Tiago Tormes Souza


A ESCOLA FASCISTA: A FILOSOFIA IRRACIONALISTA INSTITUCIONALIZADA


Este trabalho tem como objetivo apresentar a escola no Terceiro Reich como uma reação a escola liberal e o racionalismo, além da institucionalização da filosofia irracionalista, usando a psicologia das massas como uma teoria para a hierarquia patriarcal  estar presente na ideologia nazista na escola.

O Surgimento da ideologia fascista

O fim da Grande Guerra trouxe a alteração da geopolítica mundial, a dissolução do Império Alemão, da Rússia Tsarista - enterrada com a Revolução Bolchevique de 1917, do Império Otomano e do Império Austro-Húngaro. Alterando o mapa europeu com novos Estados-Nação independentes com conflitos de razão cultural.

O lado vencedor também viu seu prestígio se esfacelar com o término do conflito mundial. A França prendeu-se em um revanchismo contra o Estado alemão e sua indústria destruída.
O Império Britânico manteve-se, afundado em dívidas e sem condições de controlar seu império global, principalmente na Índia e no continente africano.

Os Estados Unidos foi um dos poucos países beligerantes a se manter relativamente estável, entrando no conflito apenas em 1917. Com superprodução e sendo o credor dos países europeus, proporcionou um boom econômico e o despontou como a nova grande potência ocidental.

Nos principais países industriais da Europa, a população se encontrou amargurada e desolada. O esforço da guerra total, a morte de seus familiares e conhecidos e os “caras-quebradas”  que inundaram as cidades trouxeram a radicalização e o ódio de diversas camadas sociais contra o os governos que os conduziram ao massacre.

Na República de Weimar a situação foi mais crítica, o orgulho do militarismo prussiano, as sanções impostas pelo Tratado de Versailles e a hiperinflação radicalizaram o pensamento da população alemã.

O Partido Comunista Alemão (KPD) teve o maior número de votos em sua história, “em 1920 o partido ocupara apenas 4 lugares no Reichstag, já, em maio de 1924 [...] o partido conseguiu ocupar 62 cadeiras no parlamento” [in Ferraz, 2009, p.95]
Em 1932 conseguiu 100 cadeiras no Reichtag, mas não conseguiu convencer uma parcela da população, a classe média baixa.

Uma nova força política surgia na Alemanha, o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, inspirado pelo Partido Fascista de Benito Mussolini na Itália e pela filosofia irracionalista.

O fascismo tornou-se a principal ideologia da classe média baixa do campo e das cidades, o que possibilitou a vitória de Adolf Hitler nas eleições de 1933 e posteriormente, se tornar o Führer.

A Ideologia e a massificação da Classe Média

Ideologia é um conjunto de pensamentos e crenças da sociedade e de seus  indivíduos. Ela se altera de acordo com a localidade e com o tempo, mas sempre retém elementos mais arcaicos. Então, o Estado busca a hegemonia dessa ideologia para manter sua coesão e poder através de seus Aparelhos Ideológicos, Porém, cada um deles acaba sendo relativamente independente e têm seus próprios interesses, mesmo que o objetivo desses aparelhos seja a manutenção da ideologia hegemônica. Como a igreja e a escola que acabam por conflitar pelas questões seculares e religiosas nas escolas.

A classe média baixa insere-se em dois contextos distintos no campo e na cidade, mas partilham de semelhanças que os levaram a uma polarização política, voltada principalmente para a extrema-direita. Pois havia o medo da proletarização e a influência da ideologia patriarcal judaico-cristã.

A religião tem um grande controle sobre os aspectos psíquicos das famílias que a circundam, o controle sexual e a moral são derivadas dessa aproximação da família com a Igreja. O patriarca é extremamente místico e moralista, exercendo coerção sobre a sua mulher e seus filhos. A violência e a hierarquia patriarcal garantem seu controle sobre o seu núcleo familiar, causando grande repressão sexual e uma aversão a qualquer idéia considerada “liberal” ou “socialista”, pois ela vai contra as suas ideologias tanto religiosas quanto políticas, causando um desconforto, pois sua situação como o chefe da família está comprometida.

