EDUCAÇÃO
HISTÓRICA E INTERCULTURALIDADE: A SELEÇÃO DE CONTEÚDOS EM
FOCO
O texto tem como objetivo apresentar resultados parciais de
um estudo exploratório sobre as ideias de jovens sobre os conceitos
substantivos de História no ensino Médio. A investigação faz parte do projeto
de pesquisa mais amplo, intitulado: O
pensamento histórico de jovens de escolas da região centro-oeste do estado do
Paraná, desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Educação, da
Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). O trabalho insere-se no
campo teórico da Educação Histórica, cujo foco volta-se aos processos de
aprendizagem histórica em contextos de escolarização, tendo como pressuposto
que a intervenção na qualidade da aprendizagem requer o conhecimento
sistemático das ideias históricas dos estudantes e professores. Os dados foram
recolhidos por meio de questionário semiestruturado e a abordagem orientou-se
pelos princípios da pesquisa qualitativa. A análise dos dados aponta que as
ideias dos jovens sobre conceitos substantivos de História são diversificadas e
se aproximam do conceito de interculturalidade.
Introdução
Este texto apresenta resultados de investigação realizada no
âmbito do projeto de pesquisa O
pensamento histórico de jovens de escolas da região centro-oeste do Estado do
Paraná, desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Educação, da
Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), campus Irati-PR. A pesquisa
de caráter exploratória contou com a colaboração de grupo de jovens estudantes
do Ensino Médio, do Instituto Federal do Paraná, campus cidade de Irati-PR, os
quais responderam um questionário fechado com perguntas sobre conteúdos de
ensino na disciplina de História, denominados pela pesquisa em Educação
Histórica de conceitos substantivos.
A Educação Histórica, como campo de investigação, inseri-se
no universo mais das pesquisas em ensino de História, seu interesse de analise
e intervenção volta-se aos processos de aprendizagem histórica em diferentes
níveis escolares, “[...] sob o pressuposto de que a intervenção na qualidade
das aprendizagens exige um conhecimento sistemático das ideias históricas dos
alunos, por parte de quem ensina (e exige também um conhecimento das ideias
históricas destes últimos)” (BARCA, 2005, p. 15).
A pesquisa sobre a aprendizagem histórica, na perspectiva da
Educação Histórica, referencia-se nos princípios e conceitos da ciência
histórica, esse caminho de análise parte do pressuposto da existência de
processos cognitivos particularmente históricos que podem ser compreendidos
pela filosofia e teoria da História. É
nessa perspectiva “[...] que se pode falar da existência de uma aprendizagem
situada na História e da necessidade de se conhecê-la, a partir da investigação
e análise” (SCHMIDT; BARCA, 2009, p. 13). A cognição situada na ciência da
História envolve a compreensão de conceitos de tempo (mensuração, continuidade,
mudança), o estabelecimento de causalidades, a busca do passado por meio de
fontes escritas, visuais, orais e materiais, também abarca atividade de seleção
fontes de acordo com níveis de validade e produção de inferências sobre fontes
diversas.
O que se busca é compreender como alunos e professores
pensam o conhecimento Histórico, em outras palavras, as investigações buscam
conhecer as ideias desses sujeitos acerca da natureza epistemológica da
História, de modo que os resultados obtidos, por meio da pesquisa, orientem a
intervenção na cognição histórica dos alunos, para que eles qualifiquem sua
aprendizagem e compreendam a História como um conhecimento específico dotado de
objeto próprio, metodologias de pesquisa e vocabulário característico.
Assim, interessa à Educação Histórica investigar o modo como
as crianças e jovens compreendem a disciplina História, no entanto, por essa
questão “[...] entendamos que ela não está questionando os conteúdos, quanto os
alunos sabem sobre quando ou onde algo aconteceu. Ao invés disso, a preocupação
é com o que eles entendem que seja a História” (COSTA;
OLIVEIRA, 2007, p. 156).
