HISTÓRIA DAS MULHERES E CURRÍCULOS
A história é uma ciência inserida
dentro do contexto social no qual ela é escrita, portanto, a história, enquanto
saber relacionado às humanidades e às características sociais e culturais de um
determinado povo repassa, questiona, problematiza e rompe (ou não) com as
concepções, ideais e discriminações da sociedade em que se insere. As sociedades ocidentais são marcadamente
influenciadas pelo conhecimento histórico e têm neste conhecimento uma das suas
características mais distintivas, ou seja, a história é constituidora da
civilização ocidental e a civilização ocidental cultivou sempre sua memória
(BLOCH, 2002).
Portanto, a história tem uma utilidade
pragmática de valor incalculável: estabelece o diálogo entre os seres humanos
de tempos passados, em suas situações e soluções específicas, e os seres
humanos do presente, em seus problemas próprios (REIS, 2004). Questiono,
portanto, como o currículo escolar estabelece essa relação entre as mulheres, as
histórias relativas a elas e um contexto social mais amplo. Proponho,
nesse texto, esclarecer as ligações dos currículos, com as histórias das
mulheres buscando refletir sobre as relações de gênero que as envolvem e os
diálogos que se fazem ou não com a história tradicional.
A história, como qualquer ciência, é
uma construção social: desde o lugar epistemológico que a define, passando
pelas teorias que a conformam, até aos modos de escolha e a seleção dos dados
empíricos que a sustentam. Como ciência inserida em seu tempo, a história está
constantemente se ressignificando, estabelecendo novos patamares de análise,
sendo influenciada pelo sistema de valores que regem a sociedade na qual ela se
insere, além de ser inspirada pela trama de relações sociais de poder, tais
como as relações de gênero, estabelecidas em cada momento histórico e lugar (PINTO; ALVAREZ, 2014).
A historiografia acompanha também as mudanças
sociais de seu tempo, refletindo de uma forma peculiar as lutas sociais no
ambiente acadêmico. As décadas de 1960 e 1970 foram períodos históricos
marcantes “das margens” pressionando o centro. É neste momento histórico que
surge o movimento feminista, dando origem à epistemologia feminista (CASTRO;
EGGER, 2012). A partir da década de 1960, passou a surgir uma “história das
mulheres”, com o objetivo de se constituir um campo específico do conhecimento
historiográfico. Segundo Louise Tilly (1994), o objetivo de se criar um campo
específico da história das mulheres seria complementar a proposta de Marc Bloch
(2002) sobre a definição de história: de “ciência dos homens no tempo” para a
“ciência das mulheres no tempo”.
As mulheres foram, muitas vezes, excluídas da maior
parte dos direitos sociais e políticos, sendo por séculos relegadas à esfera da
vida privada. Portanto, entendo que há séculos de exclusão e silenciamento das
mulheres no espaço público, acadêmico e social. Michelle
Perrot (2005) afirma que
“Subsistem,
no entanto, muitas zonas mudas e, no que se refere ao passado, um oceano de
silêncio, ligado à partilha desigual dos traços, da memória e, ainda mais, da
história, este relato que por muito tempo, ‘esqueceu’ as mulheres, como se, por
serem destinadas à obscuridade da reprodução, inenarrável, elas estivessem fora
do tempo, ou ao menos fora do acontecimento” (PERROT, 2005, P.9).
Perrot (1992) também reflete, em suas afirmações,
uma preocupação que me motiva também a questionar a produção curricular de
história do Ensino Médio: “Da história, muitas vezes a mulher é excluída”
(PERROT, 1992, p. 185). Falar de mulher na história
significava e, ainda significa, abordar a “história da exclusão”. Pesquisar
sobre a história das mulheres, incialmente, era tentar reparar em parte essa
exclusão, uma vez que procurar traços da presença feminina em um domínio sempre
reservado aos homens era tarefa difícil (SOIHET; PEDRO, 2007). Segundo Soihet e
Pedro (2007, p. 282), “o que precisamos é buscar formas mais eficientes de
fornecer legitimidade ao que temos feito, ou seja, a constituição de um novo
campo de estudos, intitulado, ‘história das mulheres e das relações de gênero”
Nas ciências humanas, a disciplina
história é certamente a que mais tardiamente apropriou-se da categoria gênero,
assim como da própria inserção de “mulher” ou de “mulheres” como categorias analíticas
de pesquisa e análise (SOIHET; PEDRO, 2007). Provavelmente, grande parte desta
demora se deveu ao caráter universal atribuído ao sujeito histórico até então,
representado pela categoria “homem”. Pressupunha-se que, ao estudar, falar,
analisar os homens, as mulheres estariam sendo contempladas, o que
demonstrou-se que não correspondia à realidade (SOIHET; PEDRO, 2007). A
história, então, era uma narrativa sobre o sexo masculino, definindo que
somente, ou principalmente, os homens faziam história.