A ciência, principalmente aquela apresentada aos seus filhos na escola laica, é vista com desconfiança e medo, sendo considerada uma deturpação dos dogmas cristãos e um atentado a sua legitimidade.

A crise econômica agrava o seu medo, pois além de estar sujeito à intervenção das políticas de Estado em sua família, a crise econômica, esta causada pelas próprias políticas dos governos liberais, pode o levar a sua proletarização e a perda de seu lugar na hierarquia social e o status de sua família.  Nessa situação extrema ele se radicaliza, mas não é um revolucionário e também não é um reacionário, como explica Reich:

“o trabalhador médio tem em si uma contradição; que ele não é nem nitidamente revolucionário nem nitidamente conservador, mas está dividido. Sua estrutura psíquica resulta, por um lado, da situação social (que prepara o terreno para atitudes revolucionárias) e, por outro, da atmosfera geral da sociedade autoritária — dois fatores que não se irmanam” [in Reich, 1988, p.39]

Os fascistas não se apresentaram como revolucionários em suas campanhas e também não se apresentaram como favoráveis ao grande sistema econômico. Construíram um discurso em que o seu governo não repetiria as barbáries do governo soviético e não seguiriam os planos dos governos imperialistas que conduziram à Grande Guerra.

A educação liberal:

A educação pública surge como uma forma de preparar tecnicamente os trabalhadores para o trabalho nas fábricas. Além disso, de constituir uma ideologia aliada aos preceitos democráticos do Estado burguês emergidos com a Revolução Francesa.

Caberia, ao mesmo tempo, ao Estado, dividindo com a família e a Igreja, a educação de seus cidadãos. De acordo com Durkheim é papel do Estado educar suas crianças e combater os pensamentos retrógrados baseados na religião e família pois são reacionários e:

“ousam negar aberta e diretamente: o respeito pela razão, pela ciência, pelas ideais e sentimentos que constituem a base da moral democrática” [in Durkheim, 2010, p.48]

A educação seria a coluna que sustenta a ideologia burguesa, formando seus cidadãos na ideologia liberal e mantendo a legitimidade do Estado-Nação.

Na escola pública, o misticismo da religião foi abolido. A hierarquização derivado do patriarcalismo, em partes, deixaria de existir no espaço escolar. Todos os alunos são iguais, abaixo apenas do professor e da administração da escola, os valores isonômicos deveriam imperar frente a autoridade paterna da violência, sem diálogo e baseando-se no misticismo e na repressão sexual.

O misticismo é abandonado das escolas, mesmo havendo o ensino religioso, a ciência passa a ser o norte de toda a educação pública laica. A gramática, história, filosofia, matemática, física e química são os alicerces de uma nova sociedade baseada no progresso da indústria, moral democrática e da razão.

A ascensão do fascismo ao governo trouxe um combate ao pensamento e ideologias racionalistas que se estenderam ao sistema educacional. Uma nova forma de educar os jovens para o novo nacionalismo que tomava a Europa.

A escola fascista e irracionalista

A chegada ao poder do Nacional Socialismo trouxe um novo modelo político e uma nova ideologia à Alemanha. Para que seus objetivos totalitários alcançassem a população de forma efetiva, seria necessário coagir as massas com uma nova hegemonia ideológica, que substituísse as ideologias liberais e socialistas.

Houve uma reforma educacional em todos os níveis em que todos os professores deveriam pertencer ao Partido Nacional-Socialista e serem favoráveis ao Reich.

As disciplinas ministradas foram radicalmente alteradas e foram renomeadas como: “Química Alemã”, “Matemática Alemã”, “História Alemã” e etc.  A educação física foi posta como uma das principais disciplinas, tanto professores quanto alunos deveriam estar sempre exercitando-se com o objetivo de construir o corpo ariano ideal e prepará-lo para a vida militar.

As ciências foram tomadas pelo irracionalismo nazista com conteúdos totalmente alterados para justificar a ideologia nacional-socialista e sem nenhum compromisso com o método científico e a razão iluminista.  O Führer era contrário aos professores racionalistas e a pedagogia, pois considerava que a educação afastava os alunos daquilo que realmente importava, a defesa da nação alemã.