Hoje as investigações realizadas na perspectiva da Educação
Histórica podem ser organizadas em três grandes grupos de pesquisa: a) análises
sobre ideias de segunda ordem; b) análises relativas às ideias substantivas; c)
reflexões sobre o uso do saber histórico.
A reflexão desenvolvida nesse capítulo enquadra-se no
segundo grupo de pesquisas, cujos estudos avançam na compreensão da cognição
histórica de ideias substantivas, ela concentra-se nos conceitos históricos,
conhecidos na escola como “conteúdos de ensino”, foca suas reflexões em conceitos,
como por exemplo, colonialismo, renascimento e revolução, bem como, noções
particulares vinculadas a contextos específicos no tempo e no espaço, advindas
de histórias locais, regionais e nacionais.
A análise das respostas dos jovens acerca dos conceitos
substantivos no ensino de História permitiu inferir que as ideias expressadas
são diversificadas no conteúdo e se aproximam da noção de interculturalidade.
Pressupostos teóricos da investigação
Os
estudos desenvolvidos na perspectiva da Educação Histórica têm revelado a
configuração do pensamento histórico (cognição histórica) de jovens e crianças
em situações concretas de ensino-aprendizagem de história na escola. Assim,
devido à relação direta da pesquisa em Educação Histórica com a realidade
escolar, os seus resultados podem contribuir de modo significativo para prática
de professores de História em todos os segmentos educacionais, particularmente,
as investigações realizadas com jovens em vários países indicam que os
professores podem ajudar as crianças a se relacionarem com o passado por meio
da investigação histórica.
Na Inglaterra, pesquisadores como Peter Lee, Alaric
Dickinson, Peter Roger, Denis Shemilt e Rosalyn Ashby realizaram investigações
inovadoras sobre a cognição histórica fundamentadas na lógica da própria
História, trazendo assim novas perspectivas para o ensino de História. Nesse
grupo de pesquisadores, incluem-se os estudos dos britânicos Martin Booth e
Hilary Cooper, que contribuíram de modo significativo para o campo da Educação
Histórica no Reino Unido, entre os 70 e 90.
Os estudos de Boath partindo da lógica do conhecimento histórico buscou
captar o sentido atribuído pelos jovens estudantes a um conjunto de imagens
sobre História contemporânea, este instrumento de pesquisa revelou-se eficiente
para coleta de dados acerca das ideias históricas dos alunos, influenciando
largamente as investigações nessa área. Os trabalhos de Hilary Cooper sobre as
ideias de crianças em Histórica têm inspirado pesquisas em vários países.
Peter Lee (2001) contextualiza o inicio dos estudos em
cognição histórica situada na Inglaterra e no Reino Unido. De acordo com
pesquisador, na década de 1960, havia o receio os alunos deixassem de estudar
História, o que quase aconteceu, tal situação existia em decorrência de um
currículo descentralizado, assim poucos estudantes escolhiam a disciplina de
História. As crianças não gostavam das Histórias contadas na escola, achavam a
disciplina maçante e inútil, preferiam as histórias da TV e dos livros.
Com o objetivo de superar tal situação, o Projeto 13-16,
voltado para alunos de entre 13 e 16 anos, coordenado na sua última fase por
Denis Shemilt propunha ensinar História em termos históricos, a partir do projeto
houve um crescimento da disciplina. A partir desse projeto novas ideias
surgiram sobre o ensino de História, tendo como preocupação questões como, que
ideias os estudantes traziam para disciplina de História.
Diante desses resultados Peter Lee desenvolveu um modelo de
progressão das ideias fundamentada na natureza da explicação histórica, modelo
sofisticado por ele e Dickinson, no estudo Making
Sense of History de 1984, com alunos de 8 a 18 anos, esse segundo estudo
transversal abordou noções de empatia e imaginação histórica, fundamentais à
explicação histórica.
