, Freire (1989, p. 13) destaca essa construção da alfabetização nos seus aspectos de criticidade e dialogicidade, não mais na perspectiva do “opressor” – o ato criador é expressão da liberdade e construção dos oprimidos. Claro, os desafios dos educadores e educadoras é amplo e permanente na busca de ecoar vozes e lutas por uma educação que garanta a criticidade e dialogicidade – as diversas organizações de grupos de estudos e grupos de trabalho podem potencializar a organização de práticas de transformação

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    2. Estamos a disposição para novas questões e para o debate!!! Abraços

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  6. Gostaria, antes de tudo, de parabenizar a dupla pela importante discussão no cenário educacional atual. Também parabenizar o colega Jailton Santos pelo seu questionamento e esclarecendo, desde já, que sou professor de História (2008) e filho do campo, nascido e criado na zona rural do pequeno município de Sobrado/PB, onde as dificuldades para conseguir superar os obstáculos eram e são enormes.
    Contudo, ao afirmarem que "A política educacional nessa sociedade é pautada na agenda do capital para a educação e vem cumprindo a função ideológica no processo de expansão das relações sociais capital-imperialistas" Aí, me questiono: Nossa educação é ideológica? Como a proposta freiriana de educação pode contribuir para minimizar esses discursos de "ideolização" dentro da educação?
    João Batista Barbosa da Silva

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    1. Ola João Batista... obrigado pelo comentário e problematização! E retomamos aqui o que colocamos para o colega Jailton: “concordamos com suas observações sobre a precarização das escolas públicas em diversos dos territórios no Brasil (sem generalizações para tal), aonde também devemos estender nossos olhares para escolas em comunidades indígenas, comunidades rurais, quilombolas, ribeirinhos dentre outras. A escola é um dos espaços por onde não somente passam sujeitos da sociedade, mas deve ser um espaço de construção de “sujeitos pensantes e críticos” como você mesmo afirma. Existe sim um grande desafio em propiciar não só o acesso às obras de Paulo Freire e outros autores do campo da teoria crítica e libertadora, mas superar o mero difusionismo de suas ideias”.
      Nessa perspectiva, fundamental pensarmos a conjuntura e contexto na atualidade da educação (e outros campos da sociedade brasileira) que apontam para não somente o resgate de uma “educação bancária”, mas sua ressignificação com novas fórmulas de sucateamento e obscurecimento da classe trabalhadora e dos profissionais nas áreas da educação. As análises freireanas realizadas na época (50 anos atrás) sobre a educação denominada bancária se tornam muito atuais no que percebemos nos discursos da “Escola sem Partido” e dos projetos de educação.
      Sobre a questão se a “nossa escola é ideológica” podemos dizer que sim. Por sua vez, seria importante resgatar o significado do conceito ou categoria analítica de ideologia. Nesse sentido, as leituras e práticas sobre a realidade e sobre o “já vivido” ou o “que vivemos” está localizado no espaço e tempo muitas vezes definidos por interesses (em várias dimensões). O próprio discurso da neutralidade ou objetividade científica é também inserida em uma gama de interesses – não só o discurso, mas suas práticas explicitam por que e para quem, no caso também da educação, se desenvolvem suas ações!
      O debate aqui é complexo e nem sempre vamos ter uma opinião ou análise unívoca, justamente por não necessariamente podermos ter o ato de afirmar: “ agora não teremos mais ideologização da educação!”. Para tanto, João Batista e todos e todas que nos ajudam com seus comentários nessa análise – o resgate de Paulo Freire e os mais diversos autores clássicos e contemporâneos da teoria crítica e libertadora é estratégico, mas temos que tomar consciência da onde partimos e para onde queremos construir ações no campo da educação e na sociedade e essa consciência também é engajada de interesses. Uma Pedagogia do Oprimido justamente é pensar a educação e suas práticas que se contrapõem às práticas do sistema opressor.

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    2. Estamos a disposição para novas questões e para o debate!!! Abraços

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  8. Boa tarde, o rechaço a Paulo Freire não é novidade e tampouco recente. Tem início já nos fins dos anos 50 e começo da década de 60, momento em que o educador idealiza a educação popular e realiza as primeiras iniciativas de conscientização política do povo, em nome da emancipação social, cultural e política das classes sociais excluídas e oprimidas.
    Sua metodologia dialógica foi considerada perigosamente subversiva pelo regime militar, o que rendeu a Freire o exílio. Você concorda que tendo agora um presidente como Jair Bolsonaro, apoiador e apaixonado pelo regime militar, a metodologia de Paulo Freire vai morrer de vez? Se torna cada vez maior a terefa do professor dentro da sala de aula, como você enxerga uma maneira de contornar isso?
    att. Geovana Rissato Garcia

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    1. Olá Geovana... Sem dúvida que o projeto de Governo Federal e de muitos governos estaduais no Brasil apresentam um discurso contra pensamentos não somente do Paulo Freire, mas de vários outros pensadores desse campo. Nesse sentido que propusemos – em nosso texto - discutir as contribuições de Freire para a construção de estratégias na luta por uma educação que possibilita o pensamento crítico, a liberdade, a dialogicidade e não à lei da mordaça como reivindica o projeto lei 867/2015 que refere-se ao projeto “Escola sem partido” que está em andamento no Brasil [aqui citando só uma das ações do atual governo e que também foram efetivadas em outras épocas da nossa história, inclusive com força no período da ditadura militar].
      Contudo, torna-se fundamental resgatar e fortalecer os espaços de debate e análise da educação em seu âmbito de superar os mecanismos de silenciamento e exclusão – o pensamento freireano não morre pelos discursos ou leis impostas pelos atuais governos ou diversos grupos que clamam por não “doutrinação de esquerda”, mas para isso necessário que as organizações do campo da educação, dos movimentos sociais e outras organizações da classe trabalhadora tenham consciência que devem não somente repensar a partir do Freire, mas repensar o projeto de sociedade vigente e o que desejamos no presente e futuro. Essas questões se refletem sim na “sala de aula” e nos mais diversos espaços da educação – e o papel dos educadores e educadoras é fundamental, porém, não basta transferir essa responsabilidade aos sujeitos da educação, pois as lutas e instrumentos de resistência devem se multiplicar nas escolas, nas comunidades, na relação da escola com as universidades, na formação profissional dos cursos de licenciaturas e outros.
      Enfim, importante dizer que esse desafio é contínuo. E o debate que esse Simpósio nos possibilita é também um desses instrumentos para não calarmos.

