COMO SE DEVE ENSINAR A HISTÓRIA DO PARÁ?
HISTORIOGRAFIA E PRODUÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS NA AMAZÔNIA
O presente texto é parte de uma
pesquisa de doutorado desenvolvida no Programa
de Pós-Graduação em História Social da Amazônia da Universidade Federal do
Pará- UFPA, e busca analisar o perfil das obras de natureza didática da
Historiografia Amazônica na década de 1930, na perspectiva de compreender o
aparato teórico e metodológico dos compêndios escolares elaborados pelos
historiadores amazônicos neste contexto, em especial a obra “Noções de História do Pará: Da
conquista e colonização à Independência”, de autoria do historiador paraense Ernesto
Horácio da Cruz, publicada em 1937, buscando investigar o perfil desta obra didática, a natureza de
sua narrativa e as influências historiográficas presentes na estrutura
narrativa do texto.
A obra “Como se deve escrever a
História do Brasil” de Von Martius, escrita originalmente em 1843 e publicado
na Revista do IHGB em 1844 destacou-se como o texto vencedor do concurso aberto
em 1840 por um dos fundadores do IHGB, Januário da Cunha Barbosa, o trabalho de
von Martius se enquadrava nos parâmetros solicitados pelo edital para a
definição de um plano para se escrever a história do Brasil, neste plano/artigo
“von Martius define as linhas
mestras de um projeto historiográfico capaz de garantir uma identidade -
especificidade à Nação em processo de construção” (GUIMARÃES,
1988. p.8). Na perspectiva de von Martius
o ofício de Historiador no Brasil neste momento, deveria ser pautado pela
compreensão de que:
“A história é uma mestra, não somente
do futuro, como também do presente. Ele [o historiador] pode difundir entre os
contemporâneos sentimentos e pensamentos do mais nobre patriotismo. Uma obra
histórica sobre o Brasil deve, segundo a minha opinião, ter igualmente a
tendência de despertar e reanimar em seus leitores brasileiros amor da pátria,
coragem, constância, indústria, fidelidade, prudência, em uma palavra, todas as
virtudes cívicas” (MARTIUS, 1845, p. 401).
Quase um século depois, na
historiografia brasileira ainda podemos encontrar impressas as marcas
desta historiografia do século XIX escrita aos moldes de Carl Friedrich Philipp
von Martius; o debate sobre a
construção da nacionalidade, bem como algumas teorias e metodologias da
História pautadas nas compreensões metódicas (positivistas) do
oitocentos, que influenciados pelo método de Langlois e Seinobos apresentado em
seu manual Instroduction aux études
historiques entendiam que “A função do historiador seria a de recuperar os
eventos[...] através da documentação e fazer-lhes a narrativa. A história se limitaria a documentos escritos
e oficiais de eventos políticos. O Estado destacava-se como sujeito histórico
universal” (REIS, 1999).
O Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, IHGB, por exemplo, dos anos 1930 e 1940 não recepcionou integralmente
algumas mudanças apresentadas pela historiografia brasileira deste momento,
caracterizada pelo “redescobrimento do Brasil” presente em obras e publicações
de intelectuais a exemplo de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio
Prado Júnior, bem como a influência dos primeiros cursos de História “da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, em
1934, e a Universidade do Distrito Federal (UDF), em 1935”, priorizando,
contudo, a manutenção de um projeto de história nacional, voltada para o estudo
das fundações da história do Brasil, com “um discurso erudito, impregnado de
influências historicistas, dotado de ordenação pragmática e matizado tanto pelo
romantismo como nacionalismo”, enfatizando os fatos nacionais e as lições dos
“grande homens” nas narrativas magistra
vitaes (COELHO, 1991, s/p). Nos vários Institutos históricos espalhados
pelo Brasil, suas instituições congêneres, as novidades historiográficas também
não se tornaram tão perceptíveis, pois em regiões mais distantes do centro Sul
do país, como foi o caso da Amazônia, por exemplo:
“Pesquisadores e historiadores regionais, ou autoditadas ou
formados em áreas do saber que não a da História, seguiram os passos dos pais
fundadores da historiografia brasileira contemporânea. Atrelados a uma leitura
essencialmente política e factual do processo histórico regional, ligeiramente
matizada por uma inspiração positivista mal trabalhada, construíram uma
narrativa deslocada da sua realidade maior. Uma crônica oficializada do poder e
da conquista, de governadores e de generais, de potentados e de bispos, extremamente
regionalizada e localizada. Uma crônica, portanto, reveladora do olhar
hierarquizado que organizou a sociedade de forma extremamente demarcada” (COELHO, 1994, p. 177-178).