Ashby, Dickinson e Lee coordenaram o projeto CHATA (Concepts of History and Teaching Approaches),
cujo objetivo era investigar a compreensão histórica dos alunos. O estudo
contou com uma amostragem de 320 alunos, de 6 a 14 anos de idade, de 3 escolas
primárias e 6 escolas secundárias, eles responderam perguntas sobre compreensão
de causalidades, empatia, objetividade da pesquisa histórica, evidência e narrativa.
“Também vários investigadores, nos Estados Unidos e Canadá, têm dedicado a sua
pesquisa a trazer à luz os critérios epistemológicos que estão na base do
raciocínio histórico, quer entre jovens estudantes quer entre historiadores e
pais de alunos. Estes investigadores têm realçado a natureza situada da construção
do conhecimento histórico” (BARCA, 2001, p. 15). Esses pressupostos orientaram
a investigação empírica sobre as ideias substantivas dos jovens.
Analisando ideias substantivas de
jovens
O estudo exploratório contou com a
colaboração de 75 jovens, com idades, entre 14 e 17 anos, matriculados no
Instituto Federal do Paraná, campus Irati, estabelecimento de ensino
profissionalizante localizado no município de Irati, região centro-oeste do Estado
do Paraná.
Dessa amostra, 41 jovens cursam o 1º
ano do Ensino Médio, técnico de Agroecologia e 34 jovens cursam o 2º ano do
Ensino Médio, técnico de Informática. Nessa etapa de investigação aplicou-se um
questionário organizado em duas partes, a primeira com questões para coletada
de dados socioeconômicos e a segunda com perguntas para os jovens expressarem
suas ideias sobre os conteúdos de História. A maioria dos jovens participantes
da pesquisa moram na cidade de Irati-PR (26 morram em municípios vizinhos), na
área urbana (8 moram na zona rural) e não exercem trabalho remunerado.
Na segunda parte do instrumento, a seguinte questão foi
apresentada aos jovens: Do que você
estudou em História, o que considera mais importante?
Dentro do extenso programa da
disciplina de História estabelecido pelo Instituto Federal do Paraná, campus Irati, para o ensino médio, os jovens indicaram uma relação
de conteúdos, os quais julgaram serem os mais relevantes na formação histórica.
Os resultados foram sistematizados na TABELA 1.
TABELA 1 – CONTEÚDOS CONSIDERADOS RELEVANTES PELOS JOVENS
CONTEÚDOS
INDICADOS
|
QUANTIDADE
DE INDICAÇÕES
|
HISTÓRIA DO BRASIL
|
29
|
GUERRAS
|
23
|
PRÉ-HISTÓRIA E
ANTIGUIDADE
|
17
|
REVOLUÇÕES
|
09
|
COMPREENSÃO DO PRESENTE
|
05
|
IDADE MÉDIA
|
04
|
HISTÓRIA DO PARANÁ
|
02
|
HISTÓRIA LOCAL
|
02
|
HISTÓRIA DOS EUA
|
03
|
RELIGIÃO
|
02
|
ILUMINISMO
|
01
|
NÃO RESPONDERAM
|
11
|
É preciso destacar, os conteúdos
indicados pelos 63 jovens (11 não responderam a questão) tomam como referência
o universo de conteúdos trabalhados em sala, ou seja, aqueles conteúdos
selecionados pela escola e oferecido aos jovens, por meio do currículo, do
livro didático e da prática de ensino do professor, elementos articuladores da
cultura escolar.