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    2. Estamos a disposição para novas questões e para o debate!!! Abraços

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  9. O texto apresentado por Vaz e Rodrigues apontam para caminhos pouco flexíveis e pouco dialógicos quanto às propostas para a Educação advindas do governo Temer para o atual governo, Bolsonaro. Trata-se de uma discussão atual e pontual, pois concordando com os autores, se quer, impor ao invés de expor ideias para a melhoria da educação, da transformação do cidadão e da sociedade. Parabenizo os autores pela excelente reflexão, reforçando e valorizando o pensamento de Freire, o de libertação e emancipação do ser humano. Aproveito e deixo a seguinte questão: em que medida podemos "combater" tais forças ideológicas e doutrinadoras que estão aí presentes no governo atual como propostas para a Educação Básica e Superior?

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    1. Olá Sandra... As ações e discursos do atual governo e de muitas outras organizações que representam o capital-imperialismo deixam evidentes suas intenções em garantir o obscurecimento não somente das ideias de Freire e de uma educação emancipadora e libertadora, mas também da criminalização dos movimentos sociais que se coloquem nessa perspectiva de organização da classe trabalhadora. Pensamos ser estratégico e fundamental criar e recriar espaços nas universidades, nas escolas, nas comunidades e nos movimentos sociais instrumentos e metodologias de efetiva participação – para dar voz e ecoar os interesses em prol da transformação da sociedade hoje hegemônica nas mãos do capital-imperialismo. Em nossa região (e percebemos que em muitas outras regiões do Brasil) existem grupos que organizam ações de estudo e de luta, sendo um deles a discussão em círculos de cultura das obras de Freire e vários outros autores na perspectiva da teoria crítica, buscando também construir práticas alternativas para não ficarmos somente na teoria e no discurso – o trabalho de campo e nos territórios com seus sujeitos é necessário.
      Grato pelos comentários! E estamos à disposição para novas questões e para o debate!!! Abraços

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  10. Sabemos que educar vai muito além do ler e escrever, mas sim em formar indivíduos pensantes,críticos e que vão á luta pelo seus direitos. Paulo Freire é um grande contribuidor na quesito educação,mas sabemos que muitos dos seus ensinamentos não são executados da maneira correta,principalmente agora no momento em que o governo atual é totalmente averso ao fato de formar indivíduos pensantes,mediante isso qual a melhor forma de se portar em meio a esse cenário atual ?

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    1. Olá Maria Elany... Concordamos contigo no que se refere às distorções ou minimização do uso de metodologias freireanas ou mesmo da análise de suas obras. Como dissemos em nosso breve trabalho existe muitas vezes um reducionismo de sua obra ou puro difusionismo de alguns pensamentos fragmentados. Já explicitamos no texto: “Antes de tudo, para atualizar o pensamento de Paulo Freire, faz-se necessário despir de preconceitos e equívocos construídos ao longo da história, sobretudo o reducionismo de sua teoria a um simples método de ensino. O fato de reduzi-lo a apenas um educador que desenvolveu um método para trabalhar com a educação de adultos nos anos de 1960, reside ai uma estratégia política das classes dominantes de obscurecimento de sua principal proposta e, arriscamos afirmar, que seu maior objetivo foi o de munir os trabalhadores e oprimidos de conhecimentos que proporcionasse a libertação das classes trabalhadoras de seus opressores”.
      Pensamos que o caminho de embate na atual conjuntura, nesse cenário de ideias e práticas ultraconservadoras do governo brasileiro e de grande parte dos estados e municípios, com destaque aqui para nós no campo da educação (claro que se estende para os mais diversos setores da sociedade) é muito preocupante! Por sua vez, justamente nesse momento é que ações planejadas junto com os sujeitos do campo da educação é mais do que necessária – a troca de opiniões e de saberes e a construção de práticas de resistência também passam pelos espaços da academia, das escolas, das comunidades e seus atores, na perspectiva de organização de classe. Repensar os movimentos sociais e organizações de representação de classe é uma das tarefas, juntamente com os processos de formação dos profissionais da educação.
      Grato pelos comentários! E estamos à disposição para novas questões e para o debate!!! Abraços

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  11. Me parece claro que o educador Paulo Freire deixa notório que educar é sobretudo um ato político ... Portanto, a neutralidade é maléfica na condução de uma educação para a emancipação dos sujeito... Sabedores dessa premissa, pergunto: Educar se torna um ato extremamente fácil e descomplicado? É possível acreditar em educação pacífica, educar de forma a encontrar um ambiente pacífico ?

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    1. Olá Cleiton... Talvez sua construção da premissa da neutralidade não esteja elaborada de forma clara – ser neutro não garante o bem ou o mal (essa seria uma discussão bem ampla). Contudo, em qualquer processo pedagógico é possível garantir neutralidade?
      Não somente para Paulo Freire, mas diversos outros pensadores da educação e da sociedade a partir de uma análise minimamente crítica, colocam que educar não é eximir-se das ações conflituosas e complexas – essa é a essência dos atos de ensinar e aprender! Talvez algumas ações podem até parecerem fáceis no processo de ensino-aprendizagem, mas a formação de um sujeito pensante e autônomo necessita de um caminho longo e dinâmico – a dialogicidade se explicita nessas questões. O ambiente pacífico até onde é compreendido como ausência de conflito? Ausência de conflito muitas vezes é simplesmente um acomodar-se ou assimilar as regras impostas pela sociedade vigente; no entanto, o ato de educar não deveria necessariamente excluir os processos de discussão e debate – claro aqui compreendendo as diferenças e diversidades de cada sujeito e/ou grupo e suas compreensões do mundo. A busca pela superação de violência em suas mais diversas formas também deve ser almejada, por exemplo, até que medida existe um debate e ações práticas para superar o racismo, o machismo, a homofobia, dentre outras formas de violência? O cuidado em não simplesmente compreender que educação é algo que não deve carregar em seu conjunto as discussões e problemas enfrentados na sociedade – pensamos que a escola também é esse lócus para a construção de consciência e luta por uma sociedade menos opressora.
      Grato pelos comentários! E estamos à disposição para novas questões e para o debate!!! Abraços

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  12. No momento que empossou o novo ministro da educação, o presidente Bolsonaro dize que espera com a nova gestão, que a garotada aprenda fazer uma regra de três simples, resolvam algumas questões de ciências e deixem de aprender sobre política. É sinal claro de que o plano é deixar os alunos imersos na ignorância. Como podemos, através do pensamento de Paulo Freire, resistir a esse plano?

