A
REFORMA DO ENSINO MÉDIO, SUAS INCONSISTÊNCIAS E O LUGAR DAS CIÊNCIAS HUMANAS
A
problemática e os engodos da reforma
O uso de medida
provisória como instrumento de mudanças estruturais em políticas públicas expõe
um governo com dificuldades de diálogo junto à sociedade. Reside nesse aspecto
a primeira característica antidemocrática da reforma do ensino médio durante o
governo Temer. Sua aprovação no Congresso também foi acelerada, impedindo uma
discussão mais profunda entre estudantes, professores e profissionais da área
educacional a fim de avaliar os reais impactos desta medida.
Deve-se registrar que
há anos o assunto vinha sendo pauta de debates, com projetos em discussão nos
fóruns educacionais e no próprio Congresso Nacional, o que foi desconsiderado
pela MP 746.
O recurso utilizado
para tentar aproximar a população da reforma consistiu na disseminação de
propagandas que cultivaram principalmente a expectativa de desengessamento do
ensino médio e o suposto ganho de autonomia do estudante. Aplicou-se, ainda, o
discurso do caos para justificar as mudanças aceleradas impostas pelo governo,
explorando informações sobre os problemas existentes nesta etapa de ensino,
como o alto índice de evasão e o baixo desempenho dos alunos em avaliações
padrões nacionais.
Uma observação mais
atenta, todavia, nos revela a opção por uma reforma seletiva em lugar de um
investimento ampliado baseado em experiências que, embora tenham sido pouco
aplicadas na rede pública, são consideradas de sucesso nos locais onde
ocorreram. Como destacado por Moura e Filho (2017):
“Ao fazer política de
terra arrasada sobre o EM público, o discurso oficial omite experiências
positivas, em particular no ensino médio integrado à educação profissional
(EMI) realizado em inúmeras escolas estaduais e na rede pública federal (Cefet,
Institutos Federais, escolas vinculadas às universidades federais, Colégio
Pedro II e UTFPR). Tais escolas se destacam em qualidade porque, dentre outras
razões, reúnem o que em linhas anteriores denominamos condições de
funcionamento necessárias, aliadas à concepção de formação humana integral, com
a integração entre ciência, tecnologia, cultura e trabalho como eixos
norteadores do currículo” (MOURA; FILHO, 2017, p. 120).
Devemos ressaltar que
as escolas em tempo integral no Brasil são em maioria privadas e destinadas às
famílias de classes médias e altas, haja vista seu alto custo. Segundo dados do Censo Escolar de 2016,
somente 6,4% dos alunos do ensino secundário encontravam-se em tempo integral à
época da pesquisa.
Se a ideia da reforma
de ampliação do ensino médio das atuais 2.400 horas para 3 mil horas parece
interessante num primeiro momento, a grande incógnita reside na inviabilidade
de sua aplicação na rede pública sem que haja financiamento estatal de peso, a
considerar a redução de investimentos que a educação pública tem vivido. Ao
contrário, pode gerar uma dificuldade a mais para os gestores educacionais
terem de resolver. Como apontado por Mocarzel, Rojas e Pimenta (2018, p. 169):
“A reforma apresenta-se
como um problema para os gestores dos sistemas de ensino e também para os
escolares, que terão que reorganizar espaços, buscar orçamento para construir
mais salas de aula, contratar mais professores, comprar mais merenda escolar”.
Ademais, pode gerar
uma dificuldade adicional para o estudante trabalhador que, num contexto de
crise econômica, tem saído cada vez mais cedo de casa para trabalhar e
contribuir junto à renda familiar. Como manifestado pelos mesmos autores:
“O açodamento da
medida, sem consulta prévia é seu maior problema, acompanhado do perfil do
aluno do Ensino Médio, que muitas vezes trabalha e contribui com a renda
familiar e que talvez não tenha interesse ou condições de permanecer na escola
durante 7 horas, o que pode agravar o problema da evasão, que é uma constante
no Ensino Médio” (MOCARZEL, ROJAS, PIMENTA, 2018, p. 169).