O irracionalismo é um ramo da filosofia que tomou força no final do século XIX, tendo suas maiores influências em  Nietzsche e Kierkegaard, sendo um ecletismo entre esses filósofos nihilistas e revisionistas marxistas, tornando-se uma filosofia reacionária que tenta destruir a ideologia burguesa e socialista junto com o intelectualismo e o racionalismo. Fazendo o imediatismo sua grande proposta como explica Belli:

“Ao invés de compreender a racionalidade como uma realização abstrata que visa superar os limites da observação imediata da realidade, o irracionalismo considera a racionalidade como a própria observação direta” [in Belli, 2017, p.16]

A escola nazista deixa de ser uma instituição racionalista baseada na ciência e passa a ser uma instituição irracionalista arraigada na hierarquia militar e sua estrutura de massa artificial, que para Freud: “certa coação externa é empregada para evitar sua dissolução e impedir mudanças em sua estrutura.” [in Freud, 2011, p.46]

Um movimento de massas necessita de estímulos para continuar existindo, no fascismo a presença de um líder e uma estrutura  hierárquica são extremamente importantes para a continuidade da ilusão e consequentemente da massa.

A massa respeita a força e a violência da autoridade, buscando no líder uma segurança que não existiria fora da massa, obviamente, essa segurança é apenas uma ilusão construída que contagiam outros indivíduos.

A institucionalização desse pensamento na escola - a propaganda fora do ambiente escolar sendo um grande catalisador , fortalecem a massa, transformando os elementos violentos e de massa primitiva em valores morais.

O combate à razão e ao indivíduo são implementados na escola, nenhum cidadão estaria fora do coletivismo da nação alemã e todas as suas disciplinas estavam ligadas ao Estado-Nação e seus cidadãos. Uma educação reacionária que  busca construir uma realidade semelhante àquela anterior ao iluminismo e a Revolução Francesa, mesmo que  de forma essencialmente idealizada.

“Por não concordar com as novas bases instauradas, e ainda discordando das antigas, é proposta uma nova modalidade de entendimento do mundo baseada na irrazão; uma forma de conhecimento negadora da crítica científica e assentada de maneira bastante curiosa numa forma de saber imediatista, próxima a do senso-comum. “ [in Belli, 2017, p.49]

Esse imediatismo leva o ensino como um meio para atingir a finalidade militar, formar soldados e trabalhadores, pois seria  necessário para uma expansão territorial baseada na ideia de “espaço vital” do Reich. A reflexão e a crítica científica seriam inúteis para isso, já que a guerra não demandaria isso dos jovens, apenas o aperfeiçoamento técnico demandado pelas operações em campo.

O jovem seria preparado para obedecer aos seus superiores. A autoridade e o respeito pelo docente seriam essenciais para formar um grande exército alemão que responderia mais agilmente as ordens.

Alicerçada em uma estrutura paramilitar, a educação nazista traz consigo a estrutura libidinal do exército em que “o general é o pai, que ama igualmente todos os seus soldados, e por isso eles são camaradas entre si.”

Como liderança, o Füher assumia o papel arquetípico  de pai, seus eleitores, ou melhor, o patriarca e a esposa da família nuclear alemã assumem o papel arquetípico da grande-mãe,, obedecendo a uma estrutura hierárquica construída pela cultura tornando-se os intermediários entre o füher e seus “filhos”, os jovens a serem educados na escola e futuramente à Wehrmacht.

A educação familiar é baseada no medo e no recalcamento sexual das gerações mais jovens, usando da violência (forma coercitiva) e ideológica (forma coesiva) como a religião, a moral e a autoridade paterna. A educação totalitária assume então o papel patriarcal da família, assumindo sua estrutura coesiva.

O professor como membro interino do Partido Nacional-Socialista está subordinado diretamente ao Führer, o professor seria o mais próximo que o jovem na escola poderia estar dele, constituindo uma relação libidinosa entre o “pai” e o “filho”.

Esse indivíduo durante toda a sua vida estaria ligada a uma relação patriarcal de subordinação, primeiramente subordinado ao seu pai, depois aos professores e por fim ao seu superior na Wehrmacht e reproduzir isso a geração seguinte. Mas em todas essas fases o Führer estaria como um ser onipresente, governando sua ideologia e psique.