    Eliane de Mesquita Sabino dos Reis

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    1. Olá Eliane e Claudia (comentário a seguir)... Acreditamos que as colocações e questões expostas por vocês se dialogam e propõem análise bem similares.
      Concordamos que vivemos em um período de combate declarado, por parte do governo e vários grupos da sociedade, contra qualquer tipo de ação de educadores e educandos com o mínimo de senso crítico e autônomo. A ignorância pode ser entendida das mais diversas formas, mas sobretudo se deseja a ignorância de se entender como um sujeito pensante e crítico – um ser sócio-político que tem consciência e luta por seus espaços e direitos.
      Os espaços da escola e o campo da educação (aqui incluso desde a educação básica até todos os níveis do ensino superior) deveria ser pensado como campo em disputa, pois se não fosse por que existe tanta preocupação em minimizar o seu papel? Por que querem censurar e modificar os currículos e os métodos dentro das escolas e diminuir as estruturas das ciências humanas e sociais nas universidades? Essas questões não apresentam respostas curtas ou rápidas, mas devem nos conduzir para um debate muito maior – sobre que educação queremos e para que tipo de sociedade e que tipo de organizações!
      Enfim, a proposta de discutir em grupo as contribuições de Paulo Freire para pensarmos a educação e seus projetos na atualidade possibilita vislumbrarmos a construção de estratégias na e para a luta por uma educação que permite o pensamento crítico, a liberdade, a dialogicidade. Por sua vez, o desafio que temos é de apropriarmos em coletivos nas escolas, universidades, movimentos sociais, do campo e da cidade, na busca de refletir e vivenciar as práticas e saberes de uma educação que ultrapasse os muros da própria educação.
      Grato pelos comentários! E estamos à disposição para novas questões e para o debate!!! Abraços

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  13. Paulo Freire trouxe luz para compreender as diversas formar que a educação pode caminhar. O pilar freireano é a construção do sujeito histórico na sociedade, entretanto nesse caminho de trevas e de obscurantismo que atravessamos, como podemos educar para o caminho da liberdade, se muitos querem ser prisioneiros da ignorância?

    Claudia Santos Pacheco Santana

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    1. Ola Eliane (comentário anterior) e Claudia... Acreditamos que as colocações e questões expostas por vocês se dialogam e propõem análise bem similares.
      Concordamos que vivemos em um período de combate declarado, por parte do governo e vários grupos da sociedade, contra qualquer tipo de ação de educadores e educandos com o mínimo de senso crítico e autônomo. A ignorância pode ser entendida das mais diversas formas, mas sobretudo se deseja a ignorância de se entender como um sujeito pensante e crítico – um ser sócio-político que tem consciência e luta por seus espaços e direitos.
      Os espaços da escola e o campo da educação (aqui incluso desde a educação básica até todos os níveis do ensino superior) deveria ser pensado como campo em disputa, pois se não fosse por que existe tanta preocupação em minimizar o seu papel? Por que querem censurar e modificar os currículos e os métodos dentro das escolas e diminuir as estruturas das ciências humanas e sociais nas universidades? Essas questões não apresentam respostas curtas ou rápidas, mas devem nos conduzir para um debate muito maior – sobre que educação queremos e para que tipo de sociedade e que tipo de organizações!
      Enfim, a proposta de discutir em grupo as contribuições de Paulo Freire para pensarmos a educação e seus projetos na atualidade possibilita vislumbrarmos a construção de estratégias na e para a luta por uma educação que permite o pensamento crítico, a liberdade, a dialogicidade. Por sua vez, o desafio que temos é de apropriarmos em coletivos nas escolas, universidades, movimentos sociais, do campo e da cidade, na busca de refletir e vivenciar as práticas e saberes de uma educação que ultrapasse os muros da própria educação.
      Grato pelos comentários! E estamos à disposição para novas questões e para o debate!!! Abraços

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  14. O livro “Pedagogia do Oprimido” é um trabalho muito importante para o entendimento das relações de poder na estrutura social brasileira. Através desta obra, Paulo Freire explica que vivemos em uma sociedade em que há opressores e oprimidos. Esse material foi proibido no Brasil durante a Ditadura Militar, mas até hoje encontra resistência por parte de pessoas conservadoras. Paulo Freire relata e a proposta de pedagogia crítica se propôs a ajudar analfabetos a ler o mundo de outra forma. Enquanto professora da educação básica no Ceará percebo o quanto a política atual colabora para que as forças conservadoras e opressoras continuem esmagando o povo e privando os jovens de uma educação libertadora, crítica e dialógica. Diante dessas circunstâncias, como podemos ser resistência na escola? Vanderlene de Farias Lima.

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    1. Olá Vanderlene ... Muito boa sua análise e compreensão sobre alguns dos aspectos da Pedagogia do Oprimido, assim como de outras obras do Freire. Sem dúvida sua obra provoca uma reação de obscurecer ou negativar ou até mesmo extinguir as leituras e o uso de Freire nos espaços escolares e nas Universidades (que podemos dizer que ainda pouco utilizada).
      Como dito em nosso texto: “A proposta de discutir em grupo as contribuições de Paulo Freire para pensarmos a educação e seus projetos na atualidade possibilita vislumbrarmos a construção de estratégias na e para a luta por uma educação que permite o pensamento crítico, a liberdade, a dialogicidade. Por sua vez, o desafio que temos é de apropriarmos em coletivos nas escolas, universidades, movimentos sociais, do campo e da cidade, na busca de refletir e vivenciar as práticas e saberes de uma educação que ultrapasse os muros da própria educação”. Em nossa região e em diversas outras regiões do Brasil (não como algo somente dos dias atuais) os coletivos ou grupos de estudo e de trabalho buscam não ficar somente na leitura e análise das obras de Freire e de outros autores desse campo da teoria crítica e libertadora, mas sobretudo, pensar e vivenciar práticas com o objetivo transformador de seus territórios – o uso dos círculos de cultura como espaço de troca de saberes e de planejar e problematizar as próprias práticas é um caminho que consideramos fundamental na luta e ações de resistência. Mas esse trabalho é um desafio continuo e atualmente deve ser o máximo multiplicado!