Este caráter universal atribuído ao
sujeito histórico era o predominante na corrente historiográfica conhecida como
positivista ou Escola Metódica. A modalidade histórica positivista, herdeira do
Iluminismo, centrava o seu estudo e análise na história política e no domínio
público, predominando no século XIX e início do século XX. Essa forma de
escrever a história comumente chamada de positivista, ou as vezes “empirista”,
dava enfoque para os personagens masculinos, que tinham de alguma forma
participado dos governos e/ou de guerras. Estar inserido nesta grande narrativa
significava, e ainda significa, prestígio (PEDRO, 2005). Nela, o interesse
pelos fatos históricos estava centrado nas fontes administrativas, nas
narrativas oficiais, nos documentos diplomáticos e militares.
As transformações na historiografia,
articuladas à emergência do feminismo, a partir de fins da década de 60, do
século XX, foram imprescindíveis, no desenvolvimento da metodologia, na qual as
mulheres foram colocadas na condição de objeto de análise e sujeitas da
história, marcando a emergência da história das mulheres enquanto campo de
estudos. E, após a constituição da história das mulheres como campo de estudos,
ficou explícito que uma das mais importantes contribuições deste campo foi a
crítica contundente das correntes historiográficas que mantêm foco no sujeito
humano universal. Portanto,
“A história das mulheres – com suas
compilações de dados sobre as mulheres no passado, com suas afirmações de que
as periodizações tradicionais não funcionavam quando as mulheres eram levadas
em conta, com sua evidência de que as mulheres influenciavam os acontecimentos
e tomavam parte na vida pública – implicava a negação de que o sujeito da
história constituía-se numa figura universal”. (SOIHET; PEDRO, 2007, p. 286).
A história das mulheres, enquanto
campo de pesquisa, passa a adquirir expressão, a partir da década de 1970,
muito influenciada por “questionamentos feministas e por mudanças que ocorriam
na historiografia, entre as quais, a ênfase em termos como família,
sexualidade, representações, cotidiano, grupos excluídos” (PINSKY, 2009, p.
160). Após denunciar a exclusão das mulheres nas pesquisas e trabalhos de
história, várias historiadoras, procuraram torná-las visíveis na história
geral, como coparticipantes dos eventos históricos. Mas, para alguns críticos
deste tipo de historiografia, como Joan Scott (1990, 1994), isso não foi
suficiente por não alterar a historiografia tradicional, com seus recortes
temáticos, análises, periodizações, fontes e as constituições dos fatos
históricos já bem delimitados.
Historiadoras e pesquisadoras passaram
a questionar o saber produzido e, principalmente, a se indagarem os motivos
pelos quais as mulheres foram excluídas da história oficial. Neste
sentido, acredita-se que “o forte impacto dos movimentos de mulheres e
feministas implicou a valorização das questões relativas às mulheres, por via
da sua vertente reivindicativa e gerou um caloroso debate teórico e
epistemológico no seio das ciências sociais e humanas” (PINTO; ALVAREZ, 2014, p.9). As autoras ainda afirmam que a
chamada história das mulheres enfrentou o imperativo de reinterpretar a
sociedade, impulsionando uma história relacional e “a consciência de que as mulheres não têm todas a mesma história, ou seja,
de que as mulheres não constituem uma categoria homogênea, exigiu que a
história das mulheres se ressituasse face à diversidade, complexidade e, mesmo,
incongruência inerentes à essa pluralidade” (PINTO; ALVAREZ, 2014, p.
11).
A reinvindicação que a história
ocupasse também as análises e informações sobre as mulheres e suas histórias
trouxe à tona uma situação de ambiguidades, já que equivale a afirmar a
incompletude da história tradicional e o domínio inconcluso e parcial que as
historiadoras tinham do passado. Nesse processo, foram fundamentais as
contribuições recíprocas entre o campo de estudos das histórias das mulheres e
do movimento feminista.