A pressa na aprovação
da Lei também foi alvo de críticas pelo meio acadêmico, posto que a reforma foi
divulgada com alguma antecedência da Base Nacional Curricular Comum (BNCC), cuja
resolução do ensino médio somente foi aprovada no dia 04 de dezembro de 2018,
sendo homologada pelo MEC no dia 14 de dezembro de 2018. A previsão é de que as
etapas do ensino fundamental e médio sejam implementadas no início do ano
letivo de 2020.
O texto
da Base segue a reconfiguração do ensino médio apregoada pela reforma,
separando o ensino por áreas (Ciências Humanas, Ciências da Natureza,
Linguagens e Matemática), além de indicar apenas português e matemática como
disciplinas obrigatórias nos três anos. Uma das principais críticas a BNCC questiona a ausência
de um detalhamento dos conteúdos das áreas de ciências humanas e ciências da
natureza.
A maneira ampla e genérica que as competências
são abordadas, provocou novas críticas ao documento da BNCC aprovado. Um dos possíveis desdobramentos desse não detalhamento dos
conteúdos e habilidades é a ampliação das desigualdades escolares entre os
estados, desencadeada pelas diferentes condições de investimento, representando
mais um desafio de implementação nas diferentes realidades do país.
Com
relação ao aumento de carga horária do ensino médio, apenas 1.800 horas serão destinadas
aos conteúdos das disciplinas obrigatórias, encaixadas dentro das áreas
definidas pela BNCC. As demais 1.200 horas serão destinadas ao caminho
escolhido pelo estudante dentre os itinerários disponíveis, sendo cinco eixos
formativos: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e
formação técnica e profissional. A perspectiva
subjacente de escolha do estudante, contudo, esconde um engodo. A
flexibilização é da oferta a ser definida pelas escolas e sistemas educativos e
não de construção de itinerários de formação dos estudantes, a partir dos seus
interesses e aspirações em suas escolas e municípios, como o governo passado
quis fazer crer (OJ, 2017).
O ponto central a ser
ressaltado é que, conforme a nova Lei, não há obrigatoriedade de oferta de
todos os eixos formativos pelas escolas, ficando a cargo de cada instituição
definir quais efetivamente serão oferecidos aos estudantes. Observando os
problemas de infraestrutura da maioria das escolas públicas, como a ausência de
instalações físicas adequadas, bibliotecas, laboratórios, espaços para a prática
esportiva e atividade artístico-culturais somos levados a imaginar que muitos
serão os obstáculos para que as escolas ofereçam todos os itinerários
formativos.
Há um risco real de que os sistemas educativos não
ofereçam itinerários nas áreas em que há pouca disponibilidade de professores. Se isso efetivamente acontecer, jovens
da rede pública encontrar-se-ão diante da falsa possibilidade de escolha, ao
invés de uma ampliação, caracterizando uma lógica dual segundo a qual uma
oferta de ensino sem igualdade de condições poderá acentuar ainda mais as
disparidades educacionais do país.
Os estudantes
oriundos de famílias com melhor condição econômica poderão se formar em
quaisquer dos itinerários formativos, já que poderão pagar pelas escolas que
realizam essa oferta, enquanto os estudantes de escolas públicas terão de se
contentar com o que for oferecido pela unidade que frequentam (PENNA, 2017).
A
relação com o mercado
As características
desta MP convertida em Lei evidenciam a visão neoliberal que encampa as
modificações educacionais efetuadas pelo governo Temer e que, a considerar as
promessas de campanha, tendem a continuar no governo Bolsonaro. O ensino médio,
orientado, segundo a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), para “uma formação comum
com vistas ao exercício da cidadania e ao fornecimento dos meios para progredir
no trabalho e em estudos posteriores” (BRASIL,
1996, art. 22), com a reforma, aproxima-se do mercado.