      Grato pelos comentários! E estamos à disposição para novas questões e para o debate!!! Abraços

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  15. Com esses forte ataques às instituições de ensino, principalmente em Universidades, onde a autonomia não está sendo respeitada, e reitores estão sendo escolhidos diretamente pelo governo, a educação libertadora de Freire, ficaria completamente atingida? Ou até mesmo em ameaça?
    Gabriel Braga de Souza

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    1. Olá Gabriel ... Sem dúvida que o projeto de Governo Federal e de muitos governos estaduais no Brasil apresentam um discurso e ações declaradamente contra todos aqueles se colocam em perspectiva não-conservadora. Como disse a intervenção nas Universidades e diversas outras instituições públicas está presente como projeto e ação de governo e exemplos não são difíceis de levantar no campo da educação e no campo das ciências. E a obra de Freire não está fora desse alvo do governo e de movimentos civis ultraconservadores
      Em nosso texto colocamos: “Nesse sentido que propusemos discutir as contribuições de Freire para a construção de estratégias na luta por uma educação que possibilita o pensamento crítico, a liberdade, a dialogicidade e não à lei da mordaça como reivindica o projeto lei 867/2015 que refere-se ao projeto “Escola sem partido” que está em andamento no Brasil [aqui citando só uma das ações do atual governo e que também foram efetivadas em outras épocas da nossa história, inclusive com força no período da ditadura militar].”.
      Contudo, torna-se fundamental resgatar e fortalecer os espaços de debate e análise da educação em seu âmbito de superar os mecanismos de silenciamento e exclusão – o pensamento freireano não morre pelos discursos ou leis impostas pelos atuais governos ou diversos grupos que clamam por não “doutrinação de esquerda”, mas para isso necessário que as organizações do campo da educação, dos movimentos sociais e outras organizações da classe trabalhadora tenham consciência que devem não somente repensar a partir do Freire, mas repensar o projeto de sociedade vigente e o que desejamos no presente e futuro. Essas questões se refletem na “sala de aula” e nos mais diversos espaços da educação – e o papel dos educadores e educadoras é fundamental, porém, não basta transferir essa responsabilidade aos sujeitos da educação, pois as lutas e instrumentos de resistência devem se multiplicar nas escolas, nas comunidades, na relação da escola com as universidades, na formação profissional dos cursos de licenciaturas e outros.
      Enfim, a ameaça está declarada, mas é importante dizer que esse desafio é contínuo. E o debate que esse Simpósio nos possibilita é também um desses instrumentos para não calarmos.

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  16. Como aluna oriunda de escola pública e hoje professora de escola pública, tenho certeza que não há melhor espaço para uma educação para a libertação como indicava Paulo Freire - aliás, tenho certeza que era nelas em que o educador pensava mais. Entretanto, pergunto-me se há espaço, na verdade, é para que esse debate chegue às escolas privadas de elite!?

    CICERA TAMARA GRACIANO LEAL DA SILVA FERNANDES

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    1. Olá Cicera... Concordamos contigo que Freire tinha em sua proposta algo voltado para a educação pública, porém, em muitos momentos tanto em suas obras como de autores que trabalharam com Freire e/ou a partir de Freire desenvolveram e desenvolvem proposições e ações para além dos muros da escola e da educação formal. As experiências vivenciadas por movimentos sociais e organizações de classe por muito se utilizaram do pensamento freireano enquanto referência da práxis pedagógica – em seus aspectos de criticidade e dialogicidade.
      E, sobre sua questão: “há espaço ... que esse debate chegue às escolas privadas de elite!?”. A resposta a essa questão nos leva primeiro a buscar entender o que seriam “escolas privadas de elite” e, a partir dessa classificação, podemos inserir outra problemática: quem é o público alvo dessas escolas e quais os profissionais responsáveis nessas instituições? Elite com certeza não está necessariamente preocupada com o reconhecimento do pensamento do oprimido, por sua vez, é constante a busca por entender de que forma os sujeitos e grupos se organizam e elaboram suas práticas – isso é um dos objetos de estudo das ciências sociais, políticas, econômicas dentre outras. No entanto, não podemos generalizar que todas as escolas privadas são destinadas exatamente à elite, pois muitas tem um público de classe média (que também não são exatamente elite – concorda?), porém reproduzem muitas vezes em seus discursos o pensamento da elite – mas esse fenômeno não é algo específico da classe média, pois através de vários mecanismos de reprodução social o sistema capital-imperialista insere suas perspectivas e valores de sociedade aos mais diversos grupos sociais. Aqui podemos salientar também a importância da obra Pedagogia do Oprimido de Freire – é pensar uma educação não mais no viés do opressor, mas construir uma proposta político-pedagógica a partir dos oprimidos – e que estes consigam não só construir os conhecimentos da linguagem, mas sobretudo se emancipar e lutar por uma sociedade aonde suas ideias e valores de mundo se estabeleçam.
      Importante frisar que até encontramos experiências em instituições de educação não públicas perspectivas não necessariamente conservadoras e nem de cunho dominante-hegemônico, mas com certeza essa não é a regra. A preocupação maior das escolas privadas é a educação como um objeto de valor comercial = o conhecimento e acesso a educação tem preço de mercado! E, muitas escolas de cunho público (instituições públicas) são destinadas à classe dominante (elite), desde a educação básica e com muito maior acesso às Universidades Públicas – que em alguns cursos são amplamente acessadas pela elite.

      Enfim, essa discussão é ampla e complexa! Mas agradecemos seu comentário e questão. E estamos à disposição para novas questões e para o debate!!! Abraços

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  17. Bom dia. O livro Pedagogia do Oprimido, escrito em meados de 1968, enquanto Freire cumpria exílio no Chile, ainda é real na sociedade brasileira, continua anunciando a opressão do povo brasileiro e permanece como núcleo de debates sociais e educacionais. Sempre vamos está diante de vários obstáculos que nos impedem de participar ativamente da história e auxiliar a sociedade a tomar consciência da realidade. “É preciso, portanto, fazer dessa conscientização o primeiro objetivo de toda educação libertadora.” (FREIRE, 1978, p. 40).
    As. Talyta Marjorie Lira Sousa Nepomuceno