Dentro deste contexto, inicialmente,
acreditou-se que “mulheres” era uma categoria de estudo homogênea, firmando a
contraposição entre homens e mulheres. Esse entendimento levou ao discurso de
identidade coletiva, no qual as mulheres “eram pessoas biologicamente femininas
que se moviam em papeis e contextos diferentes, mas cuja essência não se alterava”
(SOIHET; PEDRO, 2007, p. 287). Tensões advindas do interior dos movimentos
feministas e do campo da história das mulheres, reconfiguraram este cenário, ao
propor que as mulheres representam uma categoria de estudos múltipla e que era
necessário repensar a questão da identidade comum. A partir da década de 1970,
a perspectiva inicial de identidade única das mulheres, foi alterada por uma
visão que perpassa as múltiplas facetas que correspondem à categoria mulher,
fazendo-se necessário recortes de estudo e de análise por classe, raça, etnias,
sexualidade, entre outras. “Revelaram-se múltiplas diferenças dentro da
diferença, ou seja, entre mulheres, como entre homens, embora não se pudesse
esquecer as desigualdades e relações de poder entre os sexos” (SOIHET; PEDRO,
2007, P. 287).
A filósofa Simone de Beauvoir, em o “Segundo
Sexo”, reafirma a questão da incompletude da história, ao deixar as mulheres de
fora das questões gerais abordadas pela historiografia tradicional, uma vez
que, embora a ciência história pleiteasse um caráter universalizante dos
fenômenos históricos, na prática ignorava uma metade da humanidade, as mulheres
(BEAUVOIR, 2016). A predominância na narrativa histórica era relativa às
preocupações com o político e com o domínio público, enaltecendo os homens,
enquanto sujeitos universais, em suas empreitadas e façanhas, excluindo quase
por completo as mulheres enquanto personagens e produtoras da história
(GONÇALVES, 2006). Revelar essa prerrogativa cultural e intelectual tornou-se
subversivo e fez surgir inúmeras pesquisas sobre o sexo feminino a partir da
década de 1960, favorecendo o surgimento do campo de estudos da história das
mulheres. A história das mulheres, inicialmente construída pelas militantes
feministas, integrou-se à tentativa de acompanhar os novos questionamentos que
essa nova possibilidade acadêmica trouxe para a vida das mulheres.
A pesquisa com mulheres requer algumas abordagens peculiares, para além
da epistemologia científica tradicional. Nesse sentido, a epistemologia feminista
denuncia e alerta a supergeneralização, mostrando que os valores, as ideias, as
experiências, os objetivos e as interpretações dos grupos dominantes são apenas
as ideias concebidas e consideradas por esses grupos, não da humanidade como um
todo (CASTRO; EGGERT, 2012). Portanto,
“Foi a partir das questões de classe social, gênero, raça, etnia, entre
outras, que surgiu uma área epistemológica dedicada a compreender a forma como
o gênero influencia aquelas concepções e práticas, e como têm sistematicamente
colocado em desvantagem as mulheres e outros grupos subordinados. Por este
motivo, podemos afirmar que pesquisar mulheres, numa perspectiva feminista, é
desafiar uma lógica dominante de um mundo hierárquico patriarcal”. (CASTRO;
EGGERT, 2012, p. 235).
Parto da ideia de que o feminismo é
não somente um movimento social e reivindicatório, mas também uma postura
epistemológica e metodológica de estudos e análises. Entendo como movimento
feminista, o movimento político para libertar mulheres da supremacia masculina,
alicerçada em um sistema maior (conhecido como patriarcado) e que almeja acabar com a
opressão sobre as mulheres, enxergando o coletivo e não somente o individual. Dentro desta
perspectiva, o viés epistemológico feminista, tanto o da vida cotidiana, quanto
o da perspectiva científica, permite reler a história e propor novas abordagens
e possibilidades de análise, menos centrada nos sujeitos universais e voltadas
para olhares que percebem as diferenças. Neste sentido os currículos escolares
devem se organizar de forma a perceber as diferenças dos diversos agentes
históricos e propor seleção de conteúdos que também abranjam as mulheres e seus
processos históricos.
A palavra currículo tem
origem na palavra latina curriculum,
que significa pista de corrida. Portanto, quando mencionamos ou estudamos
currículo escolar, em uma perspectiva processual, podemos nos referir à
trajetória de formação dos alunos ao longo dos anos escolares. O currículo faz
parte de múltiplos tipos de práticas que não podem reduzir-se unicamente à
prática pedagógica de ensino. São ações ligadas à política, à supervisão, à
administração, à criação intelectual, à avaliação do processo educacional,
entre outras atividades, em que, enquanto são subsistemas em parte autônomos e
em parte interdependentes, geram forças diversas que incidem na ação pedagógica
(RICCI, 2006).