Conclusão

Movida pelo irracionalismo, a educação do Terceiro Reich tornou-se um Aparelho Ideológico do fascismo. Combatendo o racionalismo, essa educação buscava formar o novo exército alemão e a manutenção do Governo Nacional-Socialista.

As reformas educacionais realizadas  pelo governo demonstraram a força do totalitarismo e sua expansão, trazendo uma hegemonia ideológica e um monopólio do poder sem escala, controlando a psique da população em sua vidas públicas e privadas.

Envolvidos pela massa, essa população foi facilmente manipulada e tornou-se extremamente crédula no Führer e violenta com seus opositores.
Fazendo uma idealização da guerra e da sociedade patriarcal.

Referências

Tiago Tormes Souza é graduando em História/Licenciatura pela FURG

BELLI, Rodrigo Bischoff. O Irracionalismo como Ideologia do Capital: Análise de suas expressões ideológicas fascista e pós-modernista. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Filosofia e Ciências: Marília, 2017.

DURKHEIM. Émile. Educação e Sociologia: São Paulo. Hedra, 2010

FERRAZ. João Grinspum. Ordem e Revolução na república de Weimar. Dissertação (Mestrado em Ciência Política) - Universidade de São Paulo( USP), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas: São Paulo, 2009

FREUD,Sigmund. Psicologia das Massas e análise do eu e outros textos (1920-1923). São Paulo: Companhia das Letras, 2011

REICH,Wilhelm. Psicologia das Massas do Fascismo. São Paulo: Martins Fontes, 1988

17 comentários:

  1. Você considera que hoje o modelo liberal tem, em certa medida, se fundido com o modelo fascista irracionalista de educação, mas não dentro das escolas e sim na internet? Vejo que a escola, especialmente a pública, ainda consegue ser um reduto de resistência tanto à pedagogia liberal (ainda que não totalmente, por uma série de razões) quanto ao modelo fascista, mas que isso não está dando conta de criar jovens conscientes o bastante para perceberem as transformações perigosas que nossa sociedade tem vivido.
    --Ingrid Requi Jakubiak

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    1. Olá Ingrid!
      Bem, quando é apontado o modelo irracionalista é dentro da própria escola, a educação liberal e a fascista/irracionalista são contraditórios e antagonistas. Existe então uma supressão do modelo liberal pelo governo totalitário para implantar seu próprio modelo.
      Mas você está corretíssima quanto a internet, ela proporciona uma larga difusão de idéias extremistas e que não usam da racionalidade do receptor dessas informações, apenas os seus sentimentos, principalmente o de revolta e medo.
      Os meios de comunicação de massa, infelizmente, têm essa característica e acabam sendo um difusor de pensamentos extremistas.
      A escola pública hoje, é um local seguro (claro, existem suas exceções) para um debate racional e sadio com os jovens e de fato, a escola é um reduto de resistência, não necessariamente de um modelo liberal/burgues de educação, mas sim da pluralidade de ideias garantidas pela Constituição.

      Tiago Tormes Souza

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  2. Tiago Tormes de souza, parabéns pelo trabalho. A educação, quando crítica ao sistema vigente, se torna um perigo para as classes dominantes. E para justificar esse "perigo", criam-se instrumentos psicologicos para que tenham apoio da massa. Sofremos a ameaça do EScola SEm Partido, onde dizem que os alunos estão sendo doutrinados com ideias comunistas. Qual a sua avaliação sobre o revisionismo em alguns conceitos politicos, por exemplo, representantes do governo brasileiro, afirmam que o nazismo foi de esquerda. Como você vê esse ataque à educação? Caso tenha alguma imformação da educação alemã antes de Hitler, pode falar qual(s) foram/ foi a(s) mudança(s).

    Joseilton Soares Mendes.