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    1. Olá Talyta... Concordamos contigo em suas afirmações e no que você destaca sobre os objetivos da educação na perspectiva freireana, por mais que tenhamos muitos obstáculos e desafios no dia-a-dia dos espaços da educação e da sociedade em geral.
      Você não necessariamente fez uma pergunta, mas nos traz elementos que devemos problematizar e refletir quando diz: estamos “diante de vários obstáculos que nos IMPEDEM de participar ativamente da história e auxiliar a sociedade a tomar consciência da realidade” [destacamos o verbo da frase em caixa alta = IMPEDEM]. Os obstáculos como já dito existem e são muitos, por sua vez, cabem a nós e os grupos e organizações que fazemos parte buscar e construir as alternativas – essa construção não é algo solitário, pelo contrário, é um desafio coletivo para não ficar no comodismo e na pura ausência de reação aos mecanismos de opressão.
      Como dito em nosso texto: “A proposta de discutir em grupo as contribuições de Paulo Freire para pensarmos a educação e seus projetos na atualidade possibilita vislumbrarmos a construção de estratégias na e para a luta por uma educação que permite o pensamento crítico, a liberdade, a dialogicidade. Por sua vez, o desafio que temos é de apropriarmos em coletivos nas escolas, universidades, movimentos sociais, do campo e da cidade, na busca de refletir e vivenciar as práticas e saberes de uma educação que ultrapasse os muros da própria educação”. Em nossa região e em diversas outras regiões do Brasil (não como algo somente dos dias atuais) os coletivos ou grupos de estudo e de trabalho buscam não ficar somente na leitura e análise das obras de Freire e de outros autores desse campo da teoria crítica e libertadora, mas sobretudo, pensar e vivenciar práticas com o objetivo transformador de seus territórios – o uso dos círculos de cultura como espaço de troca de saberes e de planejar e problematizar as próprias práticas é um caminho que consideramos fundamental na luta e ações de resistência. Mas esse trabalho é um desafio continuo e atualmente deve ser o máximo multiplicado!

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  18. Nossa realidade é muito diferente do que encontramos nos textos. Infelizmente não são todos no meio da educação que querem formar cabeças pensantes, mas só expor as matérias e cobrar notas dos alunos. Quando se trata de ensino público e privado vendo uma grande distância, não pelo professor, mas por muitos outros meios que influenciam na educação escolar. Como conseguiríamos um bom debate sobre o tema abordado com o propósito de reavaliar a forma de chamar a atenção dos alunos para os temas citados no texto? Como instruir professores que se acomodaram na forma de ensinar como robôs os temas acima?
    Jéssica Marcelle Martins Passos

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    1. Olá Jéssica... De grande pertinência seus comentários e há muito tempo vivenciamos os processos de acomodação e assimilação por parte dos educadores e educadoras, mas também de outros profissionais no campo da educação, como meros reprodutores de práticas que não visam a dialogicidade e formação de sujeitos pensantes e críticos – multiplicam as metas sobre habilidades e competências pré-definidas pelo mercado e pelos mecanismos de poder hegemônico. E esse fenômeno não somente ocorre nas escolas, mas no ambiente acadêmico e universitário na formação de educadores como difusores de um modelo de educação e de sociedade já definido. Claro que temos que ter o cuidado em não generalizar, pois muitos cursos de Licenciaturas de Universidades Públicas (e até algumas instituições de ensino superior da rede privada) possibilitam uma formação de qualidade e crítica de seus educandos e egressos profissionais da educação. E nesse aspecto existem muitas experiências sendo construídas nas instituições para que a educação não seja mera obra de “transmissores” de conteúdo – como você diz “robôs”!
      Em nosso texto colocamos: “A proposta de discutir em grupo as contribuições de Paulo Freire para pensarmos a educação e seus projetos na atualidade possibilita vislumbrarmos a construção de estratégias na e para a luta por uma educação que permite o pensamento crítico, a liberdade, a dialogicidade. Por sua vez, o desafio que temos é de apropriarmos em coletivos nas escolas, universidades, movimentos sociais, do campo e da cidade, na busca de refletir e vivenciar as práticas e saberes de uma educação que ultrapasse os muros da própria educação”. Em nossa região e em diversas outras regiões do Brasil (não como algo somente dos dias atuais) os coletivos ou grupos de estudo e de trabalho buscam não ficar somente na leitura e análise das obras de Freire e de outros autores desse campo da teoria crítica e libertadora, mas sobretudo, pensar e vivenciar práticas com o objetivo transformador de seus territórios – o uso dos círculos de cultura como espaço de troca de saberes e de planejar e problematizar as próprias práticas é um caminho que consideramos fundamental na luta e ações de resistência. Mas esse trabalho é um desafio continuo e atualmente deve ser o máximo multiplicado!

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  19. O seu texto é bastante claro, e não me gerou dúvidas. Mas sim, suscitou algumas reflexões e curiosidades. Na parte final do seu texto você falou um pouco sobre a questão do eurocentrismo e como isto está presente na sociedade, nas relações sociais e mesmo entre o estado e a população. Ao ler seu trabalho e sua análise sobre a obra de Freire, me veio a mente os chamados estudos pós coloniais, que tem uma carga de crítica ao eurocentrismo muito semelhante a que vi no texto. Quando se fala em estudos e pensamentos pós coloniais, descoloniais e decoloniais, há muitos conceitos, teorias, visões e ideias distintas que insurgem. Grosso modo, esse pensamento vai contra narrativas e discursos que legitimem noções ligadas a uma cultura hegemônica, sobretudo ao “pensamento ocidental”. Há a revisão de discursos históricos, objetivando trazer a tona outros discursos e epistemologias, distintas das que são difundidas normalmente. Ocorre a desvinculação de fundamentos e conceitos ocidentais relacionados ao conhecimento, assim como a desconstrução de discursos sociais, históricos, antropológicos, entre outros. Eles propõem uma ampliação da visão, bem como a inclusão de outras formas de pensamento que ainda hoje são colocadas a margem. Você considera que a obra de Paulo Freire, mesmo que de forma não "oficial" (já que acredito que ele não esteja propriamente vinculado a essas teorias) está em consonância com estas ideias? Parabéns pelo trabalho. Att. Mirthis Elizabeth Costa do Nascimento.