De forma simplificada, o currículo é a
organização do conhecimento e essa sistematização tornou-se necessária
tendo em vista surgimento da escolarização em massa e da necessidade de uma
padronização do conhecimento a ser lecionado. No entanto, o currículo não diz
respeito apenas a uma relação de conteúdos e saberes, mas envolve também uma
seleção interessada, relacionada a questões envolvendo o poder “tanto nas relações professor/aluno e
administrador/professor, quanto em todas as relações que permeiam o cotidiano
da escola e fora dela”
(HORNBURG e SILVA, 2007, p.1), envolvendo
também “relações de classes sociais (classe dominante/classe dominada) e
questões raciais, étnicas e de gênero, não se restringindo a uma questão de
conteúdos” (HORNBURG
e SILVA, 2007, p.1). Dentro deste contexto, o currículo não
é neutro e sempre
privilegia determinada cultura ou classe social.
O
currículo escolar é composto, na contemporaneidade, por diferentes forças que
se articulam para formá-lo, como textos, documentos curriculares, artefatos e
discursos. Sabe-se que o "currículo é sempre o resultado de uma
seleção" (SILVA, 2011, p.15) e essa seleção é o fruto de um processo que considera
os interesses particulares dos grupos dominantes. Portanto, é preciso
compreender que currículo é um processo de construção social, atravessado por
relações de poder "que fizeram e fazem com que tenhamos esta definição
determinada de currículo e não outras que fizeram e fazem com que o currículo
inclua um tipo determinado de conhecimento e não outro" (SILVA, 2002, p.
135). Segundo Tomaz Tadeu da Silva (2011), “o currículo é sempre resultado de
uma seleção: de um universo mais amplo de conhecimentos e saberes seleciona-se
aquela parte que vai construir, precisamente, o currículo” (SILVA, 2011, p.
15). Assim, discussão sobre currículo vai além de uma seleção de conhecimentos,
envolve sim, uma operação de poder.
Então, de forma geral, o currículo é “um espaço de lutas
e disputas constantes, no qual os diferentes grupos sociais tentam imprimir
suas verdades, divulgar seus conhecimentos e produzir determinados
significados” (SILVA, 2011, p. 34). Portanto, “a questão central que serve de
pano de fundo para qualquer teoria do currículo é a de saber qual conhecimento
deve ser ensinado” (SILVA, 2011, p.14). Essa afirmação pode ajudar a responder
se o conhecimento feminino, se a história relativa às mulheres encontra-se nos
documentos curriculares.
O
currículo também é um documento de identidade (SILVA, 2011, p.16), podendo
atuar na construção e na reconstrução de identidades. O currículo, então, é um
dos espaços onde ocorrem as lutas e os conflitos culturais e identitários,
entendido como “um local em que a política da diferença e da identidade é
vivida em toda a sua intensidade; um espaço em que as culturas são apresentadas
e os diferentes grupos sociais e culturais são nomeados e significados”
(PARAISO, 2004, p. 54). Nesse sentido, o currículo é entendido como uma prática
cultural e uma prática de criação e divulgação de significados, além de ser um
espaço de representações dos diversos grupos sociais e culturais (PARAISO,
2004).
Então,
se currículo é um processo de construção sociocultural, fortemente influenciado
pelas relações de poder que envolve toda a rede social, logo, ao selecionarmos
os conhecimentos que farão parte de determinado currículo, estamos procedendo a
escolhas que refletem nossa própria constituição, nossa identidade e que
respondem aos nossos próprios interesses. Essas escolhas serão decorrentes do
tipo de sujeito que queremos formar. Assim, não existe currículo neutro, ele
sempre é carregado de intencionalidades. Portanto, o currículo constitui os
sujeitos é também é constituído por eles e o não pode ser visto simplesmente
como um espaço de transmissão de conhecimentos.
Dentro
deste contexto, as indagações propostas ao currículo não se limitam a perguntar
"o quê?" deve ser ensinado e "como?" deve ser ensinado, mas
principalmente "por quê?" um determinado conhecimento deve ser
ensinado. O que levou a opção por este e não por outro conhecimento? Quais são
os interesses que estão em jogo? Então, o currículo, a partir das diretrizes
nacionais, é definido nas instituições educativas e escolas, construído a
muitas mãos, a partir de várias histórias de vida que fazem parte desse
cotidiano. As concepções, saberes, conteúdos e as metodologias não fazem
sentido se desconectadas daquele contexto (AGUIAR, 2018, p. 17).
