Ludmila Pena Fuzzi [2]


EDUCAÇÃO CIENTÍFICA UM OLHAR PARA ENSINO BÁSICO: CAMINHOS PARA A DIDÁTICA DE HISTÓRIA


A História é uma área que vem se transformando nos campos da Educação, principalmente na Metodologia de Ensino. Temos que ter em mente que Aprender é se informar e, dependendo da natureza da informação, aprender História pode também se transformar. Dentro desta perspectiva, observar o método de Ensino como tornar o aluno um pesquisador e protagonista deste processo é oportunizar exclusivamente que ele se desenvolva em várias frentes, gerando sua autonomia entre o objeto do conhecimento e sua realidade, para isto, os professores passam de meros transmissores do saber para mediadores deste conhecimento.
Para Simone Selbach (2010), o professor informa, mas só ensina quando sabe transformar a informação em conhecimento que transforma o aluno, ou seja, que o objeto do conhecimento faça sentido para seu processo de aprendizagem refletindo em sua realidade. Este processo se inicia com o confronto entre a realidade do que sabemos e algo novo que descobrimos ou mesmo uma ova maneira de ser encarar a realidade, passando a um conceito novo, consistente e crítico.
A proposta da Educação Científica, no ensino básico, vem tornar essa transformação possível, pois irá oportunizar  uma reflexão profunda do aluno sobre o ele vem explorando, com sua curiosidade nata humana, holistizando assim seus horizontes e transformando sua forma de ver o mundo, compreendendo assim a importância da ciência histórica no seu dia a dia.
Dentro da Educação Científica, a ciência produz o conhecimento a partir de critérios planejados e estabelecidos de forma sistemática para garantir resultados precisos, explicando fenômenos que ocorrem no planeta, e neste caso na relação Homem, Tempo e Espaço. Para Zancan (2000), esse sistema se converte em diretrizes metodológicas que promovem a imparcialidade na obtenção de resultados e que se tornarão teorias se dão pela metodologia de investigação científica.
A partir dessa ideia, trazer a Educação Científica, promovendo a reflexão e a exploração de processos metodológicos, conciliando com as metodologias pedagógicas, e mediar com os objetos do conhecimento curriculares, se rompe as barreiras do tradicionalismo para inserir os processos de contextualização e práxis. Mirian Goldenbnerg (2004), afirma que metodologia científica é muito mais do que algumas regras de como fazer uma pesquisa: ela auxilia a refletir e propicia um novo olhar sobre o mundo: um olhar científico, curioso, indagador e criativo. Desta forma, a pesquisa científica promove o desenvolvimento da sociedade e traz explicações a inúmeros fenômenos e problemas, impulsionando sua evolução em busca de melhorias. Para isso, Collis e Hussey (2005) apresentam sete objetivos da pesquisa científica:

FIGURA 1: Objetivos da Pesquisa Científica Referência: Adaptado de Collis e Hussey (2005, p. 16)

No ensino de história, entende-se que com o uso da pesquisa científica ampliaremos as potencialidades humanas, estimulando o aluno a tornar-se um sujeito questionador e transformador de suas práticas, também da realidade que os cerca. Como se observa na Figura 1, verificamos que o processo da pesquisa científica esta totalmente interligada, porém na parte em revisar e sistematizar o conhecimento, gerando um novo, pode-se mediar com o aluno a finalidade do estudo da História, verificando as permanências e transformações da Humanidade no tempo e no espaço, gerenciando a formulação de Hipóteses, refletindo a presença da subjetividade da área.
O ensino de História deve oferecer aos alunos a formulações de hipóteses em suas pesquisas, pois as funções das hipóteses na pesquisa científica, tanto no que se refere a uma pesquisa específica que está sendo concretamente realizada, como no que se refere ao conhecimento científico de uma maneira geral. Para Barros (2013), a Figura 2, apresentada abaixo, enumera algumas destas funções, organizando na parte sombreada aquelas funções referentes a uma pesquisa determinada ou ao seu Projeto. Na parte não sombreada estão as funções que a Hipótese desempenha em relação ao desenvolvimento científico em geral.