Assim, as mudanças que afetaram o
cenário historiográfico nacional entre as décadas de 1930 e 1950 não atingiram
o país como um todo, pois, “os rumos seguidos pela pesquisa e pelo ensino da
História na Amazônia, por exemplo, tão logo iniciada a segunda metade deste
século [...] seguiu bem de perto o modelo oitocentista criado pelo Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro”, permanecendo as novidades historiográficas
circunscritas ao restrito ambiente acadêmico de São Paulo e do Rio de Janeiro,
e mesmo “vinte anos depois da criação, no início da década de 1930, das
primeiras Faculdades de Filosofia do país, o ensino superior de História do
Brasil tinha os seus quadros docentes formados principalmente por intelectuais
saídos dos Institutos Históricos e das Academias de Letras. Tomemos como
exemplo os livros didáticos utilizados na educação escolar neste contexto, pois
havia uma tradição dos historiadores dos institutos históricos na produção de
materiais para o ensino de história, conforme afirma Thaís Nívia Lima Fonseca,
ao se referir ao IHGB, os livros didáticos advindos do IHGB eram utilizados nos
ensinos primário e secundário, de modo que os vínculos entre o Instituto e o
ensino “[...] garantiriam a continuidade das formas de interpretação então
predominantes da História do Brasil, que passavam do IHGB às salas de aula das
escolas através da mediação dos livros didáticos (FONSECA, 2001, p. 93).
Nas principais capitais da Amazônia,
Belém e Manaus, dos anos 1930 encontramos esse vínculo entre os Institutos
Históricos e o ensino, em
obras como “Noções de História do Pará: Da conquista e colonização à Independência”,
de autoria de Ernesto Cruz, por exemplo, publicada em 1937, adotada nas escolas
primárias do estado do Pará, encontramos uma obra didática de História
organizada a partir de uma característica típica da historiografia brasileira à
época, marcada por “um passado histórico, ligado a uma
ideia de tempo linear, cronológico, datado e referido à memória de fatos e
personagens únicos, existentes numa sucessão à qual é vedado conviver com o
presente”
(GOMES, 1996. p. 143). Seu livro foi considerado pelo
intelectual amazonense e sócio fundador da Academia Paraense de Letras e do
Instituto Histórico e Geográfico do Pará, Manoel Lobato, como uma “obra de lenta gestação, cheia de pesquisas e
analyses, que comprovam a verdade. Foi elaborada com o fim de transmitir á
infância ideias Moraes e cívicas, geradoras dos grandes sentimentos e das
grandes energias” [...] [onde] são ventilados os fatos importantes da história
do Pará (CRUZ, 1937, 05).
Considerado
“historiador da cidade de Belém”, Ernesto Cruz caracterizou-se no IHGP como um historiador
da geração ensaísta desta capital, pois não possuindo formação acadêmica, posto
que o primeiro curso superior de História na região Amazônica data de 1954,
imprimiu em suas obras as paisagens e principais acontecimentos históricos de
Belém, escrevendo até sessenta e cinco anos de idade “um conjunto de vinte e
dois títulos, voltados para os estudos monográficos sobre temáticas ora
peculiares à memória de Belém, ora pertinentes à história do Pará” (COELHO,
1999. s/p). Em sua obra didática “Noções de História do Pará” Ernesto Cruz, em
que pese o trato da história do Pará na esteira da história do Brasil, acaba
por produzir uma narrativa cronológica, de fatos e biografias, algo que
guardava suas distâncias em relação ao chamado novo ensino de História do
Brasil, como pressupôs Pedro Calmon, três anos antes (1934), ao postular em sua
conferência sobre o novo ensino de História do Brasil, publicada pela Revista
da Educação da Sociedade Amazonense de Professores em 1934, destacando a
expressa necessidade de ensinar a história da civilização brasileira em
detrimento da história geral, de matriz francesa e inglesa. Calmon reverberava
os pressupostos de uma história brasileira miscigenada – um reflexo das teorias
da democracia racial advindas do pensamento Freyriano em Casa Grande &
Senzala –, uma história da civilização como conjunto da sociedade e seu
“progresso material e social” diferentemente da história da civilidade aos
moldes europeus, recomendando que essa história do Brasil seria implantada
“quando, nas escolas, a história social substituir à declamada história
chonologica do Brasil [...]” (CALMON,
1934, p. 2).