Na prática pedagógica cotidiana,
percebe-se que o passado histórico das mulheres não tem sido, usualmente,
estudado no sistema educacional do Brasil e a escola, enquanto
instituição formadora de cidadãos e cidadãs, de modo geral, também não tem se
dedicado ao estudo das mulheres em seu passado e em questões sociais emergentes
relativas às mulheres. Percebemos que os currículos escolares e os
planejamentos anuais dos/as professores/as de história não trazem,
sistematicamente, a temática ligada à história das mulheres e, quando
mencionam, focam nas histórias das mulheres de forma superficial e/ou exaltando
algumas poucas personagens históricas com visibilidade, como, por exemplo,
Joana d’Arc, na história francesa e Chica da Silva, em Minas Gerais.
Então, a pergunta relativa aos interesses que estão em jogo de
não se ensinar história das mulheres nos currículos surge de forma latente. Acredito
que dentro de uma sociedade machista e sexista, não é interessante ensinar
protagonismo feminino e a mulher como a gente histórico influente socialmente
e, muitas vezes, autônoma. Faz-se necessário mudar essas perspectivas e propor
currículos escolares que se adequem às mais diversas realidades de uma
sociedade pluralista como a brasileira. Dentro desta ideia, as mulheres e suas
ações ao longo da história não podem mais serem invisibilizadas e devem ser
estudadas, analisadas e contempladas nos mais diversos currículos que regem o
Ensino Básico no Brasil.
Referências
Carolina Giovannetti é
historiadora e professora de história da rede pública de Minas Gerais; mestranda
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Antes de tudo, parabéns pela oportuna reflexão e pelas referências incríveis utilizadas na construção desse texto. Gostaria de perguntar sobre estratégias. De que modo podemos utilizar a noção de currículo oculto (que é esse currículo não contabilizado pela burocracia) para inserirmos narrativas sobre a história das mulheres? Sei que temos que lutar pela inclusão de uma nova perspectiva historiográfica, mas acredito que todas as brechas desse currículo ainda masculino e eurocêntrico devem ser aproveitadas tanto do ponto de vista político quanto pedagógico. Gostaria que falasse um pouco mais a respeito disso. Obrigada!
ResponderExcluirJeane Carla Oliveira de Melo.
ExcluirCara Jeane. Agradeço pelo importante questionamento que nos faz refletir ainda mais na pesquisa sobre história das mulheres e currículos. Interessante reflexão advém do entendimento que o currículo é um espaço em constante construção, reflexão e de disputas. O currículo se faz todos os dias nas salas de aula e penso que uma das estratégias possíveis é a inserção das histórias das mulheres no cotidiano escolar, no dia a dia do processo de ensino e aprendizagem de história, propondo projetos interdisciplinares e incentivando trabalhos de pesquisas com a temática história das mulheres. Creio que a educação é um processo de libertação e que as professoras têm autonomia e legitimidade para incentivar e inserir essa temática em suas aulas. Desde os primeiros anos do ensino básico podemos incentivar as alunas a pesquisarem sobre as histórias de suas ancestrais, sobre as histórias de mulheres que fizeram parte das construções sociais e culturais dos processos históricos, mas foram invisibilizadas pelo sistema. Só penso que o currículo dito oculto, que estabelece uma rede de suposições visando determinar regras sobre a conduta das docentes, estipulando valores e criando normas sociais, está mais nítido do que se parece no ambiente escolar.
Carolina Giovannetti
boa tarde querida, parabéns pela interessante pesquisa. De que forma você vem observando que a História das mulheres tem ganhado ou não o protagonismo nos livros didáticos no currículo escolar no século XXI.
ResponderExcluirBoa tarde Raynara. Com a emergência de uma "primavera feminista" e de inúmeros debates sobre as temáticas relativas às mulheres, as discussões sobre as histórias das mulheres estão extremamente latentes nos campos de pesquisa histórico e educacional. Historiadoras tem promovido interessantes reflexões sobre a temática, mas, infelizmente, esse debate ainda não gerou mudanças nos currículos oficiais e, consequentemente, nos livros didáticos. O currículo, como dito, é um campo de disputas e ainda há muito o que se fazer para inserção das mulheres enquanto protagonistas nos currículos escolares. Penso que uma possibilidade interessante é pressionar através das “margens”, propor debates nas salas de aulas, questionar os saberes tradicionalmente constituídos e problematizar novas abordagens históricas.