Devido à ausência de professores de todos os itinerários
formativos na rede pública, esse sistema poderá ser levado a priorizar a
“formação técnica e profissional” uma vez que, para atuar nesta área, está
autorizada a contratação de “profissionais com notório saber”. Trata-se de uma
equivocada percepção de que basta saber o conteúdo para poder transmiti-lo,
quando na verdade a formação docente necessita de ampla formação desenvolvida
por diversos eixos pedagógicos dos cursos de licenciatura.
Frigotto, Ciavatta e
Ramos (2005) fazem uma crítica a essa concepção utilitária e mercadológica que
privilegia a inserção dos estudantes no mercado de trabalho à sua formação
humana integral:
“A ideia de formação
integrada sugere superar o ser humano dividido historicamente pela divisão
social do trabalho entre a ação de executar e a ação de pensar, dirigir ou
planejar. Trata-se de superar a redução da preparação para o trabalho ao seu
aspecto operacional, simplificado, escoimado dos conhecimentos que estão na sua
gênese científico-tecnológica e na sua apropriação histórico-social. Como
formação humana, o que se busca é garantir ao adolescente, ao jovem e ao adulto
trabalhador o direito a uma formação completa para a leitura do mundo e para a
atuação como cidadão pertencente a um país, integrado dignamente à sua
sociedade política. Formação que, neste sentido, supõe a compreensão das
relações sociais subjacentes a todos os fenômenos” (FRIGOTTO, CIAVATTA,
RAMOS, 2005 apud MOURA, FILHO, 2017, p.85).
Pacievitch,
Motin e Mesquida (2008), advertem que os parâmetros curriculares com os quais
nos deparamos constituem uma formação pragmática destituída ao máximo de
conteúdos que envolvam a capacidade do indivíduo de colocar o mundo sob
análise, de modo que o trabalhador egresso da instituição escolar torna-se
quase tão somente adestrado para o trabalho.
Com a possibilidade
de a Lei 13.415 dar mais espaço à atuação da rede privada de ensino, avança-se
às orientações liberais que marcam o atual estágio do capitalismo e que o
Brasil tem visto crescer no pós-impeachment
de Dilma Rousseff (PT). No ideário neoliberal, o Estado reduz seus
investimentos sociais em nome da liberdade de mercado, resultando na
precarização da educação pública a despeito dos discursos de negação e de
proclamação da sua prioridade.
O reforço deste
posicionamento ocorre especialmente em tempos de crise, escondendo a natureza
sistêmica e até mesmo necessária destas crises para a reconfiguração do
capitalismo, tal como explicado por Frigotto (2017):
“Sendo o capitalismo
uma sociedade de classe e frações de classe, na ganância pelo lucro (...) a
história nos mostra que tem se resolvido por guerras, revoluções e golpes. Por
outra parte, trata-se de uma sociedade que tem em sua estrutura a crise como o
seu motor. Uma crise cada vez mais profunda e que o seu enfrentamento se
efetiva por destruição de meios de produção e de forças produtivas, em
particular eliminando direitos das classes trabalhadoras” (FRIGOTTO, 2017, p.
18-19).
A reforma, com isso,
apresenta-se como aliada aos interesses de mercado predominantes na educação
brasileira cujos representantes enfrentam significativos prejuízos após um
período de altos ganhos econômicos nos anos 2000. Nesse sentido, Cunha (2017)
salienta:
“Há alguns anos o
segmento privado do Ensino Superior está em crise. Depois de vários anos de
acelerado crescimento, para o que não faltou apoio governamental, as falências
de faculdades, centros universitários e até de universidades levaram a uma
concentração institucional sem precedentes. Grandes grupos se formaram a partir
de capital nacional e internacional, absorvendo pequenas e médias instituições.
Agora, até as grandes se fundem e disputam o mercado” (CUNHA, 2017, p. 373).