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    2. O "revisionismo" é de fato terrível para a sociedade como um todo, pois não é um debate filosófico ou cientifico e sim uma propaganda para mobilizar massas.
      Quando é dito que "o nazismo é de esquerda" não é pensado teorias e métodos. É apenas usado um discurso oriundo da Guerra Fria de um "perigo vermelho", que cabia naquele momento histórico em que o foco era a URSS, então você associa o repudio ao socialismo soviético com uma ideologia repudiada em todo o mundo, o nazismo.
      O comunismo é o mal, se o nazismo é o mal ele deve ser comunista e ele pode ser reciclado para qualquer coisa que seja vista como um "inimigo", é um pensamento que envolve questões sentimentais e não racionais.
      É muito triste a situação que estamos vivendo, pois não existe um debate, o "revisionismo" que a política atual está propondo é um emaranhado de mentiras e propaganda para mobilizar a população aos interesses do governo.

      Tiago Tormes Souza

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  4. Boa noite!

    Tiago Tormes parabéns pelo seu trabalho, essa relação da escola com o fascismo no Terceiro Reich para muitos é vista como uma forma clara de base ideológica praticada pelos nazistas a fim de doutrinar os jovens alemães. Na escola contemporânea, onde muitos professores assumem posturas de direta e de esquerda ou outras posições políticas muitas vezes até dentro das salas de aula, isso fluiria como uma espécie de doutrinação partidária ou simplesmente se trata de uma livre expressão "política"?

    Bruno Cena Macedo

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    2. A escola brasileira preza pelo pluralismo de idéias e ela é necessária para vivermos em uma democracia saudável. Não existe uma "doutrinação partidária", cada professor tem o direito de assumir suas posições ideológicas desde que não façam campanhas políticas e nem persiga posicionamentos protegidas pela Constituição.
      Agora, projetos como "Escola Sem Partido" e derivados, são um ataque ao pluralismo de ideias, pois defendem o fim de uma "ideologia" nas escolas, mas entram em contradição, pois o próprio projeto é ideológico. O que se combate não é uma "doutrinação esquerdista", mas o debate de ideias e posicionamentos, buscando então uma hegemonia ideológica brutal, pois impossibilitaria qualquer tipo de debate mediante a coerção.

      Tiago Tormes Souza

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  5. Olá, tudo bem ? Você acredita que o Brasil em um futuro próximo está se encaminhando para uma adoção em geral do irracionalismo na sociedade,escola e trabalho?. Fico em dúvida se esse modelo seria recepcionado abertamente pela população fora dos polos extremos da política atual. Será que a reforma do ensino médio colaboraria para esse irracionalismo ja que as matérias de sociologia,filosofia e história ficariam fora da grade curricular obrigatória e Quais sao as formas de combater essa irracionalismo dentro das escolas ?

    Fernando Tiago Souza Leal

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    1. Olá, estou bem e obrigado.
      Bem, na conjuntura atual acredito que dificilmente um modelo desse tipo seja posto nas escolas e em outras áreas da sociedade. Mas não deixa de ser preocupante a difusão de mentiras e "teorias da conspiração" em larga escala, além da visibilidade de grupos que defendem essas idéias.
      Para o combate dessas idéias a escola ainda é um grande foco de resistência a qualquer medida que possa ser imposta, mas seria necessária uma mobilização maior da sociedade e que ela consiga reconhecer o grande mal que esse extremismo possa trazer ao Brasil.
      A sociedade precisa reconhecer a importância da educação para a liberdade e manutenção da democracia.

      Tiago Tormes Souza

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  6. A classe média alemã era bem mais rural do que a classe média brasileira da atualidade.Na Alemanha foi a classe média baixa o principal fiador do fascismo,aliada aos banqueiros e industriais.No Brasil vemos que,além da classe média baixa(urbana e creio que muito menos politizada que a alemã da época),também a classe média alta junto com um "lumpen" ignorante aliou-se às elites econômicas para fazer triunfar nas urnas uma direita autoritária e arrogante em 2018.Na Alemanha havia a ameaça real do movimento comunista,ao passo que aqui vivíamos já sob um governo de centro-direita neoliberal.Então como poderíamos explicar estes dois comportamentos de ambas as classes médias(alemã e brasileira) frente a situações politicas tão diferentes nos dois momentos históricos em que optaram por governos fascistas? A classe média,exceto em curtos períodos históricos,tende sempre para o conservadorismo extremado?
    Paulo Roberto Martins,Xangri-Lá/RS