O
professor Pedro Calmon apresenta aos professores amazonenses e, por conseguinte
amazônicos, um novo modelo de ensino de história, notadamente brasileiro e
criticava o modelo estrutural da narrativa histórica difundida até aquele
momento, apresentando como não deveria ser o ensino de história no país:
Historia
sem alma, desfibrada da sua contextura viva, synthetizando em capítulos de
almanach, em taboas de datas, em theorias de fantasmas a sua interpretação do
passado – exterior, episodica, desinteressada historia entrelaçada sem verdade,
engendrada sem sciencia, desenvolvida fóra desta realidade singela e forte que
continuou mysteriosa e inexplicavel porque não coubera nos compendios e não
entrára nos collegios [...] (CALMON, 1934, p. 2).
Assim,
Pedro Calmon, autor de vários livros sobre a História do Brasil na década de
1930, influenciado pelos debates acerca da reformulação do Ensino de História
no país, realizado no primeiro governo Vargas, proclama a necessidade de um
modelo de ensino que chegue as “classes populares”, evidenciando a necessidade
de uma narrativa oficial que enfatize a História da civilização, “não a
historia espectral das nossas crises politicas; mas a história animada das
nossas fórmas sociaes” (CALMON, 1934, p. 2).
A obra de Ernesto Cruz publicada em 1937,
organizada em 20 capítulos, caracteriza-se pela estrutura convencional de
narrativa histórica, enfatizando em sua percepção, os principais personagens e acontecimentos
da História do Pará associados à história do Brasil entre a Colônia e a
Independência:
“I
Antecedentes Históricos; II Fundação de Belém; III Colonisação do Pará; IV
Francisco Roso Caldeira de Castello Branco (Traços biographicos); V O
desenvolvimento da Colonia; VI Luetas pela posse do Amazonas - O Pará integrado
no dominio Português. VII A bandeira de Pedro Teixeira. VIII Pedro Teixeira
(Notas biographicas). IX O Padre Antonio Vieira; X O Pará dependente do governo
do Maranhão; sua separação. XI A tomada de Cayenna; XII A Revolução
Constitucionalista de 1821. XIII Creação da Imprensa – “O Paraense”. XIV
Filippe Alberto Patroni Martins Maciel Parente (Tra. Biográficos). VX A Revolta
de 14 de Abril. XVI A adhesão do Pará á Independencia. XVII A revolta de
outubro – prisão do conego Batista Campos. XVIII A tragedia do brigue
“Palhaço”. XIX John Pascoe Greenfell (Notas biograp.) XX Dom Romualdo de Souza
Coelho (Notas biographicas) (CRUZ, 1937, 187).