Diante deste cenário,
e mediante a atual orientação política na área educacional, Cunha (2017),
valendo-se de um suporte histórico, traça um horizonte de relevante
preocupação:
“Política educacional
“contenedora” no Segundo Grau/Ensino Médio, para desviar demanda do Ensino
Superior, já tivemos na ditadura e no octênio Fernando Henrique Cardoso.
Estamos destinados a repetir o passado? Presumo que pode ser ainda pior do que
isso. Durante a ditadura, não faltaram propostas de transferência das
universidades públicas para o setor privado, pelo menos para que elas passassem
a cobrar mensalidades a preço de mercado. Tais propostas não se concretizaram
devido à grande resistência de estudantes e professores, assim como pelo
aumento da oferta de vagas nas universidades e faculdades privadas. Hoje, o
caldo de cultura ideológica favorece a adoção de tais medidas, que podem
funcionar como contraponto à penalização das instituições privadas, que
perderam parte das benesses do FIES” (CUNHA, 2017, p. 383).
As
ciências humanas no ensino médio e os impactos da reforma
O estreitamento do
currículo, com a retirada de disciplinas de demarcada importância, compromete a
qualidade do ensino e vai contra a concepção de formação integrada que busca
munir o estudante de instrumentos essenciais à compreensão de sua realidade.
Observemos que, na
nova Lei, está prevista apenas a obrigatoriedade de “estudos e práticas de Educação
Física, Artes, Sociologia e Filosofia”. Com isso, não se determina a
obrigatoriedade das disciplinas, mas apenas de seus estudos, deixando em aberto
a preocupante possibilidade de como esses conteúdos serão desenvolvidos.
Ao se refletir sobre
o lugar de disciplinas de Humanas na educação básica, em particular da
Sociologia, da História, da Geografia e da Filosofia, é possível afirmar que
suas aulas proporcionam ao estudante o contato com ferramentas de potencial
análise do mundo de forma crítica e abrangente, permitindo aos jovens a
interpretação do cotidiano com a consciência de que os fenômenos políticos,
econômicos, geográficos e culturais são fruto de um amplo processo histórico e
social.
Essa perspectiva
emancipadora faz com que estas disciplinas despertem o enfrentamento de
defensores de uma educação conservadora. Como materialização da ofensiva contra
algumas áreas formativas, a primeira proposta de reforma oferecida pelo governo
Temer retirava a obrigatoriedade, Filosofia e Sociologia do currículo, assim
como de Artes e Educação Física. Após forte mobilização social, o texto final
foi modificado pelo Congresso, passando a apresentar a já mencionada
obrigatoriedade de “estudos e práticas” destas disciplinas.
A reforma do ensino médio e a elaboração da BNCC ilustram
o recente contexto de disputas na sociedade brasileira. Ao optar por um
documento mais amplo, não definindo as habilidades a serem estudas nas áreas de ciências humanas e ciências da natureza, por
exemplo, o governo mais uma vez explicita sua dificuldade em dialogar com os
profissionais que apontaram as prováveis consequências negativas dessa
indefinição, tal como um aumento das desigualdades já existentes no âmbito
educacional.
Essa abordagem mais genérica dos conteúdos já tinha sido
exposta durante o processo de elaboração da BNCC para o ensino fundamental. Os
temas relacionados a gênero e orientação sexual foram direcionados para a
parte de ensino religioso em uma das últimas versões do documento, medida
bastante criticada pelos educadores. No entanto, tais habilidades, que seriam
trabalhadas no 9º ano do ensino fundamental, sequer foram apresentadas na versão final do documento divulgado pela Comissão Nacional de
Educação. Desta forma, temáticas de grande relevância para a formação dos
estudantes passaram a compor o documento de maneira implícita, fato que
dificulta a abordagem de temas como a violência contra a mulher, gravidez na
adolescência e homofobia, por exemplo.