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    2. Sim, isso é algo bem difícil de se pensar, pois a classe média, principalmente a baixa, está entre movimentos conservadores e revolucionários.
      Todos nós estamos envoltos pelos costumes e ideologias burguesas, as roupas que vestimos, a música e cinema que consumimos e etc, são parte dessa ideologia hegemônica burguesa.
      Em momentos de crise a população quer manter seus costumes e sua situação econômica, um partido que promete manter esse status e ainda trazer melhorias baseadas em um passado idealizado, acabam trazendo mais seguidores, mas claro, eles não são necessariamente fascistas ou reacionários, apenas são envolvidos pela massa.
      O caso brasileiro é parecido, uma crise econômica, um "inimigo" inventado, a idealização de um passado melhor (no caso brasileiro a Ditadura Militar) e o medo da proletarização fazem com que a classe média opte por ideologias reacionárias, mesmo que não se identifiquem totalmente.

      Tiago Tormes Souza

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  7. Olá Tiago Tormes Souza, ótimo ensaio, sendo necessário em "tempos sombrios" como o nosso. Aliás, esta última expressão, 'tempos sombrios', foi cunhada pela filosofa judaico-alemã Hannah Arendt que em suas considerações na década de 1940, afirmava no artigo "Abordagens do problema alemão" (1945) para a revista norte-americana Partisan Review, que "o nazismo não deve nada a nenhuma parcela da tradição ocidental, seja alemã ou não, católica ou protestante, cristã grega ou romana. Podemos gostar ou não de Tomás de Aquino, Maquiavel, Lutero, Kant, Hegel ou Nietzsche (...) mas eles não têm a menor responsabilidade pelo o que está ocorrendo nos campos de extermínio". Embora, o foco da estrutura do seu texto esteja voltado para o ensino durante o III Reich, as considerações de Arendt em 1945, fazem alusão direta ao seu tema. Ora, se houve uma perspectiva irracionalista, não foi a filosofia de Nietzsche ou de Kierkegaard que instrumentalizaram o nazismo, ou seja, conforme Nobert Elias afirmou no livro Os Alemães, o nazismo seria fruto de um romantismo fundado em um ódio irracionalista, mas não em filosofias irracionalistas. Dito isso, gostaria de contribuir com elementos para um aprofundamento no seu texto com duas perguntas: O uso da compreensão de Freud é necessária para compreender a educação no III Reich? Por fim, o termo irracionalismo, atribuído a Nietzsche e Kierkegaard,foram base para qual ideólogo ou ideólogos, passim, ideia ou ideias da ideologia nazista?
    Álvaro Ribeiro Regiani

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    1. Muito obrigado Álvaro.
      Arendt está correta, não podemos, conceber que o passado ocidental teve alguma responsabilidade pela violência nazista. Se pudêssemos pensar em algo, seria ações contra a população do Congo Belga e a administração dos governos durante a Grande Guerra que levaram suas populações ao massacre indiscriminado.
      Claro, Nietzsche ou Kierkegaard não eram nazistas e seus escritos não foram diretamente responsáveis pelo aparelhamento ideológico do Reich. Mas seus conceitos mais famosos acabaram sendo distorcidos e utilizados pelos reacionários, como a "vontade de poder" ou o "além-homem".
      Quanto o Norbert Elias, discordo um pouco. Existia sim um ódio irracionalista no nazi-fascismo, mas em seu estágio de formação de massas, propaganda e propagação da ideologia nazista. Um governo não conseguiria se manter apenas com isso, precisaria de planejamento e ação, nisso a filosofia irracionalista seria uma base, pois levaria a soluções rápidas e fortes, expansionismo e desinteresse pelo pelo debate.
      Sou completamente contra a associação de que Nietzsche seria um pai do pensamento nazista, pois teríamos que considerar os românticos alemães e Marx como nazistas, isso não procede de forma nenhuma. O que ocorreu foi um ecletismo de ideias "combativas" que serviram para o surgimento de uma ação fascista.
      Não acho que Freud seria totalmente necessário para compreender o III Reich, mas deveríamos fazer um dialogo maior com a psicologia para compreender os movimentos totalitários e a formação do mesmo, isso nos ajudaria muito no presente.
      Espero que eu tenha conseguido responder com clareza, muito obrigado.

      Tiago Tormes Souza

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