Figura 2: Funções das Hipóteses na Pesquisa Científica Referência: Barros, José D’Assunção, O Projeto de Pesquisa em História, 9 Edição, Vozes, Petrópolis, p. 138, 2010.

Observando a Figura conseguimos verificar as principais Habilidades que os alunos devem ter a oportunidade de desenvolver no Ensino de História, sempre verificando que as Hipóteses estabelecem uma direção mais definida para se chegar às argumentações coerentes. Elas nos fazem fixar finalidades, relacionar etapas, curar fontes para análises e então chegar a resultados coesos.
“Uma Hipótese é norteadora precisamente porque articula as diversas dimensões da pesquisa, funcionando como um verdadeiro ponto nodal, onde se encontram o tema, a teoria, a metodologia e os materiais ou fontes de pesquisa” (BARROS, 2010, p. 137)
Ao se apresentar a ideia de questionar a História, com formulações de Hipóteses, através da pesquisa científica no ensino básico, traremos a foco o desenvolvimento amplo e profundo do indivíduo crítico e autônomo. Paulo Freire (1996) idealizou um cidadão crítico de si mesmo e da sociedade para provocar as mudanças necessárias e na busca do rompimento dos paradigmas negativos. Entenda-se aqui o conceito de crítico como sendo a capacidade cognitiva de pensar e refletir sobre o papel de si mesmo no sistema social da humanidade, reconhecendo potencialidades e problemas dos fenômenos presentes nos fatos históricos, buscando suas causas e consequências no tempo e espaço. Isso se diferencia do sentido negativo de crítica por crítica, de oposição e sem fundamentação/argumentação, que não analisa e ou reflete sobre os fatos das situações discutidas e sempre tendendo a uma postura pessimista, justificando assim que educação e ciência devem fazer parte do processo de aprendizagem dos alunos tornando-o um cidadão crítico.
Na História, muitos professores acabam acreditando na ideia de que tudo que não é muito veloz é chato. Para Jaime Pinsky e Carla Bassanezi Pinsky (2010), na sala de aula, o pensamento analítico é substituído por “achismos”, alunos trocam a investigação bibliográfica por informações superficiais dos sites de pesquisa pasteurizados, vídeos são usados para substituir (e não complementar) livros. E o passado, visto como algo passado, portanto superado, tem tanto interesse quanto o jornal do dia anterior.
Brasil (2017) apresenta que as questões que nos levam a pensar a História como um saber necessário para a formação das crianças e jovens na escola são as originárias do tempo presente. O passado que deve impulsionar a dinâmica do ensino-aprendizagem no Ensino Fundamental é aquele que dialoga com o tempo atual. Com isto, compreendemos que ao oferecermos a oportunidade do objeto do conhecimento ser questionado pelos alunos, traremos a eles a oportunidade de investigar e ir mais a fundo, tralhando as Habilidades para se alcançar as competências.
“A relação passado/presente não se processa de forma automática pois exige o conhecimento de referências teóricas capazes de trazes inteligibilidade aos objetos históricos selecionados [...] A História não emerge como um dado ou um acidente que tudo explica: ela é a correlação de forças, de enfrentamentos e da batalha para a produção de sentidos e significados, que são constantemente reinterpretados por diferentes grupos sociais e suas demandas” (BRASIL 2017, p. 395)
As transformações que ocorrem na Historiografia e consequentemente nos futuros livros didática podem ser apresentadas como um fenômeno da ciência, que é sua constante transformação. Com a pesquisa em andamento, os alunos terão a oportunidade de verificar que certas informações iniciais elencadas com as Hipóteses podem não se fundamentar, trazendo assim a luz os valores essenciais do campo científico na sua formação como ser produtor de saberes.
Para Menezes (1998), toda operação com documentos é de natureza retórica, pois um objeto se torna documento quando apropriado por um narrador que a ele confere sentido, tornando-o capaz de expressar a dinâmica da vida das sociedades. Nisto o que nos interessa é verificar a forma como os indivíduos construíram, com diferentes linguagens, suas narrações sobre o mundo em que viveram e vivem suas instituições e organizações sociais, se tendo o foco assim no conhecimento histórico.
Para isto, a proposta da inserção da Metodologia Científica como algo revolucionário na sala de aula é de grande valia para ensinar ao aluno a ser curador de seu processo de ensino e aprendizagem, focando na seleção das informações das diferentes fontes e o diálogo entre elas, inclusive desenvolvendo a habilidade na análise crítica da veracidade do material interpretado, podemos verificar isso no seguinte processo:
FIGURA 3: Escada Sistemática das Ações Metodológicas Referência: A Autora (2019)