Considerações
Finais
Tendo em vista o
cenário descrito, preocupa-nos as possíveis consequências da Lei 13.415/2017,
principalmente no que se refere ao acesso efetivo à educação pública, uma vez
que as alterações propostas podem servir apenas para acirrar as disparidades já
existentes.
Ao se implementar os
itinerários formativos no ensino médio, será suprimida a diversidade de
conhecimentos presentes nessa etapa de ensino, reduzindo o contato dos jovens
da rede pública à conteúdos fundamentais para sua formação humana e cidadã.
Como defendido por
Ferreira e Filho (2017), um indivíduo dotado de habilidades e competências para
manejar os preceitos da democracia e da cidadania transita melhor em ambientes
marcados pela diversidade, contribuindo de forma determinante para a afirmação
e para a ampliação de direitos.
É preocupante que a
nova Lei não tenha tratado de questões realmente estruturantes da educação
brasileira, como as condições de infraestrutura da rede pública ou das
condições do trabalho docente nas escolas públicas do país, fatores
imprescindíveis para um ensino de qualidade. Não parece que o caminho para
atacar os problemas do ensino médio seja o estímulo da formação para o mercado,
tampouco a abertura para os interesses do capital, mas sim o investimento numa
escola pública de qualidade e que valorize todo tipo de conhecimento.
Referências
Walace Ferreira é
doutor em Sociologia pelo IESP/UERJ e Professor Adjunto de Sociologia no
CAp-UERJ. E-mail: walaceuerj@yahoo.com.br
Diego Cavalcanti de
Santana é mestrando em Ciências Sociais no PPCIS/UERJ. E-mail: diego.dimassantana@gmail.com
BRASIL. Lei de
Diretrizes e Bases. Lei nº. 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm
BRASIL. Lei
n. 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13415.htm
BRASIL.
MEC. Orientações Curriculares para o Ensino Médio. Ciências Humanas e suas
Tecnologias. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Brasília,
DF, 2006. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_volume_03_internet.pdf
CUNHA, Luiz Antônio.
Ensino médio: atalho para o passado. In: Revista Educação e Sociedade,
Campinas, v.38, n. 139, p. 373-384, abr./jun. 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v38n139/1678-4626-es-38-139-00373.pdf
FERREIRA, Walace;
FILHO, Albert Alvadia. A serpente pedagógica: o projeto Escola sem Partido e o
ensino de Sociologia no Brasil. In: Revista e-mosaicos, v.6, n.12, ago. 2017.
Disponível em: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/e-mosaicos/article/view/30272/21433
FRIGOTTO, Gaudêncio. A
gênese das teses do Escola sem Partido: esfinge e ovo de serpente que ameaçam a
sociedade e a educação. In: FRIGOTTO, G. (Org.). Escola “sem” partido: esfinge
que ameaça a educação e a sociedade brasileira. Rio de Janeiro: UERJ, LPP,
2017.
FRIGOTTO, G.;
CIAVATTA, M.; RAMOS, M. Ensino médio integrado: concepção e contradição. 1. ed.
São Paulo: Cortez, 2005.
MOCARZEL,
M. S. M. V.; ROJAS, A. A.; PIMENTA, M. F. B. A reforma do ensino médio: novos
desafios para a gestão escolar. In: RPGE – Revista on-line de Política e Gestão
Educacional, Araraquara, v.22, n. esp.1, p. 159-176, 2018. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/rpge/article/download/10788/7196
MOURA, D. H.; FILHO,
D. L. L. A reforma do ensino médio: regressão de direitos sociais. In: Revista
da Escola de Formação da CNTE (ESFORCE), v.11, n.20, jan./jun. 2017. Disponível
em: https://www.cnte.org.br/images/stories/retratos_da_escola/retratos_da_escola_20_2017.pdf
OJ
(OBSERVATÓRIO DA JUVENTUDE). Texto para discussão - Reforma do Ensino Médio -
MP 746/2016. Elaborado por professores da Faculdade de Educação da UFMG. Belo Horizonte, dezembro
de 2016. Disponível em: http://observatoriodajuventude.ufmg.br/texto-para-discussao-reforma-do-ensino-medio-mp-7462016/
PACIEVITCH, T.;
MOTIN, G.; MESQUIDA, P. O mercado da pedagogia e a pedagogia de mercado:
reflexos do neoliberalismo sobre a educação. In: Anais EDUCARE, PUC/PR, 2008.