O teórico do currículo Michael Apple (1982,
1989) ressaltou o papel da cultura na escola e as relações com o
desenvolvimento econômico que marcam os processos de seleção e distribuição do
conhecimento escolar. Esse processo Williams (2011, p. 54) denomina “Tradição
Seletiva”
“O que, nos termos
de uma cultura dominante efetiva, e sempre assumida como ‘a tradição’, ‘o
passado significativo. Mas sempre o ponto-chave é a seleção – a forma pela
qual, a partir de toda uma área do passado e do presente, certos significados e
práticas são escolhidos e enfatizados, enquanto outros significados e práticas
são negligenciados e excluídos. De modo ainda mais importante, alguns desses
significados e práticas são reinterpretados, diluídos ou colocados em formas
que dão suporte ou, ao menos, não contradizem os outros elementos dentro da
cultura dominante eficaz”.
O contínuo fazer e refazer da cultura
dominante acontece nos processos de educação; na formação social mais ampla,
como a família; na organização do trabalho; nas práticas cotidianas; na
tradição seletiva em um plano intelectual e teórico. Essas forças colaboram
para manutenção da cultura dominante, operando de modo específico no contínuo
trabalho de conformação dessa cultura dominante. Assim, a educação do tipo
escolar, interesse particular desse texto, participa de forma significativa no
processo de seleção, conservação e legitimação da cultura dominante.
Por sua vez, a escola ensina às novas
gerações apenas uma parte restrita de toda a experiência humana coletiva. Os
conteúdos de ensino, matéria-prima do trabalho pedagógico, são resultados de um
processo histórico de seleção e manutenção de determinados elementos culturais
em detrimento de outros. A educação escolar supõe sempre uma seleção no
interior da cultura e uma transformação dos conteúdos da cultura destinados a
serem ensinados às novas gerações.
Nessa direção, dentre os conceitos
substantivos selecionados e trabalhados em sala de aula, a maioria dos jovens
(29) compreende como mais relevante para sua formação histórica, conteúdos relacionados
à História do Brasil, como descobrimento, colonização, ditadura, independência,
colônia, imigração e formação de nação.
Outro aspecto que merece atenção,
apesar da baixa indicação, cinco jovens consideraram de modo genérico
relevantes conteúdos de história que contribuem para compreensão do presente,
como destacou Edgar, 15 anos, 2º ano do curso técnico de
Informática: “Os acontecimentos importantes que fazem o mundo atual”. As ideias
desses jovens aproximam-se da concepção de História como saber útil à
compreensão do presente. O entendimento por parte dos alunos da História como
um conhecimento específico é um princípio da Educação Histórica. Espera-se que
o aluno aprenda alguns fundamentados epistemológicos da História, como: a
História é uma ciência, com metodologia específica e sujeita as alterações do
tempo; o conhecimento possível sobre o passado é sempre parcial, e elaborado a
partir de testemunhos, muitas vez contraditórios; há diferentes níveis de
análise sobre o passado, assim como, distintas elaborações conceituais, que
caracterizam as correntes historiográficas; as explicações históricas são
construídas a posteriori; cada geração ou indivíduo pode estabelecer novas
questões e criticar o discurso histórico aceito.
Os jovens colaboradores da
pesquisa responderam outra questão, formulada da seguinte forma: O que você
gostaria de ter estudado nas aulas de história? A pergunta tinha como intenção
captar ideias substantivas de história dos jovens para além do currículo
trabalhado em sala. A quantidade de indicações por conteúdo foi organizada na
TABELA 02.
TABELA 02 – CONTEÚDOS
QUE OS JOVENS QUEREM ESTUDAR
CONTEÚDOS
INDICADOS
|
QUANTIDADE DE INDICAÇÕES
|
NÃO
RESPONDERAM
|
27
|
HISTÓRIA
DE CONTINENTES, PAÍSES E CULTURAS
|
17
|
HISTÓRIA
LOCAL E REGIONAL
|
07
|
PESQUISA
HISTÓRICA
|
07
|
HISTÓRIA
ANTIGA E MEDIEVAL
|
07
|
GUERRA E
TECNOLOGIA
|
07
|
HISTÓRIA DO BRASIL
|
03
|
HISTÓRIA E GÊNERO
|
01
|
Um dado que
chama atenção é o grande número de estudantes que não responderam à questão, 27
deixaram de responder num total 75 jovens que participaram da pesquisa.