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    1. Olá Mirthis Elizabeth... Sua abordagem é relevante e extremamente importante para o desdobramento dessa discussão não somente abordada por Freire, mas com muitos diálogos a serem realizados com outros autores sobre a interculturalidade e o empoderamento e reconhecimento das outras epistemologias / outras filosofias ditas “não-européias”. Não queremos dizer que o diálogo com pensadores europeus seja desnecessário, mas importante ter clareza por onde se constroem os sistemas hegemônicos – inclusive nas formas do pensar a sociedade!
      Em nosso texto dizemos: “Essa prática hegemônica burguesa funda-se na ética educacional efetivamente implementada no modelo eurocêntrico moderno, balizadora da pedagogia que concebe o “não-europeu” como o “não-ser”, ou, em outras palavras, um “não eu” que necessita de “adestramento” pedagógico, visando à formação de um adulto adaptado à sociedade. Contudo, a Educação vivenciada por Freire assume a promoção dos processos de emancipação humana, nutrindo os sujeitos de conhecimentos e saberes que ultrapassam a realidade social já posta pelo modelo de produção capitalista vigente. Desse modo, Freire (1975) afirma que a educação rompe com a domesticação pelo ato de aprender e ensinar numa relação dialética desde que tenham agentes ativos [educador ↔ educando] que disponham perante a realidade que os cerca construindo um saber envolvido com a multiplicidade popular”.
      Já existem trabalhos que buscam explicitar esse diálogo de Freire, assim como outros pensadores fora desse eurocentrismo, que trazem à tona o debate e reflexão das formas de pensar o mundo a partir de seus territórios, e aqui podemos destacar os diálogos com a Filosofia e História Latino Americana, Filosofia Africana. Como exemplo indico uma obra que pode contribuir nessa discussão: “Paulo Freire e Amílcar Cabral: a descolonização das mentes”, organizada por José Eustáquio Romão e Moacir Gadotti, em 2012.
      Enfim, essa discussão apresentam vários desdobramentos e iniciamos recentemente um grupo de estudo (utilizando a metodologia dos círculos de cultura) intitulado: “Paulo Freire: interculturalidade e pedagogias descoloniais” – esse grupo está organizado por meio do NESEF-UFPR (Núcleo de Estudos e Pesquisas Sobre o Ensino de Filosofia) vinculado ao Programa de Pós Graduação em Educação da UFPR. “O grupo de estudos pretende realizar o estudo sistemático de obras de Paulo Freire, situar a trajetória intelectual de autor, suas influências teórico-práticas que são pouco exploradas e as concepções que permeiam a sua proposta educativa, além de discutir a contemporaneidade e os limites do pensamento freireano.
      Com isso, procura-se estabelecer relações entre a pedagogia libertadora de Paulo Freire, interculturalidade de Raúl Fornet-Betancourt e as pedagogias descoloniais. Também serão realizados exercícios de aprendizagens colaborativas com inserções práticas.” [link: http://www.educacao.ufpr.br/portal/nesef/?p=1142 ]

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  20. Como discente de história fico imensamente entusiasmado sobre a "educação libertadora" porém diante do quadro em que se encontra o Brasil, gostaria de saber a sua opinião de como lidar com este tema no ensino médio e fundamental sem ser impedido de criar um debate sobre tal temas e outros que induzem a criticidade do aluno?

    atenciosamente
    Lucas dos Santos Pereira

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    1. Olá Lucas... Pensamos que o caminho de embate na atual conjuntura, nesse cenário de ideias e práticas ultraconservadoras do governo brasileiro e de grande parte dos estados e municípios, com destaque aqui para nós no campo da educação (claro que se estende para os mais diversos setores da sociedade) é muito preocupante! Por sua vez, justamente nesse momento é que ações planejadas junto com os sujeitos do campo da educação é mais do que necessária – a troca de opiniões e de saberes e a construção de práticas de resistência também passam pelos espaços da academia, das escolas, das comunidades e seus atores, na perspectiva de organização de classe. Repensar os movimentos sociais e organizações de representação de classe é uma das tarefas, juntamente com os processos de formação dos profissionais da educação.

      Como dito em nosso texto: “A proposta de discutir em grupo as contribuições de Paulo Freire para pensarmos a educação e seus projetos na atualidade possibilita vislumbrarmos a construção de estratégias na e para a luta por uma educação que permite o pensamento crítico, a liberdade, a dialogicidade. Por sua vez, o desafio que temos é de apropriarmos em coletivos nas escolas, universidades, movimentos sociais, do campo e da cidade, na busca de refletir e vivenciar as práticas e saberes de uma educação que ultrapasse os muros da própria educação”. Em nossa região e em diversas outras regiões do Brasil (não como algo somente dos dias atuais) os coletivos ou grupos de estudo e de trabalho buscam não ficar somente na leitura e análise das obras de Freire e de outros autores desse campo da teoria crítica e libertadora, mas sobretudo, pensar e vivenciar práticas com o objetivo transformador de seus territórios – o uso dos círculos de cultura como espaço de troca de saberes e de planejar e problematizar as próprias práticas é um caminho que consideramos fundamental na luta e ações de resistência. Mas esse trabalho é um desafio continuo e atualmente deve ser o máximo multiplicado! Aqui se encontram umas de suas questões sobre como trabalhar no ensino médio e fundamental – na verdade esse desafio não é só na educação básica, mas em todos os espaços da educação formal e não-formal.

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  21. Para Paulo Freire o apoderamento do conhecimento é vital para a libertação das pessoas. Com base nisso gostaria de saber como lidar aos ataques das "fake news" em escala mundial onde os meios tecnológicos fornecem inúmeras informações e muitas delas não representam a total ou parcial realidade, como por exemplo aos acometimentos da escola sem partido?

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    1. Olá Lucas... Parte de seu comentário e questão foi de certa forma abordada em nosso comentário anterior. Contudo, sobre os ataques das “fake News” é um fenômeno que precisamos conhecer melhor, e buscar os instrumentos adequados em problematizar e construir alternativas. O poder dominante e hegemônico – ao longo da história – sempre se apropriou e desenvolveu mecanismos de reproduzir não somente sua dominação, mas também garantir a manutenção e ampliação de seu poder.
      Trazemos em nosso texto: “A conjuntura e contexto na atualidade da educação (e outros campos da sociedade brasileira) apontam para não somente o resgate de uma “educação bancária”, mas sua ressignificação com novas fórmulas de sucateamento e obscurecimento da classe trabalhadora e dos profissionais nas áreas da educação. As análises freireanas realizadas na época (50 anos atrás) sobre a educação denominada bancária se tornam muito atuais no que percebemos nos discursos da “Escola sem Partido” e dos projetos de educação. De fato, nessa concepção, o conhecimento é algo que por ser imposto, passa a ser absorvido passivamente, aonde Freire na Pedagogia do Oprimido (1975, p. 67) comenta que: “Na visão bancária da educação, o “saber” é uma doação dos que se julgam Sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão – a absolutização da ignorância, que constitui o que chamamos de alienação da ignorância, segundo a qual esta se encontra sempre no outro”.
      Enfim, estratégias ainda precisam ser trabalhadas e planejadas para se contrapor às ações de opressão – inclusive através das tecnologias digitais. E Podemos afirmar que esse Simpósio indica um ótimo caminho para a troca de saberes aonde usamos esse espaço tecnológico!!!