Disponível em: http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/757_614.pdf
PENNA, Fernando.
Fernando Penna (UFF) sobre a Reforma do Ensino Médio. Vídeo. Publicado em 5 de abril de 2017. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=L6nQ8PyzYkA
É bem preocupante essa reforma porque vai tirar como discplinas obrigatórias as matérias de humanas. Isso é complicado, até porque com isso, os alunos estarão adquirindo menos conhecimento no âmbito escolar. O que vc acha de que o estudo de História, Sociologia, Filosofia e Geografia não sejam mais considerados como disciplinas obrigatórias? Isso é totalmente desnecessário para mim porque vai prejudicar tanto os estudantes de graduação desses cursos quanto aos alunos que terão que optar por quais disciplinas fazerem.
ResponderExcluirErika Kaori Takaqui
Oi Erika, obrigado pela questão! Na verdade temos vários problemas envolvidos na reforma. O primeiro é que o conhecimento abrangente vai ser reduzido no ensino médio, prejudicando o estudante do contato de uma série de conteúdos destas e de outras disciplinas. Ademais, sabemos que a maioria das unidades escolares não terá condições de disponibilizar todos os itinerários formativos aos seus estudantes, limitando o poder de escolha e condicionando-os a estudar apenas o que puder ser oferecido. Um terceiro ponto, decorrente deste segundo, é a tendência de fortalecimento das redes particulares de ensino, que deverá oferecer todos os itinerários, em detrimento do fortalecimento do setor público - garantido constitucionalmente e que deveria ser o principal alvo de investimento do poder público. Falando especificamente das disciplinas de humanidades, seu enfraquecimento é um projeto político que está posto, haja vista a tentativa de enfraquecimento da formação crítica e uma tendência de formação de mão de obra para o mercado.
ExcluirAbraços,
Walace Ferreira e Diego Cavalcanti de Santana.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá! Esse é um tema muito pertinente, especialmente no campo da área de Ciências Humanas porque deixa as disciplinas de Sociologia, Filosofia, Geografia e História diluídas no currículo. Como professora de Sociologia na educação básica no estado do Ceará percebo a dificuldade de trabalhar um olhar crítico diante do contexto político vigente. As alterações na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) não deixam claro como as mudanças serão implementadas e apavoram educadores das disciplinas citadas porque afetam diretamente a maneira como será realizado nosso trabalho. Terá o jovem maturidade para "escolher" o que vai querer estudar dentro do leque de itinerários formativos? Sabemos que a educação enfrenta um desmonte e que as mudanças no currículo da maneira como vem sendo colocada passa por cima dos principais agentes da educação: professores, gestores, alunos, pais e comunidade. Sem diálogo com esses sujeitos considero que a Reforma do Ensino Médio não ofertará uma educação de qualidade para a classe trabalhadora. A história de intermitências da Sociologia no currículo há tempos reflete o contexto político autoritário e opressor e é ameaçada constantemente quando temos um governo que não quer jovens críticos. Diante disso, como avaliar as mudanças no atual Ministério da Educação? Como propor uma Reforma do Ensino Médio que possa atender à uma educação crítica e libertadora? Vanderlene de Farias Lima.