Assim,
neste compêndio escolar, como em várias de suas obras produzidas
posteriormente, Ernesto Cruz demonstra um caráter de escrita positivista e ao
mesmo tempo pedagógica, “tratando-se de um modo de explicação histórica
amparado no que seria a chamada história dos acontecimentos, essencialmente
narrativa, marcada pela forma e pelo ritmo da crônica de feições novecentistas,
preocupando-se apenas “em destacar vultos e episódios, que permaneciam
injustamente esquecidos, respeitando, honestamente, o texto dos documentos” (COELHO,
1999, p. 21). Interessante observar na escrita didática de Ernesto Cruz duas
questões presentes na escrita da história paraense de outros historiadores
locais: primeiro a ideia de a História do Brasil iniciar-se na região do rio
Amazonas, contrariando as narrativas oficiais que tomam como ponto inicial da
história brasileira Porto Seguro na Bahia. Exemplo precedente foi o do
historiador e pintor paraense Theodoro Braga, que em 1908 produziu a tela A Fundação da Cidade de Nossa Senhora de
Belém do Pará, quando as cenas da chegada dos portugueses e a construção de
um forte resultando no contato com indígenas da região e a presença de uma
natureza peculiar com destaque para uma seringueira elevam à tela à condição de
narrativa de descobrimento, concorrendo assim com a narrativa fundadora da
história do Brasil (FIGUEIREDO, 2005).
Outro
elemento que chama atenção no compêndio é a estrutura organizacional da obra,
elaborada por pontos da História do Pará, uma tradição da didática da História
paraense, já apresentada em outras obras de História de natureza escolar, a
exemplo da obra do historiador paraense Arthur Vianna, intitulada Pontos de História do Pará, escrita em
1919. Não se perde de vista que o título da obra de Ernesto Cruz, Noções de História do Pará, ainda
oferece outro indício da tradição didática da historiografia paraense, a saber:
o uso da ideia de noção, como algo que permitia tratar de um vasto assunto de
modo resumido. Nestes termos, em 1898, o historiador paraense Hygino Amanajás
escreveu Noções de Educação Cívica: para
uso nas escolas, um material encomendado pelos primeiros governos republicanos
paraenses. Outras duas obras foram: Noções de Chorographia do Pará (1919), de
Theodoro Braga e Noções de História
Pátria: adaptadas nas escolas públicas do estado do Pará (1926) de Raymundo
Proença e Silvio Nascimento. Na prática, essas obras buscavam destacar as
efemérides da História patriótica regional e local e os heróis, os grandes
homes da História paraense, evidenciando uma preocupação com “um novo
sentimento de amor à pátria, à terra, que seria promovido por uma educação
cívica, centrada no espaço escolar” (GOMES, 2009, p. 11).
Teórica e
metodologicamente é importante atentarmos para a bibliografia utilizada e arquivos
pesquisados por Ernesto Cruz, pois constituem a base da construção narrativa do
autor, posto que é necessário conhecer, conforme afirma Michel de Certeau, “o
lugar social de produção destas narrativas, o universo institucional a que
pertenceram seus autores, o processo de produção (prática de escrita) das
mesmas e a natureza de suas escritas” (CERTEAU, 2008. p. 65-106), para
compreendermos a natureza de sua narrativa. Para melhor examinarmos este ponto,
apresentamos abaixo o quadro dos autores e arquivos consultados para a escrita
da obra:
OBRAS
|
AUTORES
|
Limites
do Pará - Goiaz
|
Eng.
Palma Muniz
|
História
do Rio Amazonas
|
Dr. Henrique Santa
Rosa
|
O
Maranhão
|
Fran
Pacheco
|
História
da Adhesão do Pará á Independência
|
Palma Muniz
|
Compêndios
das eras da Provincia do Pará
|
Antonio
Monteiro Baena
|
Motins
Politicos
|
Domingos Antonio
Rayol
|
Ruas de
Belém (Revista do Inst. H. G. do Pará)
|
Manuel
Barata
|
Revista
da Sociedade de Estudos Paraenses. Notas sobre a verdadeira data da Fundação
do Pará
|
J. Lucio de Azevedo
|
Pedro
Teixeira (Revista do Inst. H. G. do Pará)
|
M.
Braga Ribeiro
|
História
Colonial do Pará
|
Barão do Guajará
|
As
egrejas de Belém (Revista do Inst. H. G. do Pará)
|
M.
Braga Ribeiro
|
Annaes
Historicos do Estado do Maranhão
|
Bernardo Pereira de
Berredo
|
História
do Brasil
|
J.
l. de Abreu e Lima
|
Os
generais do Exercito Brasileiro (Trs. biográficos)
|
Alfredo Pretextato
Maciel da Silva
|
Ceará –
Homens e factos
|
J.
Brigido
|
D. João
VI no Brasil
|
O. Lima
|
LUGARES E ARQUIVOS PESQUISADOS
|
|
Collecção
de jornais pertencentes á Biblioteca e Achivo Público do Estado do Pará: Relatório dos governadores
do Estado
|
|
Diarios officiaes
pertencentes ao Archivo do Instituto Historico e Geographico do Pará.
|
|
Realizando
uma rápida análise das referências bibliográficas e arquivísticas utilizadas
por Cruz, percebemos a importância das gerações de intelectuais que precederam
o autor. Em linhas gerais, destaca-se representantes de duas épocas da
historiografia paraense: primeiro, observa-se que Cruz faz referências aos
conhecidos historiadores paraenses do século XIX, notadamente Antonio Monteiro
Baena e Domingos Antonio Rayol, membros do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro (IHGB), inclusive o segundo ficou imortalizado no Pará como patrono
do instituto histórico estadual; segundo, os engenheiros João de Palma Muniz e
Henrique Santa Rosa, responsáveis pela construção de uma tradição
historiográfica na Amazônia entre o final do século XIX e décadas iniciais do
século XX com a publicação de uma grande quantidade de obras e artigos,
revistas, mapas, dicionários, monografias, etc., que narravam “sobre o passado,
os limites territoriais e o espaço natural e urbano da região” amazônica
(MORAES, 2009, p. 14), na busca, conforme Moraes, da “identidade regional
amazônica, inserindo-a numa longa tradição marcada pelo desenvolvimento
progressivo da civilização [...] a partir da ótica do poder do Estado-Nação”.
No que se
refere aos documentos e arquivos pesquisados, Cruz cita as Revistas do
Instituto Histórico e Geográfico do Pará, e “Diarios officiaes pertencentes ao
Archivo do Instituto Historico e Geographico do Pará”, bem como a “Collecção de
jornais pertencentes á Biblioteca e Achivo Público do Estado do Pará- Relatório
dos governadores do Estado”. Dois espaços tradicionais de pesquisa na Amazônia,
destacando-se, em especial o Arquivo Público do Estado do Pará. Foi
neste espaço de documentação que durante décadas, segundo Ernesto Cruz (1973),
muitas pesquisas históricas foram concebidas por historiadores amazônicos como:
“Arthur Viana, Domingos Antônio Raiol, padre Serafim Leite, Lúcio de Azevedo,
Henrique Santa Rosa, Palma Muniz, Jorge Hurley, Manoel Barata e Arthur Cézar
Ferreira Reis” (CRUZ, Ernesto. Pesquisas Históricas. Jornal A Província do
Pará. Belém. 30/10/1973). O acervo deste arquivo guarda, de acordo com Cruz
(1969), “detalhes importantíssimos da conquista e da colonização, nos seus
diversos aspectos: - político, religiosos, econômico e social” [...],
documentos que destacam fases da formação da Amazônia em quase três séculos de
domínio português, 1616-1823” (MENDONÇA, Carlos A. de. Na Biblioteca Um
Historiador. Jornal Folha do Norte. Belém, 29/05/1969).
Portanto, dentre estes historiadores
menciona-se o próprio Ernesto Cruz, historiador que a partir de pesquisas
realizadas neste e em outros arquivos da Amazônia produziu inúmeras obras
acerca da História do Pará, a exemplo de “Noções
de História do Pará”, ajudando a construir uma tradição de pensamento histórico
na região, e uma bibliografia oficial sobre a História da Amazônia. Um
historiador que seguiu traços de uma historiografia didática paraense anterior,
com uso de pontos e noções, bem como uma estrutura convencional de narrativa
histórica. Historiador que diante de certa renovação no ensino de história do
Brasil realizada na década de 1930, persistiu nas leituras clássicas e no
modelo de história com traços oitocentistas, aos moldes do IHGB e sua
historiografia tradicional.
Referências da autora:
Lucilvana Ferreira Barros: Doutoranda em História Social da Amazônia pelo
Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Pará- UFPA.
Professora efetiva do curso de História do Instituto de Estudos do Trópico
Úmido, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará- IETU/UNIFESSPA. Pesquisa
de doutorado desenvolvida no Programa
de Pós-Graduação em História Social da Amazônia da Universidade Federal do
Pará- UFPA.
REFERÊNCIAS
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COELHO,
Geraldo Mártires. História e Identidade Cultural na
Amazônia. In: D‟ÍNCAO, Maria Angela;
SILVEIRA, Isolda Maciel (orgs). Amazônia
e a crise da modernização. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 1994.
COELHO, Geraldo Martires. Rito e Memória. Gráfica da Editora
Universitária. 1991. s/p.
CRUZ, Ernesto. Pesquisas Históricas. Jornal A Província do Pará. Belém.
30/10/1973.
CRUZ,
Ernesto. Procissão dos Séculos:
Vultos e Episódios da História do Pará. Belém. Imprensa Oficial do Estado.
1999.
CRUZ,
Ernesto. Noções de história do Pará:
da conquista e colonização á independência. [S.I]: Officinas Graphicas da
Livraria Internacional, 1937.
FERREIRA, Marieta de Morais. SILVA,
Norma Lucia da. Os caminhos da institucionalização do Ensino Superior de
História. História & Ensino,
Londrina, v. 2, n. 17, p. 283-306, jul./dez. 2011.
FIGUEIREDO, Aldrin Moura de. A tela e o fato: a invenção moderna e a
fundação do Brasil na Amazônia. In: FORLINE, Louis; MURRIETA, Rui; VIEIRA, Ima.
Amazônia além dos 500 Anos. Museu Paraense Emilio Goeldi, 2005.
FONSECA,
Thaís Nívia de Lima. “Ver para compreender”: arte, livro didático e história da
nação. In: SIMAN, Lana Mara Castro; FONSECA, Thaís Nívia de Lima (org.) Inaugurando a História e Construindo a
Nação: discursos e imagens no ensino de História. Belo Horizonte:
Autêntica, 2001.
GOMES, Ângela de Castro. História e Historiadores. Rio de Janeiro:
Editora Fundação Getúlio Vargas, 1996.
GOMES,
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cívica e história pátria: Brasil e Portugal. ANPUH – XXV SIMPÓSIO NACIONAL
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GUIMARÃES, Manoel Luís Salgado. Nação e
Civilização nos Trópicos: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o
projeto de uma história nacional. Estudos Históricos, n. 1, pp. 4-27, 1988.
LANGLOIS,
Charles-Victor & SEINOBOS, Charles. Introduction
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MARTlUS, Karl Friedrich Philipp von. Como se deve escrever a História do
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MENDONÇA, Carlos A. de. Na Biblioteca
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Belém, 29/05/1969.
MORAES,
Tarcisio Cardoso. A Engenharia da
História: natureza, Geografia e Historiografia na Amazônia. PPGH/UFPA,
Belém – Pará, 2009.
REIS, José Carlos. A História: entre a filosofia e a ciência – 2ª edição – São Paulo:
Ática, 1999.
Lucilvana Barros, parabéns pelo seu texto. Trata-se de uma pesquisa que possibilita o repensar sobre a questão do lugar da escrita da história regional no período da ditadura de Vargas e de fortalecimento do nacionalismo em perspectiva centralizadora. Foi muito pertinente a articulação que você fez entre as concepções de ensino de história de Pedro Calmon e Ernesto Cruz. Gostaria que você explicasse mais, se for possível, acerca da recepção da obra de Ernesto Cruz.
ResponderExcluirCordialmente,
Magno Francisco de Jesus Santos
Caro Magno Santos, obrigado pela leitura atenta do texto e a participação no simpósio. A obra didática do intelectual Ernesto Cruz, assim como várias outras publicadas na primeira metade do século XX na Amazônia, destinava-se a um público específico, o ensino primário, assim, seria necessário uma outra pesquisa voltada para as práticas de recepção das obras didáticas na região, o que neste momento não é o meu objetivo, apesar de ser uma importante possibilidade de pesquisa, dados os objetivos e perspectivas lançadas sobre as obras didáticas pelos intelectuais e o estado ao aprovar as coleções. Observamos, contudo, que alguns intelectuais e instituições da região produziram leituras legitimadoras das obras didáticas, reproduzindo-as em artigos, resenhas e revistas educacionais destinadas aos professores na Amazônia.
ExcluirLucilvana Barros
Bom dia, Lucilvana,
ResponderExcluirGostaria de saber como essa obra foi apropriada pela historiografia escolar paraense, ou seja, se esse modelo de escrita permaneceu ou se a proposta de Pedro Calmon acabou prevalecendo.
Atenciosamente,
Ane Luíse Silva Mecenas Santos
Prezada Ane Louise, obrigado pela leitura do texto e a participaçã no simpósio. No que se refere a predominância de uma forma narrativa na historiografia regional, a partir das pesquisas realizadas em algumas obras e arquivos consultados podemos afirmar que a estrutura narrativa convencional prevaleceu, perdurando durante décadas na escrita da história na região.
ResponderExcluirObrigado pela participação.
Lucilvana Barros
Olá, Lucilvana Ferreira Barros,
ResponderExcluirAchei sua análise sobre o tema bastante interessante. Pela relação que você citou, sugiro, caso ainda não conheça, o livro de Ciro Flávio de Castro Bandeira de Melo: Senhores da História e do Esquecimento: a construção do Brasil em dois manuais didáticos de História na segunda metade do século XIX. O livro irá trazer importantes reflexões para a discussão teórica, sobre a influencia de Von Martius e do IHGB. Convido-a, também, à leitura do trabalho que estou apresentando, que se encontra na mesma mesa temática, onde busco ressaltar alguns fundamentos da história do Livro Didático de História e menciono algumas informações importantes sobre o tema, as quais podem ser aprofundadas nas referências. Ressalto que não estou questionando a análise das fontes em si. Trata-se de sugestão que busca possibilitar o maior aprimoramento do Estado da Arte.
No mesmo livro que mencionei, o autor compara as obras de Macedo- Lições de História do Brasil (...), e de João Ribeiro- História do Brasil (...). É percebido, nas obras, duas formas relativamente diferentes de racismo nos livros didáticos: enquanto o primeiro efetuava o apagamento de povos negros e indígenas no manual, o segundo, na perspectiva da democracia racial, que você mencionou no trabalho, os colocava em posições de passividade perante a história, sem os colocar como capazes de ser agentes históricos. Gostaria de saber como a obra de Ernesto H. da Cruz apresenta a participação negra e indígena na História da região?
Agradeço desde já, Rafael Fiedoruk Quinzani.
Boa Noite Lucilvana Barros. Ótima análise.
ResponderExcluirGostaria que você fale um pouco sobre o ensino de História local atualmente, sobre as permanências e rupturas com esse modelo tradicional de produção histórica de cunho didático nas aulas sobre a História do Pará.
Att: Paulo Leandro da Costa Moraes
Caro Paulo Leandro, boa noite, obrigado pela participação no simpósio. Sobre o ensino de História local nos debates atuais sugiro a leitura da coletânea que acabei de lançar: Amazônia Oriental Brasileira: história, migração e região. Na mesma enfatizo, ao lado de outros pesquisadores da/sobre a região, a importância de repensarmos o ensino de história local e regional no Brasil, pois, como afirma a pesquisadora Selva Guimarães Fonseca (2012), uma das maiores dificuldades para trabalharmos com a história local no ensino de história são:
Excluir"As fontes de estudo, os documentos disponíveis aos professores, [...] em geral são constituídos de dados, textos, encartes, materiais produzidos por órgãos administrativos locais com o objetivo de difundir uma determinada memória. Assim, muitas vezes, professores e alunos tem como únicas fontes de estudo, evidências que visam à preservação da memória de grupos da elite local. Os argumentos locais regionais eram/são muitas vezes usados como forma de mascarar os conflitos e as contradições presentes na sociedade".
Assim, é importante que possamos continuar pesquisando e produzindo materiais sobre esta área de conhecimento na perspectiva de elaborarmos novas versões sobre o local e regional no ensino de história.
Atenciosamente,
Lucilvana Barros