ExcluirCarolina Giovannetti
Olá Carolina.
ResponderExcluirEm seu texto, o início dos estudos acerca da "história das mulheres" está intrinsecamente ligado aos "movimentos feministas" que emergem na segunda metade do século XX, movimentos estes liderados por mulheres cultas, instruídas, que defendiam a categoria "mulher" como uma categoria essencialista. Como você vê essa relação, já que me parece que a intensão do seu trabalho é discutir a mulher enquanto categoria "gênero", ou seja, no sentido das relações sócio culturais construídas entre homens e mulheres ao longo da história?
Danila Gomes Corrêa
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ResponderExcluirCarolina, vou tomar a liberdade de fazer mais um questionamento com relação ao seu texto, agora quanto a presença da figura feminina nos currículos escolares.
ResponderExcluirComo você pensa a inserção da mulher no currículo de História, já que temos abordagens nos livros didáticos de nomes como Anita Garibaldi, Joana D'arc, Princesa Isabel, porém que, em minha opinião, são abordagens tão seletistas quanto a dos "grandes homens" e seus "grandes feitos".
Abraço,
Danila Gomes Corrêa.
Excelente questionamento Danila. Realmente, não adianta propormos uma história das mulheres que foque apenas em um tipo específico de mulheres: brancas, ricas, letradas. Penso que é importante considerar a interseccionalidade como instrumental de análise e propor novas abordagens de pesquisa e estudo. Por exemplo, no âmbito da sala de aula, sugerir aos alunos pesquisas da história das mulheres de suas famílias, do seu bairro ou de sua cidade: Conhecer as mulheres silenciadas pela história.
ExcluirCarolina Giovannetti
Parabéns pela reflexão apresentada no seu texto.
ResponderExcluirConsiderando que a maioria dos textos e estudos sobre currículo que temos contato, principalmente na graduação, são de autoria de homens, gostaria que sugerisse, se possível, nomes de autoras que estudam e problematizam o currículo escolar.
Leitora: Bruna da Silva Cardoso
Obrigada pela pergunta. Sugiro as pesquisadoras Shirlei Sales e Marlucy Paraíso.
ExcluirCarolina Giovannetti
Referências e conteúdos de extrema necessidade a ser abordadas, agradeço pelo debate enriquecedor. Ademais é vigente a necessidade de uma nova abordagem da temática, socialmente e isto incluso educacionalmente nas instituições pedagógicas, sobre a historiografia da mulher, eis que surge minha pergunta. Para educadores, buscarem trazer palestras de conscientização da causa feminina, mostrando a necessidade de sua existência e em contra partida, em sala de aula aplicar trabalhos sobre pesquisa dos feitos das mulheres no seio familiar de cada aluno e personagens femininas de grande destaque seja de cargos políticos á grandes invenções, seria um inicio adequado para conscientizar e alertar homens e mulheres, sobre a empatia diante da causa feminina?
ResponderExcluirATT,
Danielle Neri Marinho.
Obrigada pelo questionamento, Danielle. Creio que seja um bom começo. Mas temos muitos enfrentamentos no que tange à inserção da história das mulheres nos currículos escolares: sociedade patriarcal, curriculos engessados, estrutura escolar arcaica... penso que uma boa iniciativa seria inserir a história das mulheres no cotidiano escolar, propondo pesquisas que estimulem o olhar para epistemologia feminista e para a história das mulheres.
ExcluirGostei muito da sua temática. Parabéns pela riqueza de fontes. Eu me interessei pelo seu texto pois na minha graduação estudei sobre a História das mulheres e quero continuar estudando e fazendo trabalhos sobre o tema. Percebo que nos livros didáticos ainda pouco se fala sobre as mulheres. Você acha que as mulheres estão sendo inseridas nos livros didáticos como protagonistas? E o porque ainda dessa resistência? Obrigada. Cássia Keline Lacerda Silva
ResponderExcluirObrigada pela pergunta. Creio que ainda há muito trabalho a fazer nesse sentido. As histórias das mulheres ainda são consideradas adendos aos grandes eventos históricos. Penso que a resistência surge, principalmente, porque estamos inseridos em uma sociedade patriarcal e as mulheres ainda são vistas como subalternas.
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