ResponderExcluirPrezada Vanderlene, agradecemos sua contribuição ao debate. Muito obrigado! Suas reflexões também são as nossas. Suas preocupações também. Temos como cerne da formação dos nossos estudantes a cidadania e o estímulo ao pensamento crítico, o que infelizmente é combatido pelas orientações atuais do governo federal. O MEC vive uma inconstância muito grande, com políticas e ações paralisadas. Diante da troca de comando o que percebemos é que a linha ideológica permanece e ações práticas como a própria reforma do ensino médio e a implantação da BNCC estão abertas. Será que o governo terá capacidade de implantação de ações complexas como essas? Se sim, de que maneira, e como as mudanças chegarão aos estados? Para mim ainda não está claro. Disso dependerá nossas ações futuras. O importante é termos em mente a função e os objetivos formadores do nosso trabalho. Ademais, considero que a efetivação de uma educação libertadora está mais nas nossas mãos do que na orientação de qualquer governo, menos ainda no atual contexto. Governos passam, esta reforma entrará em vigor, mas entendemos que temos capacidade de seguir o trabalho com nossos alunos visando a formação para a cidadania.
ExcluirAbraços,
Walace Ferreira e Diego Cavalcanti de Santana.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito pertinente o tema de trabalhos dos dois, ao longo da leitura me trouxe uma dúvida. Como vai ficar os vestibulares com essa Reforma ? O Enem irá se adequar a cada currículo escolhido do aluno ?
ResponderExcluirPrezada Carolina, agradecemos pela pergunta!
ExcluirSim, o ENEM já tem previsão de mudança. Está programado para 2021 um exame com parte geral e outro com parte específica. O teste continuará dividido em dois dias: no primeiro, os alunos respondem a perguntas gerais, referentes à Base Nacional Curricular. Já no segundo, serão avaliados os chamados "itinerários formativos", ou seja, a área compatível ao curso que o estudante está concorrendo. Quanto aos vestibulares, nas instituições nas quais o ENEM não é seguido, a tendência é que também haja uma mudança.
Att,
Walace Ferreira e Diego Cavalcanti de Santana.
Parabéns pelo texto excelente e pela reflexão mais do que necessária! Tentarei não ser muito repetitiva visto os comentários já feitos, mas lendo o texto de vocês eu fiquei pensando que essa reforma traz à tona um questionamento que pode parecer amplo, mas que cuja a resposta já deixa evidente de que "lado" a pessoa está: qual a função da escola? É necessário que pensemos como esse novo governo vê a escola, qual a sua "utilidade", e sabemos muito bem a resposta quando observamos a retirada da obrigatoriedade das ciências humanas e exatas do currículo. Não é ideal para eles que crianças e adolescentes tenham desenvolvidas nas escolas capacidades para a pesquisa, ciência, pensamento crítico, para a análise de suas realidades. Opta-se por uma formação mecanicista e voltada ao mercado de trabalho - mas sem o preparo para uma formação humana e cidadã. A escola perde cada vez mais sua função de espaço acolhedor, de formador de seres humanos conscientes e engajados em suas comunidades. Não se preza mais por uma formação completa dos adolescentes, e nem se leva mais a sério a capacidade dos alunos de apreenderem sua realidade. Entristece muito esse momento em que vivemos. Enfim, agradeço pela disponibilização do texto!
ResponderExcluirAlana Thais Basso
Prezada Alana Thais Basso, agradecemos sua reflexão, a qual concordamos plenamente. Infelizmente essa tendência não é apenas do atual governo e da gestão do MEC, ela segue uma influência de agentes do mercado interessados na exploração da educação voltada para o lucro. Trata-se de uma área com grande potencial de negócio. Como as universidades estão em crise, depois da expansão verificada durante o período Lula, há atualmente uma tendência de o mercado expandir sua presença na educação básica. Nessa lógica, as humanidades parecem interessar pouco, assim como as reflexões estimuladas por esta área do conhecimento. Contudo, temos que lutar pela educação inclusiva, plural e pública, tal como consagrado na Constituição e afinada aos valores democráticos.
ExcluirAtt,
Walace Ferreira e Diego Cavalcanti de Santana.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir