EDUCAÇÃO CIENTÍFICA UM OLHAR PARA
ENSINO BÁSICO: CAMINHOS PARA A DIDÁTICA DE HISTÓRIA
A
História é uma área que vem se transformando nos campos da Educação,
principalmente na Metodologia de Ensino. Temos que ter em mente que Aprender é
se informar e, dependendo da natureza da informação, aprender História pode
também se transformar. Dentro desta perspectiva, observar o método de Ensino
como tornar o aluno um pesquisador e protagonista deste processo é oportunizar
exclusivamente que ele se desenvolva em várias frentes, gerando sua autonomia
entre o objeto do conhecimento e sua realidade, para isto, os professores
passam de meros transmissores do saber para mediadores deste conhecimento.
Para
Simone Selbach (2010), o professor informa, mas só ensina quando sabe
transformar a informação em conhecimento que transforma o aluno, ou seja, que o
objeto do conhecimento faça sentido para seu processo de aprendizagem
refletindo em sua realidade. Este processo se inicia com o confronto entre a
realidade do que sabemos e algo novo que descobrimos ou mesmo uma ova maneira
de ser encarar a realidade, passando a um conceito novo, consistente e crítico.
A
proposta da Educação Científica, no ensino básico, vem tornar essa
transformação possível, pois irá oportunizar
uma reflexão profunda do aluno sobre o ele vem explorando, com sua
curiosidade nata humana, holistizando assim seus horizontes e transformando sua
forma de ver o mundo, compreendendo assim a importância da ciência histórica no
seu dia a dia.
Dentro
da Educação Científica, a ciência produz o conhecimento a partir de critérios
planejados e estabelecidos de forma sistemática para garantir resultados
precisos, explicando fenômenos que ocorrem no planeta, e neste caso na relação
Homem, Tempo e Espaço. Para Zancan (2000), esse sistema se converte em
diretrizes metodológicas que promovem a imparcialidade na obtenção de
resultados e que se tornarão teorias se dão pela metodologia de investigação
científica.
A
partir dessa ideia, trazer a Educação Científica, promovendo a reflexão e a
exploração de processos metodológicos, conciliando com as metodologias
pedagógicas, e mediar com os objetos do conhecimento curriculares, se rompe as
barreiras do tradicionalismo para inserir os processos de contextualização e
práxis. Mirian Goldenbnerg (2004), afirma que metodologia científica é muito
mais do que algumas regras de como fazer uma pesquisa: ela auxilia a refletir e
propicia um novo olhar sobre o mundo: um olhar científico, curioso, indagador e
criativo. Desta forma, a pesquisa científica promove o desenvolvimento da
sociedade e traz explicações a inúmeros fenômenos e problemas, impulsionando
sua evolução em busca de melhorias. Para isso, Collis e Hussey (2005)
apresentam sete objetivos da pesquisa científica:
FIGURA
1: Objetivos da Pesquisa Científica Referência: Adaptado de Collis e Hussey
(2005, p. 16)
No
ensino de história, entende-se que com o uso da pesquisa científica ampliaremos
as potencialidades humanas, estimulando o aluno a tornar-se um sujeito questionador
e transformador de suas práticas, também da realidade que os cerca. Como se
observa na Figura 1, verificamos que
o processo da pesquisa científica esta totalmente interligada, porém na parte
em revisar e sistematizar o conhecimento, gerando um novo, pode-se mediar com o
aluno a finalidade do estudo da História, verificando as permanências e
transformações da Humanidade no tempo e no espaço, gerenciando a formulação de
Hipóteses, refletindo a presença da subjetividade da área.
O
ensino de História deve oferecer aos alunos a formulações de hipóteses em suas
pesquisas, pois as funções das hipóteses na pesquisa científica, tanto no que
se refere a uma pesquisa específica que está sendo concretamente realizada,
como no que se refere ao conhecimento científico de uma maneira geral. Para
Barros (2013), a Figura 2,
apresentada abaixo, enumera algumas destas funções, organizando na parte
sombreada aquelas funções referentes a uma pesquisa determinada ou ao seu
Projeto. Na parte não sombreada estão as funções que a Hipótese desempenha em
relação ao desenvolvimento científico em geral.
Figura 2: Funções das
Hipóteses na Pesquisa Científica Referência:
Barros, José D’Assunção, O Projeto de Pesquisa em História, 9 Edição,
Vozes, Petrópolis, p. 138, 2010.
Observando a Figura conseguimos verificar as principais
Habilidades que os alunos devem ter a oportunidade de desenvolver no Ensino de
História, sempre verificando que as Hipóteses estabelecem uma direção mais
definida para se chegar às argumentações coerentes. Elas nos fazem fixar
finalidades, relacionar etapas, curar fontes para análises e então chegar a
resultados coesos.
“Uma Hipótese é norteadora precisamente porque articula
as diversas dimensões da pesquisa, funcionando como um verdadeiro ponto nodal,
onde se encontram o tema, a teoria, a metodologia e os materiais ou fontes de
pesquisa” (BARROS, 2010, p. 137)
Ao
se apresentar a ideia de questionar a História, com formulações de Hipóteses,
através da pesquisa científica no ensino básico, traremos a foco o desenvolvimento
amplo e profundo do indivíduo crítico e autônomo. Paulo Freire (1996) idealizou um
cidadão crítico de si mesmo e da sociedade para provocar as mudanças
necessárias e na busca do rompimento dos paradigmas negativos. Entenda-se aqui
o conceito de crítico como sendo a capacidade cognitiva de pensar e refletir
sobre o papel de si mesmo no sistema social da humanidade, reconhecendo
potencialidades e problemas dos fenômenos presentes nos fatos históricos,
buscando suas causas e consequências no tempo e espaço. Isso se diferencia do
sentido negativo de crítica por crítica, de oposição e sem
fundamentação/argumentação, que não analisa e ou reflete sobre os fatos das
situações discutidas e sempre tendendo a uma postura pessimista, justificando
assim que educação e ciência devem fazer parte do processo de aprendizagem dos
alunos tornando-o um cidadão crítico.
Na
História, muitos professores acabam acreditando na ideia de que tudo que não é
muito veloz é chato. Para Jaime Pinsky e Carla Bassanezi Pinsky (2010), na sala
de aula, o pensamento analítico é substituído por “achismos”, alunos trocam a
investigação bibliográfica por informações superficiais dos sites de pesquisa pasteurizados, vídeos
são usados para substituir (e não complementar) livros. E o passado, visto como
algo passado, portanto superado, tem tanto interesse quanto o jornal do dia
anterior.
Brasil
(2017) apresenta que as questões que nos levam a pensar a História como um
saber necessário para a formação das crianças e jovens na escola são as
originárias do tempo presente. O passado que deve impulsionar a dinâmica do
ensino-aprendizagem no Ensino Fundamental é aquele que dialoga com o tempo
atual. Com isto, compreendemos que ao oferecermos a oportunidade do objeto do
conhecimento ser questionado pelos alunos, traremos a eles a oportunidade de
investigar e ir mais a fundo, tralhando as Habilidades para se alcançar as
competências.
“A
relação passado/presente não se processa de forma automática pois exige o
conhecimento de referências teóricas capazes de trazes inteligibilidade aos
objetos históricos selecionados [...] A História não emerge como um dado ou um
acidente que tudo explica: ela é a correlação de forças, de enfrentamentos e da
batalha para a produção de sentidos e significados, que são constantemente
reinterpretados por diferentes grupos sociais e suas demandas” (BRASIL 2017, p.
395)
As
transformações que ocorrem na Historiografia e consequentemente nos futuros
livros didática podem ser apresentadas como um fenômeno da ciência, que é sua
constante transformação. Com a pesquisa em andamento, os alunos terão a
oportunidade de verificar que certas informações iniciais elencadas com as
Hipóteses podem não se fundamentar, trazendo assim a luz os valores essenciais
do campo científico na sua formação como ser produtor de saberes.
Para
Menezes (1998), toda operação com documentos é de natureza retórica, pois um
objeto se torna documento quando apropriado por um narrador que a ele confere
sentido, tornando-o capaz de expressar a dinâmica da vida das sociedades. Nisto
o que nos interessa é verificar a forma como os indivíduos construíram, com
diferentes linguagens, suas narrações sobre o mundo em que viveram e vivem suas
instituições e organizações sociais, se tendo o foco assim no conhecimento
histórico.
Para
isto, a proposta da inserção da Metodologia Científica como algo revolucionário
na sala de aula é de grande valia para ensinar ao aluno a ser curador de seu
processo de ensino e aprendizagem, focando na seleção das informações das
diferentes fontes e o diálogo entre elas, inclusive desenvolvendo a habilidade
na análise crítica da veracidade do material interpretado, podemos verificar
isso no seguinte processo:
FIGURA 3: Escada
Sistemática das Ações Metodológicas Referência:
A Autora (2019)
O
que apresentamos na figura de forma sistematiza, descritas como Tematização: consiste em constar o tema
a ser analisado, podendo ser um assunto a ser discutido em formato de projeto,
pesquisa ou discussão em sala de aula. Problematização:
se considera os conhecimentos já existentes, gerando uma pergunta que foi
observada e, ao mesmo tempo, uma possível resposta inicial para a pesquisa, já
trazendo o recorte que será analisado do tema proposto. Investigação: Alinhar metodologias e diálogos de fontes, coletando
informações para posterior análise e entendimento dos fenômenos que ocorrem. Resultados: Com os dados coletados,
interpretar e analisar para se obter respostas, soluções e reversões de
situações problemas, já verificando a importância desses resultados para a
sociedade na atualidade. Conclusão: Ao
fim deste processo, chega-se a uma conclusão do porquê de os fenômenos
ocorreram e se o evento sempre ocorrerá da mesma forma, gerando assim uma
teoria, ou seja, uma afirmação verdadeira.
Nganga
(2018) e Miranda (2018) dizem que a pesquisa esta presente no processo de
ensino-aprendizagem desde os anos iniciais. Podemos citar como exemplo um
exercício amplamente difundido, que é o plantio do feijão no algodoeiro. Por
meio dele, a criança acompanha como a planta germina e se desenvolve,
inter-relacionando teoria e prática. Por isso, a prática da pesquisa na
educação abre novos horizontes e possibilidades, além de auxiliar na melhoria
da qualidade do ensino. Ao verificarmos o processo que apresentamos na Figura 2, com a escada sistemática das
ações metodológicas, compreenderemos que isto irá oferecer a oportunidade de
desenvolvermos o aluno historiador, proposto pela Base Nacional Comum
Curricular (BNCC), em que ele irá Identificar,
Comparar, Contextualizar, Interpretar, Analisar e Analisar, diferentes
fontes produzidas pela humanidade ao longo de sua história.
“Uma
sequência organizada de situações estimuladoras e desafiadoras de aprendizagem,
na qual o professor e estudantes estão envolvidos como sujeitos do processo, na
perspectiva de formação de cidadãos críticos, capazes de entender e transformar
a realidade circundante. Aprender com pesquisa é um processo dialógico que
envolve a problematização do conhecimento, a construção de argumentos e sua
respectiva validação” (Nganga e Miranda, 2008, p.32)
A
partir do exposto, é possível verificarmos o que a ruptura do ensino com a
pesquisa faz com o conservadorismo presente no ensino de história, ressignificando o papel do professor apenas
como transmissor dos fatos históricos e das aulas simplesmente expositivas, a
um mediador do conhecimento, tornando seus alunos o centro do processo de
ensino aprendizagem. Por isso, ao contrário de métodos tradicionais de ensino,
a utilização da pesquisa como estratégia contribui significativamente com o
aprendizado do objeto do conhecimento que se ensina, uma vez que o estudante se
debruça com mais afinco sobre o tema.
É
interessante ressaltar que como a estratégia de ensino com pesquisa propõe um
alinhamento entre teoria e prática, a aplicação do que foi aprendido também
pode ser meta alcançada, possibilitando ao aluno refletir de forma ativa sobre
o conteúdo aprendido e utilizá-lo para a solução de outros problemas e
desafios. Nessa perspectiva Selbach (2010), nos diz que todo professor de
História deve buscar sempre um caçador de curiosidades, um inventor de desafios
relacionando o ontem e o agora, instigando o aluno a sentir-se parte
fundamental da História, sempre os motivando.
Neste
ponto podemos concluir que todo este processo conduz ao alunos a verificar 4
importantes pontos: a Intervenção (agentes
e possibilidades de ação), a Sensibilização
(fruir, observar, pesquisar, registrar o que acontece no mundo em relação ao
tema), a Compreensão (características,
conceitos, transformações, regulamentação e responsabilidades em diferentes
contextos) e por fim a Responsabilização
(como se dá a relação indivíduo/sociedade com o tema proposto), assim
caminharemos para uma formação integral do aluno, focando em seu entendimento
de Humanidade se relacionando com o tempo e espaço, constituindo o indivíduo crítico
e combatendo o analfabetismo funcional.
Referências
Ludmila
Pena Fuzzi, , Licenciada em História pela Universidade de Taubaté (2008), Pós
Graduada em Políticas e Sociedades do Brasil Contemporâneo pela Universidade de
Taubaté (2010), Pós Graduada em Educação, Patrimônio e Cidadania pela
Universidade Estadual do Rio de Janeiro-UERJ (2017), Professora de História
pela Prefeitura Municipal de Taubaté, Membro da Associação Brasileira de
História Oral (ABHO), Membro da Associação Brasileira de História (ANPUH),
Diretora e Fundadora do Instituto de Pesquisa Histórica e Ambiental Regional
(IPHAR)e Membro Técnico e Educacional do Grupo de Patrimônio Cultural de
Taubaté.
BARROS, José D’Assunção.
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Olá Ludmila, você faz uma importante reflexão, mas gostaria de saber, na sua opinião porque as ciências, especificamente as sociais, não objetivam e problematização o ensino dentro dos próprios objetos de pesquisa? Obrigado, Abraços
ResponderExcluirEverton, bom dia! Se compreendi seu questionamento, responderia que a ciência em si é muito ampla para se tratar somente dentro da nossa área. Posso estar sendo muito redundante, mas a subjetividade presente nas Humanidades, ainda mais na História, nos faz considerar várias áreas para analisar. Em termos de objetivação eu defendo que realizamos isto dentro do nosso próprio campo, mas problematizamos e justificamos para propiciar uma Holistização do objeto. Imaginemos como uma maçã o seu objeto de pesquisa, você irá verificar todos os ângulos possíveis para se ter uma pesquisa com resultados mais qualitativos, usando como base diferentes linhas para levantar suas Hipóteses. No próprio livro que utilizo para apresentar a Figura 2, do José D. Barros, no livro O Projeto de Pesquisa em História, apresenta um quadro das mais variadas ligações da História com suas ciências afins. Acredito que vivemos na era transdisciplinar, inclusive, a BNCC nos solicita que trabalhemos assim nas escolas. Espero que tenha compreendido seu questionamento!
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