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    2. Oi Lucas ... caso tenha interesse: será ofertado pelo Instituto Paulo Freire: [entre via facebook: https://www.facebook.com/InstitutoPauloFreireIPF/ ]


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      Jornada ‘Paulo Freire em tempos de fake news’. Inscreva-se gratuitamente: http://www.eadfreiriana.org/jornada-pftfn
      #InstitutoPauloFreire #EaDFreiriana #PauloFreireSempre #PatronodaEducaçãoBrasileira

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  22. Boa noite, ótimo proposta de reflexão.
    Concordo quando é colocado que o pensamento de Paulo Freire foi reduzido a seu método de ensino, creio que todos nós em algum momento somos reduzidos, a partir e para nossas próprias escolhas. Atualmente vemos educadores reduzidos a engrenagens travadas, que em um primeiro são impostas pelo sistema educacional e posteriormente por eles mesmo. Como nós educadores, enquanto agentes desse sistema, conseguiríamos nos sobrepor a essa política que além de limitar nosso desenvolvimento ainda nos faz acreditar nela?

    Att, Mariane Zanetti Luciano

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    1. Olá Mariane... obrigado pela análise e inserção de sua questão – muito pertinente! E sempre nos instiga a repensar as contribuições de Freire para sua época e para os dias atuais. O desafio é muito grande pensando a nossa conjuntura brasileira e mundial – tempos de não só da hegemonia do capital-imperialismo, mas sobretudo, de uma ultra-direita no governo brasileiro.
      O cenário político-econômico faz parte desses desafios da educação de caráter emancipador e crítico, aonde temos o papel de debater não somente de forma teórica, mas sobretudo, construir instrumentos de análise, planejamento, luta e resistência! Superar a acomodação e assimilação de boa parte dos sujeitos da educação por um modelo hegemônico e opressor não é tarefa fácil. Por sua vez, é necessário o embate e organização de alternativas nos diversos campos.
      Em nosso texto colocamos: “A proposta de discutir em grupo as contribuições de Paulo Freire para pensarmos a educação e seus projetos na atualidade possibilita vislumbrarmos a construção de estratégias na e para a luta por uma educação que permite o pensamento crítico, a liberdade, a dialogicidade. Por sua vez, o desafio que temos é de apropriarmos em coletivos nas escolas, universidades, movimentos sociais, do campo e da cidade, na busca de refletir e vivenciar as práticas e saberes de uma educação que ultrapasse os muros da própria educação”. Em nossa região e em diversas outras regiões do Brasil (não como algo somente dos dias atuais) os coletivos ou grupos de estudo e de trabalho buscam não ficar somente na leitura e análise das obras de Freire e de outros autores desse campo da teoria crítica e libertadora, mas sobretudo, pensar e vivenciar práticas com o objetivo transformador de seus territórios – o uso dos círculos de cultura como espaço de troca de saberes e de planejar e problematizar as próprias práticas é um caminho que consideramos fundamental na luta e ações de resistência. Mas esse trabalho é um desafio continuo e atualmente deve ser o máximo multiplicado!

      Grato pelos comentários! E estamos à disposição para novas questões e para o debate!!! Abraços

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  23. Olá!! Bela reflexão sobre a atualidade do pensamento de Paulo Freire e a atualidade do seu pensamento. Estamos vivendo em um período adverso e antidemocrático. Os ataques a liberdade do pensamento crítico tem se pauta oficial do atual governo. Neste sentido, não existe um corporativismo presente no seio dos educadores? Não existe uma certa indiferença quanto a dura realidade social em que vivemos? Jairo Araújo dos Santos

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    1. Olá Jairo... Obrigado pelos comentários... E aqui reproduzo parcialmente uma discussão realizada com outro leitor.
      Sem dúvida que o projeto de Governo Federal e de muitos governos estaduais no Brasil apresentam um discurso e ações declaradamente contra todos aqueles se colocam em perspectiva não-conservadora. A obra de Freire não está fora desse alvo do governo e de movimentos civis ultraconservadores
      Em nosso texto colocamos: “Nesse sentido que propusemos discutir as contribuições de Freire para a construção de estratégias na luta por uma educação que possibilita o pensamento crítico, a liberdade, a dialogicidade e não à lei da mordaça como reivindica o projeto lei 867/2015 que refere-se ao projeto “Escola sem partido” que está em andamento no Brasil [aqui citando só uma das ações do atual governo e que também foram efetivadas em outras épocas da nossa história, inclusive com força no período da ditadura militar].”.

      Contudo, torna-se fundamental resgatar e fortalecer os espaços de debate e análise da educação em seu âmbito de superar os mecanismos de silenciamento e exclusão – o pensamento freireano não morre pelos discursos ou leis impostas pelos atuais governos ou diversos grupos que clamam por não “doutrinação de esquerda”, mas para isso necessário que as organizações do campo da educação, dos movimentos sociais e outras organizações da classe trabalhadora tenham consciência que devem não somente repensar a partir do Freire, mas repensar o projeto de sociedade vigente e o que desejamos no presente e futuro. Essas questões se refletem na “sala de aula” e nos mais diversos espaços da educação – e o papel dos educadores e educadoras é fundamental, porém, não basta transferir essa responsabilidade aos sujeitos da educação, pois as lutas e instrumentos de resistência devem se multiplicar nas escolas, nas comunidades, na relação da escola com as universidades, na formação profissional dos cursos de licenciaturas e outros.
      Como você coloca em sua pergunta sobre a INDIFERENÇA – essa atitude pode representar muitas coisas no âmbito tanto dos espaços escolares quanto da sociedade em geral. A indiferença fere o ser humano naquilo que lhe é mais pertinente – o ato justamente de pensar e refletir sobre si e sobre o mundo! Para isso, o nosso desafio em provocar os educadores e educadoras e todos os profissionais do campo da educação a repensarem seus projetos de vida e de sociedade – querem uma sociedade já dada e definida pelos opressores ou se incomodarem e começarem a serem não-indiferentes, isto é, se colocarem como sujeitos que pensam a educação e vivem transformações – o que Freire diria na Pedagogia da Autonomia.

      Enfim, a ameaça está declarada, mas é importante dizer que esse desafio é contínuo. E o debate que esse Simpósio nos possibilita é também um desses instrumentos para não calarmos.

      Grato pelos comentários! E estamos à disposição para novas questões e para o debate!!! Abraços

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  24. Olá, boa noite!

    Vocês poderiam aprofundar um pouco a explicação sobre o conceito de "Círculo de Cultura" e como poderia ser usado de forma prática como ferramenta pedagógica? Há casos que possam ser citados como exemplo?

    Obrigada,
    Renata T. P. Mendonça

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    1. Olá Renata... Importante antes de qualquer resposta a seus comentários dizer que é fundamental elaborar uma boa revisão sobre “círculos de cultura” na obra de Freire e outros autores que dialogam com ele, mas também na busca de construir a reflexão dos círculos de cultura não somente nos seus aspectos metodológicos, sobretudo percebê-los como espaços de dialogicidade e criticidade.
      A organização e desenvolvimento de Círculos de Cultura está relacionado a proposta de Paulo Freire e visa a promoção de práticas formativas situadas que vivenciem seus princípios de construção coletiva, dialógica e participativa. Exercitando essa proposta pretende-se ofertar encontros nos quais os participantes, após a leitura prévia de obras ou a problematização de suas vivências, participam como sujeitos da construção de reflexões e proposições possíveis para reinvenção das práticas educativas. A definição dos sujeitos e grupos envolvidos é um dos aspectos centrais na organização dos Círculos de Cultura, pois nas dinâmicas dos círculos devem se propor a efetiva participação que não se limite aos aspectos teóricos do conhecimento, mas sobretudo nas práticas de transformação dos territórios onde estão inseridos. Enfim, muitos outros fatores deveriam ser postos para a melhor compreensão e uso dos Círculos de Cultura, no entanto, indico que elabore uma pesquisa junto ações de movimentos sociais da cidade e do campo, nos quais utilizaram e utilizam também o pensamento freireano em seus princípios político-pedagógicos.

      Grato pelos comentários! E estamos à disposição para novas questões e para o debate!!! Abraços

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  25. Boa noite! Parabéns pelo artigo. Tendo em vista o posicionamento de Freire em buscar não só educação mas formadores de opinião, construção de senso crítico sob o que acontece perante a toda e qualquer realidade,vale ressaltar a grande quantidade do analfabetismo funcional no Brasil, fato q ocorre muito até mesmo dentro sa escolas, adolecentes munidos de teorias e conteúdos porém, com a grande falha no senso crítico e na interpretação, fator bastante visível no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). É importante pontuar também, o difícil acesso da boa educação, cultura, informação, sobre tudo pessoas com sabedoria pra passar aos demais conhecimentos embasados e menos "rotulados" e superficial, nas periféricas, diante da marginalização entre outras realidades. Sob essa conjuntura, é notória a necessidade de mudança sem morosidade, qual a sua sugestão para melhorias nesse setores não só da educação mas como visão de mundo, a curto prazo?
    Desde já, obrigada!
    Maria Eugênia Campos De Medeiros Sanders

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    1. Olá Maria Eugênia... concordamos com seus comentários sobre os limites dos processos de ensino-aprendizagem para a formação de sujeitos pensantes e críticos. E sobre sua questão pensamos que as transformações não somente no campo da educação, mas nos mais diversos setores da sociedade, em função de suas características complexas e dinâmicas possivelmente não mudam por ações imediatistas ou sem um processo contínuo de grande reflexão e planejamento do repensar as perspectivas de mundo.
      Contudo, a curto prazo é importante um movimento de sair do lugar do senso comum e do comodismo de grande parte dos sujeitos envolvidos nos processos de educação – não queremos dizer que esse comodismo é algo consciente – é produto da violência de minimização dos espaços de debate e dialogicidade entre os diversos sujeitos e grupos da sociedade.
      Em nosso texto colocamos: “A proposta de discutir em grupo as contribuições de Paulo Freire para pensarmos a educação e seus projetos na atualidade possibilita vislumbrarmos a construção de estratégias na e para a luta por uma educação que permite o pensamento crítico, a liberdade, a dialogicidade. Por sua vez, o desafio que temos é de apropriarmos em coletivos nas escolas, universidades, movimentos sociais, do campo e da cidade, na busca de refletir e vivenciar as práticas e saberes de uma educação que ultrapasse os muros da própria educação”. Em nossa região e em diversas outras regiões do Brasil (não como algo somente dos dias atuais) os coletivos ou grupos de estudo e de trabalho buscam não ficar somente na leitura e análise das obras de Freire e de outros autores desse campo da teoria crítica e libertadora, mas sobretudo, pensar e vivenciar práticas com o objetivo transformador de seus territórios – o uso dos círculos de cultura como espaço de troca de saberes e de planejar e problematizar as próprias práticas é um caminho que consideramos fundamental na luta e ações de resistência. Mas esse trabalho é um desafio continuo e atualmente deve ser o máximo multiplicado!

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  26. Partindo dessa perspectiva da pedagogia do oprimido e dos trabalhos de educação que o Paulo Freire tem. Eu gostaria de saber quais os principais motivos dos seus projetos serem tão mal vistos em nossa sociedade, sendo que, internacionalmente o autor é extremamente memorável e tem seus modelos aplicados em outros países
    Gabriel Vinícius Moraes Rodrigues

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    1. Ola Gabriel... Paulo Freire e seus pensamento é amplamente divulgado e utilizado em muitos outros países para contribuir na discussão do papel da educação na formação dos sujeitos pensantes e críticos.
      No Brasil não podemos simplesmente afirmar que ele não foi utilizado, por sua vez, esse uso e interpretação do seu pensamento e dos seus métodos de educação foram muito mais apropriados pelos movimentos sociais e organizações de classe. E, pelo contrário, em muitos momentos fortemente combatido e silenciado nas estruturas do Estado - no período militar principalmente e mais recentemente nos discursos e ações do atua governo e movimentos ultra-conservadores como "Escola sem partido".
      Contudo, é fundamental que o processo de reflexão e mobilização por uma educação que tenha por princípio a criticidade e dialogicidade enquanto instrumentos de libertação não se calem. Necessário desenvolver estratégias de organização dos espaços de debate não somente do pensamento freireano, mas dos pensadores da teoria crítica e libertadora nos diversos níveis da educação, dentro e fora da escola, nas universidades, nas comunidades, junto aos movimentos sociais e organizações da classe trabalhadora!

      Enfim, agradecemos seus comentários e participação! Abraços

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