O que apresentamos na figura de forma sistematiza, descritas como Tematização: consiste em constar o tema a ser analisado, podendo ser um assunto a ser discutido em formato de projeto, pesquisa ou discussão em sala de aula. Problematização: se considera os conhecimentos já existentes, gerando uma pergunta que foi observada e, ao mesmo tempo, uma possível resposta inicial para a pesquisa, já trazendo o recorte que será analisado do tema proposto. Investigação: Alinhar metodologias e diálogos de fontes, coletando informações para posterior análise e entendimento dos fenômenos que ocorrem. Resultados: Com os dados coletados, interpretar e analisar para se obter respostas, soluções e reversões de situações problemas, já verificando a importância desses resultados para a sociedade na atualidade. Conclusão: Ao fim deste processo, chega-se a uma conclusão do porquê de os fenômenos ocorreram e se o evento sempre ocorrerá da mesma forma, gerando assim uma teoria, ou seja, uma afirmação verdadeira.
Nganga (2018) e Miranda (2018) dizem que a pesquisa esta presente no processo de ensino-aprendizagem desde os anos iniciais. Podemos citar como exemplo um exercício amplamente difundido, que é o plantio do feijão no algodoeiro. Por meio dele, a criança acompanha como a planta germina e se desenvolve, inter-relacionando teoria e prática. Por isso, a prática da pesquisa na educação abre novos horizontes e possibilidades, além de auxiliar na melhoria da qualidade do ensino. Ao verificarmos o processo que apresentamos na Figura 2, com a escada sistemática das ações metodológicas, compreenderemos que isto irá oferecer a oportunidade de desenvolvermos o aluno historiador, proposto pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em que ele irá Identificar, Comparar, Contextualizar, Interpretar, Analisar e Analisar, diferentes fontes produzidas pela humanidade ao longo de sua história.
“Uma sequência organizada de situações estimuladoras e desafiadoras de aprendizagem, na qual o professor e estudantes estão envolvidos como sujeitos do processo, na perspectiva de formação de cidadãos críticos, capazes de entender e transformar a realidade circundante. Aprender com pesquisa é um processo dialógico que envolve a problematização do conhecimento, a construção de argumentos e sua respectiva validação” (Nganga e Miranda, 2008, p.32)
A partir do exposto, é possível verificarmos o que a ruptura do ensino com a pesquisa faz com o conservadorismo presente no ensino de história,  ressignificando o papel do professor apenas como transmissor dos fatos históricos e das aulas simplesmente expositivas, a um mediador do conhecimento, tornando seus alunos o centro do processo de ensino aprendizagem. Por isso, ao contrário de métodos tradicionais de ensino, a utilização da pesquisa como estratégia contribui significativamente com o aprendizado do objeto do conhecimento que se ensina, uma vez que o estudante se debruça com mais afinco sobre o tema.
É interessante ressaltar que como a estratégia de ensino com pesquisa propõe um alinhamento entre teoria e prática, a aplicação do que foi aprendido também pode ser meta alcançada, possibilitando ao aluno refletir de forma ativa sobre o conteúdo aprendido e utilizá-lo para a solução de outros problemas e desafios. Nessa perspectiva Selbach (2010), nos diz que todo professor de História deve buscar sempre um caçador de curiosidades, um inventor de desafios relacionando o ontem e o agora, instigando o aluno a sentir-se parte fundamental da História, sempre os motivando.
Neste ponto podemos concluir que todo este processo conduz ao alunos a verificar 4 importantes pontos: a Intervenção (agentes e possibilidades de ação), a Sensibilização (fruir, observar, pesquisar, registrar o que acontece no mundo em relação ao tema), a Compreensão (características, conceitos, transformações, regulamentação e responsabilidades em diferentes contextos) e por fim a Responsabilização (como se dá a relação indivíduo/sociedade com o tema proposto), assim caminharemos para uma formação integral do aluno, focando em seu entendimento de Humanidade se relacionando com o tempo e espaço, constituindo o indivíduo crítico e combatendo o analfabetismo funcional.