Outro dado de destaque encontra-se na segunda linha da
tabela, 17 jovens gostariam de estudar histórias de culturas diversas, de
continentes e de outros países além do Brasil. A especificidade das ideias
verifica-se com maior clareza, quando se observa diretamente as respostas de
alguns jovens, como as apresentadas a seguir:
“Como era a vida da população que hoje habita o
continente da Oceania”. (Gabriel, 15, 1º ano)
|
“Queria ter estudado sobre a America do Norte,
mais a fundo como que virou um pais tão rico e poderoso”. (Carla, 15, 1 ºano)
|
“Estudar mais sobre nosso continente, estudamos
mais os outros países e deixamos um pouco de lado o Brasil e a América do
Sul”. (Fabiana, 14, 1 ºano)
|
“História da Ásia”. (Márcia, 15, 2 º ano)
|
“História de outros continentes além do americano
e europeu”. (Yasmim, 15, 2º ano)
|
“História de países pequenos que são considerados
‘sem importância’ e não são passados”. (Carlos, 17, 2º ano)
|
“Um serie de eventos e culturas são desprezadas.
As histórias dos povos asiáticos, oceânicos e escandinavos nunca são estudados,
e o ensino se resume em História do Brasil, Idade Média, Revolução Francesa e
Russa e Primeira e Segunda Guerras. Qualquer outra coisa seria interessante,
especialmente sobre os povos citados acima”. (Julia, 16, 2º ano)
|
As ideias dos jovens apontam para a relação ensino de
História e intercuturalidade, quando manifestam interesse pela cultura de
outros povos, países e continentes (Asiático, Oceânico, Americano e Europeu). Como define Castro (2009, p. 2304):
“A interculturalidade enquanto abordagem para a educação
constitui-se como um conjunto de questões que emergem actualmente por força de
um tempo marcado pela globalização. Interpelada pela Filosofia e Antropologia
contemporâneas a interculturalidade propõe uma problematização que procura
olhar o ser humano e as sociedades numa perspectiva aberta às ideias de
diversidade e universalidade”.
Nesse sentido, o interesse pelas questões interculturais dos
jovens potencializa as discussões históricas sobre cultura, identidade, alteridade
e relação. “A abordagem intercultural implica uma forma de questionamento às
diferentes áreas do saber, sendo por isso uma demanda epistemológica que aponta
para a inscrição dos conceitos de diferença/diversidade, cultura/culturalidade,
contacto/relação, universal/universalidade” (CASTRO, 2009, p. 2305).
Desse modo, as ideias históricas dos jovens podem fornecer
pistas, caminhos para pensarmos a possibilidade de um ensino/aprendizagem de
História pautada em relações interculturais. As concepções dos jovens apontam para
novas seleções de conteúdos, que possibilitam a relação entre ensino de
História e interculturalidade, que rompa com conteúdos vazios de sentido e
significado para os jovens estudantes.
Considerações finais
As ideias substantivas dos jovens reveladas no estudo
exploratório apresentam potencialidades interessantes para continuidade da
pesquisa em Educação Histórica. Tanto as ideias substantivas vinculadas ao
currículo ensinado e apreendido em sala de aula, quanto os conceitos
substantivos desejados pelos jovens, como histórias de países e culturas
diversas, evidência, que “O
professor não está sozinho perante os saberes. Ele se relaciona com alunos que
trazem consigo saberes, valores, ideias, atitudes. A consciência histórica do
aluno começa a ser formada antes mesmo do processo de escolarização e se
prolonga no decorrer da vida, fora da escola, em diferentes espaços educativos,
por diferentes meios” (SILVA; FONSECA, 2010, p.31)
Ademais, as ideias substantivas expressadas pelos jovens na
investigação fornecem indícios que podem orientar novas seleções de conteúdos e
metodologias que promovam uma Educação Histórica embasada nos princípios da
epistemologia da História, possibilitando aos jovens uma leitura histórica do
mundo.