Referências
Ludmila Pena Fuzzi, , Licenciada em História pela Universidade de Taubaté (2008), Pós Graduada em Políticas e Sociedades do Brasil Contemporâneo pela Universidade de Taubaté (2010), Pós Graduada em Educação, Patrimônio e Cidadania pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro-UERJ (2017), Professora de História pela Prefeitura Municipal de Taubaté, Membro da Associação Brasileira de História Oral (ABHO), Membro da Associação Brasileira de História (ANPUH), Diretora e Fundadora do Instituto de Pesquisa Histórica e Ambiental Regional (IPHAR)e Membro Técnico e Educacional do Grupo de Patrimônio Cultural de Taubaté.
BARROS, José D’Assunção. O Projeto de Pesquisa em História: Da escola do tema ao quadro teórico. Vozes, Petrópolis, 2013.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Educação Infantil e Ensino Fundamental. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica, 2017.
COLLIS, Jill; HUSSEY, Roger. Pesquisa em administração: um guia prático para alunos de graduação e pós-graduação. 2ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
 ___________. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996. 
GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar:como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais. 8ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2004.
MENEZES, Ulpiano T. Bezerra de. Memória e cultural material: documentos pessoais no espaço público. Revista Estudos Históricos. Rio de Janeiro, V. 11, n. 21, p.89-104, julho de 1998.
NGANDA, Camilla Souneta Nascimento. MIRANDA, Gilberto José. Ensino e Pesquisa: duas faces de uma mesma moeda. In: LEAL, Edvalda Araújo, MIRANDA, Gilberto José. NOVA, Sílvia Pereira de Castro Casa (orgs), Revolucionando a sala de aula: como envolver o estudante aplicando as técnicas de metodologias ativas de aprendizagem, Atlas, São Paulo, 2018.
PINSKY, Jaime e PINSKY, Carla Bassanezi. O que e como ensinar. In: KARNAL, Leandro. História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas, 6ª Edição, Contexto, São Paulo, 2010.
SELBACH, Simone (org.). História e Didática, Coleção Como Bem Ensinar, Vozes, Petrópolis, 2010.
ZANCAN, Glaci T. Educação científica: uma prioridade nacionalSão Paulo em Perspectiva, v. 14, n. 1, p. 3-7, 2000.

2 comentários:

  1. Olá Ludmila, você faz uma importante reflexão, mas gostaria de saber, na sua opinião porque as ciências, especificamente as sociais, não objetivam e problematização o ensino dentro dos próprios objetos de pesquisa? Obrigado, Abraços

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  2. Everton, bom dia! Se compreendi seu questionamento, responderia que a ciência em si é muito ampla para se tratar somente dentro da nossa área. Posso estar sendo muito redundante, mas a subjetividade presente nas Humanidades, ainda mais na História, nos faz considerar várias áreas para analisar. Em termos de objetivação eu defendo que realizamos isto dentro do nosso próprio campo, mas problematizamos e justificamos para propiciar uma Holistização do objeto. Imaginemos como uma maçã o seu objeto de pesquisa, você irá verificar todos os ângulos possíveis para se ter uma pesquisa com resultados mais qualitativos, usando como base diferentes linhas para levantar suas Hipóteses. No próprio livro que utilizo para apresentar a Figura 2, do José D. Barros, no livro O Projeto de Pesquisa em História, apresenta um quadro das mais variadas ligações da História com suas ciências afins. Acredito que vivemos na era transdisciplinar, inclusive, a BNCC nos solicita que trabalhemos assim nas escolas. Espero que tenha compreendido seu questionamento!

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