Referências
Doutor
em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professor Adjunto e
pesquisador do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em
Educação e do Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade Estadual
do Centro-Oeste, campus Irati, na
mesma instituição coordena o Laboratório de Ensino de História (LEHIS), também
é pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Educação Histórica (LAPEDUH),
articulado ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do
Paraná. E-mail: geysog@gmail.com
APPLE, M. W. Ideologia e currículo. São Paulo: Brasiliense, 1982.
APPLE, M. W. Educação e poder. Porto Alegre: Artes
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categoria da consciência histórica - um estudo com jovens portugueses. In: X
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SCHMIDT; M. A.; BARCA, I. Apresentação. In: SCHMIDT; M. A.;
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WILLIAMS, R. Cultura e materialismo. São
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Levando em conta o resultado das pesquisas, o Sr acha que podemos afirmar que o estudo da história é supérfluo nas escolas? Que é mais para "preencher tabela" do que efetivamente transmitir um conhecimento rico e útil a sociedade?
ResponderExcluirPrezada Julianna, podemos pensar o problema em termos de cultura escolar, a desvalorização da disciplina passa (não unicamente) pela escolarização da disciplina (via currículo, livro didática, práticas de ensino) construída no âmbito da cultura escolar e da escola, os jovens desvalorizam uma certa história ensinada na escola, mas indicam, ainda que de modo tímido, uma outra história, talvez mais próxima da sua cultura juvenil contemporânea, mas longe da cultura escolar.
ExcluirGeyso Germinari
Professor Geyso.
ResponderExcluirEstava pensando se o fato dos jovens estudantes indicarem que gostariam de aprender mais conteúdos voltados às diferentes culturas teria alguma relação com a ideia de Snyders (1988), no sentido de representar “um grito” destes estudantes que não encontram uma ressonância de sua própria cultura dentro da cultura escolar constituída? Se aproximando de um apelo, não apenas como meio para a compreensão da realidade vivida, mas também como possibilidade para novas maneiras de ser e agir no mundo.
Atenciosamente.
DANIELE SIKORA KMIECIK
Concordo plenamente, penso que sua reflexão é o caminha para continuidade da análise apenas iniciada pelo artigo, fica evidente a existência de uma certa resistência a escolarização da disciplina de história (via currículo, livro didática, práticas de ensino) o que não anula a possibilidade de uma reconfiguração da disciplina apontada pelos próprios jovens, quando indicam interesse por conteúdos totalmente diferentes daqueles apresentados pela escola.
ExcluirGeyso Germinari
Obrigada Professor Geyso. Cada vez mais o professor, precisa incluir no currículo, conteúdos que atendam as demandas de interesse dos estudantes. Certamente, não se trata de uma tarefa fácil.
ExcluirDANIELE SIKORA KMIECIK
Parabéns pela comunicação, professor Geyso!
ResponderExcluirA consciência histórica é um fenômeno que envolve a orientação e percepção do tempo, segundo Rüsen. Como os discentes ganham consciência de sua orientação e percepção do tempo quando visualizam contextos históricos representados em filmes, séries etc?
Obrigado!
Comentário de: Nikolas Corrent
Olá Nikolas, os alunos podem desenvolver sua consciência histórica no sentido de uma consciência mediada pela ciência da história, trabalhando filmes, séries e outras linguagens imagéticas como fontes históricas, assim podem subsidiar as análises das narrativas contidas nos filmes e séries e orientar outras narrativas construídas pelos alunos, momento em que podem expressar suas consciências históricas.
ResponderExcluirGeyso Germinari
Olá Nikolas, podemos desenvolver a consciência histórica dos alunos, no sentido da ciência histórica, quando trabalhamos com os filmes, series e outras linguagens imagéticas como fontes históricas, compreensão que pode orientar a leitura das narrativas imagéticas e a construção de outras narrativas pelos alunos, momento em que ele expressa sua consciência histórica.
ResponderExcluirGeyso Germinari
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirInicialmente tecer o agradecimento ao trabalho pela abordagem da problemática que faz parte do contexto de estudante de graduação em licenciatura e desafios ao exercício da docência. Posto isso, minha questão está relacionada a aplicabilidade da interculturalidade musical como ferramenta didática e aproximação com a realidade e condições de ensino-aprendizagem, de modo que essa permeia acontecimentos históricos e constrói também a identidade de certos grupos, porém de modo que ressaltar em que não seja vista com o viés erudito e de pouco acesso a boa parte dos discentes ou ainda como veículo meramente comercial e lucrativo, para além, significar a reflexão?
ResponderExcluirAtt: Gabriela Grilo de Almeida Cordeiro
Obrigada pelo texto, pela pesquisa e reflexões, sou professora de Direito do Estado do RS, no Curso Técnico em Informática integrado ao Ensino Médio, onde faço estudos históricos tentando provocar que os alunos façam relações com o Direito, principalmente sobre os nossos Direitos Humanos, desenvolvendo uma consciência histórica que os permita significar o passado no presente, auxiliando nas suas escolhas e práticas que possibilitem um melhor viver em sociedade. Nestes estudos após visualizar as fragilidades elaboramos projetos para aproximar os alunos da realidade assim como você sugere na pesquisa. Parabéns por ouvir os alunos e neste contexto, gostaria que me respondesse se na pesquisa realizada foi possível identificar essa ligação entre o Direito e a História e o que você pensa a respeito? Grata!
ResponderExcluirOla Geyso... caro amigo!!! Passo aqui para não exatamente levantar questões ou propor um debate! Mas, sobretudo em saber que estamos compartilhando espaços similares nesse Simpósio. Parabéns pelo trabalho e pelo sempre desafio em analisar a Educação Histórica e o papel dos educadores nos mais diversos espaços da educação! Força nas caminhadas!!!
ResponderExcluirGrande abraço! (Filó)
A Educação Histórica possui investigações que dialogam com as discussões e pesquisas das relações raciais e educação na sociedade brasileira?
ResponderExcluirAtt, Luzinete Santos da Silva
Olá, desde de já o parabenizo pela ótima pesquisa.
ResponderExcluirQuando em sua pesquisa mostra que os jovens (indicaram 02 alunos) julgam serem os mais relevantes na formação histórica a história local, sendo que na segunda tabela 2 as indicações de que os mesmos gostaria de ter estudado nas aulas de história, pula para 07, o estudo da história regional e local. Qual a importância do ensino de história local tem para você para uma melhor consciência histórica do aluno? A partir de sua analise esse interesse em “Estudar mais sobre nosso continente, estudamos mais os outros países e deixamos um pouco de lado o Brasil e a América do Sul”. (Fabiana, 14, 1 ºano) pode ser considerado que esse aluno não perceba a relevância de seu país na história?
Obrigada!
Boa Noite Prof. Geyso,
ResponderExcluirParabéns pelo estudo interessantíssimo que o senhor realizou, com as respostas dos estudantes podemos ter um parâmetro do que está sendo trabalhado nas escolas e o que eles pensam a respeito dos conteúdos. Nessa perspectiva, acredito que é muito importante esse desejo de conhecer os diferentes povos e culturas, não somente a eurocêntrica pregada no ensino tradicional e ainda em evidência em muitas escolas. Logo, é possível afirmar que estão sendo desconstruídos paradigmas acerca do conhecimento histórico? Para o senhor, a BNCC, no que se refere ao ensino de História, e que está em processo de implementação nas instituições escolares, leva em consideração essa interculturalidade?
Atenciosamente,
Laís Francine Weyh